Os Oscars não têm nada a ver com o espírito "justiceiro" que passou a imperar no futebol... Esta crónica foi lida aos microfones da Antena 1 (na manhã do dia 3 de Março).
Não creio que os Oscars tenham, ou devam ter, uma leitura de justiça e injustiça.
São os comentadores de futebol que vêem uma bola entrar aos solavancos numa baliza e fazem grandes discursos morais sobre a “justiça” ou a “injustiça” dos resultados.
Ora, os Oscars não são um tribunal. São, isso sim, o reflexo das ideias e sensibilidades, por certo das cumplicidades, mas também das contradições, de seis mil pessoas que trabalham na mais poderosa indústria audiovisual do planeta.
Nesse sentido, eu diria que consagraram Gravidade com sete Oscars porque o filme reflecte a sofisticação técnica da sua indústria, ao mesmo tempo mostrando que os seus recursos podem estar ao serviço, não apenas de aventuras de super-heróis, mas de histórias com gente viva, de carne e osso.
E distinguiram 12 Anos Escravo com o prémio de melhor filme de 2013 porque o cinema é também uma arte de memórias, de não deixar cair no esquecimento o passado e as suas lições políticas e morais.
Não sei se o cinema fica melhor ou fica pior por causa destes Oscars. Mas não tenho dúvidas em dizer que o mundo fica um pouco melhor enquanto existirem filmes como 12 Anos Escravo.