terça-feira, dezembro 17, 2013

Marc Almond em cinco discos (2)

Ainda os Soft Cell eram um corpo vivo, já Marc Almond experimentava novos caminhos e desafios. E antes mesmo de encetar uma carreira em nome próprio, formou em 1982 o coletivo Marc And The Mambas com o qual chegou a editar dois álbuns. O segundo, Torment and Toreros, editado em 1983, tornou-se num dos seus títulos de culto e gerou recentemente um concerto no qual o álbum foi interpretado de fio a pavio.

Em 2011, escrevia aqui sobre o disco, por alturas de uma reedição remasterizada:

"Em Torment em Toreros encontramos uma das obras-primas maiores da sua discografia, num manifesto de grande fôlego que deixou claro que o seu caminho na música não seria necessariamente feito de sequelas de Tainted Love. (...) Mas contemos a história desde o início. Surpreendido pelo sucesso de Tainted Love (e do álbum Non-Stop Erotic Cabaret, que se seguiu), Marc Almond possivelmente sentiu que através do patamar entretanto alcançado pelos Soft Cell não poderia projectar algumas das visões que pretendia explorar na música. Na verdade, e com o tempo, os dois álbuns tardios do duo com Dave Ball acabariam por reflectir um evidente afastamento das linguagens mais nítidas da pop electrónica que haviam talhado nesse histórico disco de 1981. Mas em 1982, e em tempo de curta pausa nos Soft Cell, Almond criou o projecto paralelo Marc And The Mambas através do qual editaria dois álbuns entre 1982 e 83 nos quais definiu rumos que determinariam a essência do que, a partir de 1984, seria a sua obra a solo. Torment and Toreros, o segundo álbum de Marc and The Mambas é uma obra atípica da música do seu tempo. Convocando referências várias, do vaudeville, cultura latina, chanson, piano e arranjos para cordas, juntando ainda outros espaços distantes do centro dos universos da pop de então, sempre som uma atmosfera sombria, o disco tacteia caminhos novos num alinhamento longo (o disco era duplo logo na sua versão original em vinil) que convoca ainda a música de Jacques Brel (The Bulls) ou Peter Hammil (Vision). É um álbum de emoções à flor da pele, versátil nas formas e desafiante na versatilidade de ideias, revelando em Marc Almond uma voz criativa com uma visão que transcendia os tons da pop mais luminosa de muitas das canções dos Soft Cell. Contando com colaboradores como Matt Johnsson (dos The The) ou Annie Hogan (que seria importante parceira na sua obra a solo), Torment and Toreros é um disco tenso e intenso, que se aprende a ouvir (e que Antony Hegarty citou já como um dos títulos que mais o influenciaram). E que mostra que nem toda a pop dos oitentas se arruma nas caixas mais simplistas da taxonomia musical.

Pode ver aqui o teledisco que acompanhou o tema Torment.