3. Encontros Imediatos de Terceiro Grau
de Steven Spielberg (1977)
O ano de 1977 representa um ponto de viragem na história do cinema de ficção científica. Por um lado acolhe a estreia de A Guerra das Estrelas, de George Lucas. Por outro assinala também a chegada aos grandes ecrãs de Encontros Imediatos de Terceiro Grau, filme de Steven Spielberg que, depois de Tubarão (1975) o estabelece como uma das novas grandes forças do cinema norte-americano. O filme materializou o que era um projeto já com alguns anos do realizador, que queria experimentar o espaço da ficção científica e surge numa época em que, talvez como consequência de uma cultura gerada pelos filmes de série B (e menor) dos anos 50 e 60, o interesse pelos “ovnis” (objetos voadores não indentificados) gerava dúvidas generalizadas sobre se estaríamos ou não sós no universo. O próprio título refere um conceito levantado por "ovniologistas": um encontro imediato é aquele em que existe, além do contacto visual com um alienígena, um momento de comunicação.
O filme começa por apresentar uma série de situações em locais bem distintos do globo. Todas elas resultam de fenómenos aparentemente estranhos, algo acabando por ligá-los... Uma equipa de cientistas recolhe e estuda os dados, levantando hipóteses. Mas Spielberg opta por seguir antes duas famílias, cada qual com uma história pessoal de relacionamento com fenómenos invulgares. Visitantes de um outro mundo? Cruzando informações e juntando pontas soltas os protagonistas acabam por seguir rumo a uma antiga chaminé vulcânica no Wyoming. Quem os espera?...
Visualmente deslumbrante – fruto de mais um trabalho de efeitos visuais de Douglas Trumbull, o mesmo que esteve com Kubrick em 2001: Odisseia no Espaço – e inteligentemente centrado na exploração das personagens (uma delas interpretada por François Truffaut) o filme junta ainda um elemento adicional determinante: a música. E não apenas pela banda sonora criada por John Williams, já que uma das formas de comunicação que permite a ligação entre os humanos e os alienígenas que nos visitam é mesmo a música.
4. Metropolis
de Fritz Lang (1927)
Através dos trabalhos pioneiros de Georges Meliès, a ficção científica morou entre os primeiros territórios de género abordados pelo cinema. Mas foi preciso esperar até 1927 para que surgisse uma longa metragem de ficção científica. Aconteceu com o magistral Metropolis, filme do cineasta alemão Fritz Lang. Produzido pelo Babelsberg Studio em Potsdam, perto de Berlim (o mais antigo dos grandes estúdios de cinema), Metropolis conheceu reações bem dispares por alturas da estreia e, submetido à censura, foi cortado tendo algumas das sequências acabado por se perder. Ao longo dos anos foram feitas várias tentativas de reconstituição do filme, uma delas tendo sido exibida na Berlinale em 2001, numa altura em que o filme era inscrito como património pela UNESCO. Em 2008 uma cópia degradada da versão original de Fritz Lang foi encontrada num museu na Argentina. Através dessa cópia foi possível recuperar e restaurar 95% do filme, que foi assim novamente exibido em 2010.
A ação transporta-nos para uma grande cidade do futuro. Um mundo onde os poderosos e ricos dedicam o tempo ao ócio, cabendo a uma outra parte da população uma vida de quase servidão, feita de rotinas de trabalho mecanizadas, desumanizadas. Enquanto os ricos habitam os altos edifícios, praticam desporto e descansam entre jardins e clubes noturnos, a multidão que trabalha vive em subterrâneos e cruza-se em turnos que mantém ativas as máquinas que fazem a cidade funcionar. A narrativa ganha rumo quando o filho do líder da cidade conhece uma jovem que vive nos subterrâneos (e que por sua vez comanda uma revolta que o poder tenta travar).
A criação visual da cidade – tanto na sua expressão arquitetónica como na definição dos espaços onde evoluem as rotinas de trabalho – é apenas um entre os argumentos que fazem de Metropolis um dos mais importantes títulos dos tempos do cinema mudo e um filme de referência na história de um relacionamento da ficção científica com as visões de cenários distópicos que tantos livros e filmes depois desenvolveram. Profundamente influente, o filme foi citado em diversos momentos (como no teledisco de Radio Ga Ga dos Queen) e chegou a ter várias versões, uma delas com banda sonora criada por Giorgio Moroder, em 1984.