segunda-feira, março 03, 2014

Óscares 2014:
'Gravidade', os outros, a 'selfie' e as pizzas

A ficção científica terá mesmo de criar uma situação de... ficção científica, para um dia ver a Academia reconhecer o género com uma estatueta na categoria de Melhor Filme. Gravidade, de Alfonso Cuarón, colheu sete Óscares esta noite (incluindo o de realização), mas na hora de fechar a gala, o Melhor Filme acabou por ser 12 Anos Escravo, de Steve McQueen. Nada de grave, ambos são magníficos. Mas mesmo sem ser 2001: Odisseia no Espaço (que em 1968 só venceu nos Efeitos Visuais, imagine-se), Gravidade inscreveu já um marco na história do género com um filme que, tal como a obra-prima de Kubrick, usa os efeitos para servir história e imagem e não o contrário, que é regra que faz das muitas produções que vão chegando neste departamento uma verdadeira chuva de logros. Os sete Óscares já sublinham o estatuto do filme. E note-se que esta coisa de dar Realizador a um e Filme a outro começa ser tendência salomónica a ganhar raiz pelos lados de Hollywood.

Mesmo com uma Ellen DeGeneres com alguns instantes de piada e com episódios que souberam mostrar que o cinema não começou em 2013, a cerimónia foi maçadora. Os discursos de aceitação foram mornos (destacaram-se Jared Leto – que falou mesmo no momento que de vive na Ucrânia e na Venezuela -, Cate Blanchett e Lupita Nyong’o) e além do palmarés pouco mais aconteceu, tanto que muito do discurso sobre a cerimónia deste ano corre o risco de acabar reduzido a uma selfie que bateu recordes (ou, como se pode pensar, a Academia a tentar mostrar que sabe ser "moderna") e a umas pizzas que a apresentadora de facto encomendou (ou a produção tratou disso) e distribuiu entre os que se sentavam nas cadeiras da frente... Sabor a pouca coisa com tanto que ali estava em jogo e tanto que ali se podia ter dito.


Mau mesmo foi a forma como, no dia da notícia da morte de Alain Resnais, a produção da cerimónia não tem golpe de asa para o incluiu nem no segmento ‘In Memoriam’ nem mesmo no discurso de quem o apresentou. Ali só se vem para cá de Ellis Island quando se destaca o filme em língua estrangeira ou pontuais brilharetes com passaporte diferente...

Posto isto, o saldo: poucas surpresas. Dos nomeados para Melhor Filme, Golpada Americana, Nebraska, Filomena, Um Quente Agosto, Capitão Phillips e O Lobo de Wall Street ficaram a zeros. A baladinha ensossa de Frozen ganhou até mesmo ao star power dos U2 (mas como ainda ontem comentava, podiam ter ali os Beatles, que ganhava a baladinha à mesma). Um documentário sobre backing singers derrotou o “favorito” The Act of Killing... E para o ano há mais.

Aqui fica a lista final dos premiados:

Melhor Filme - '12 Anos Escravo'
Melhor Realizador - Alfonso Cuarón (Gravidade)
Melhor Ator - Matthew McConaughey (O Clube de Dallas)
Melhor Atriz - Cate Blanchett (Blue Jasmine)
Melhor Ator Secundário - Jared Leto (O Clube de Dallas)
Melhor Atriz Secundária - Lupita Nyong'o (12 Anos Escravo)
Melhor Argumento Adaptado - John Ridley (12 Anos Escravo)
Melhor Argumento Original - Spike Jonze (Her - Uma História de Amor)
Melhor Filme em Língua Estrangeira - 'A Grande Beleza' (Itália)
Melhor Fotografia - Gravidade
Melhor Montagem - Gravidade
Melhor Banda Sonora Original - Gravidade
Melhor Caracterização - O Clube de Dallas
Melhor Guarda Roupa - O Grande Gatsby
Melhor Direção Artística - O Grande Gatsby
Melhores Efeitos Visuais - Gravidade
Melhor Mistura de Som - Gravidade
Melhor Montagem de Som - Gravidade
Melhor Longa Metragem de Animação - 'Frozen'
Melhor Curta Metragem de Animação - 'Mr Hublot'
Melhor Curta Metragem de Imagem Real - 'Helium'
Melhor Curta Metragem Documental - 'The Lady in Number 6'
Melhor Documentário (Longa Metragem) - '20 Feet From Stardom'