Para sempre consagrada como musa de Alfred Hitchcock, foi uma das actrizes mais talentosas dos anos 40 em Hollywood: Joan Fontaine faleceu no dia 15 de Dezembro, de causas naturais, durante o sono, na sua casa de Carmel-by-the-Sea, Monterey, Califórnia — contava 96 anos.
Nascida em Tóquio, de seu nome verdadeiro Joan de Beauvoir de Havilland, filha de pais britânicos, irmã de Olivia de Havilland (n. 1916), viveu na Califórnia desde os dois anos de idade. Depois de uma primeira fase em que trabalhou no teatro, foi uma das jovens actrizes contratadas pela RKO no período inicial do sonoro — surgiu, por exemplo, em Uma Donzela em Perigo (1937) ou Gunda Din (1939), ambos de George Stevens, contracenando, respectivamente, com Fred Astaire e Cary Grant. Em qualquer caso, foi com Rebecca (1940), primeiro título americano de Alfred Hitchcock, produzido por David O. Selznick, que conquistou o seu estatuto de estrela, obtendo a primeira de três nomeações para o Oscar de melhor actriz. O modo como a sua voz lançava o assombramento do lugar central da acção — Last night I dreamt I went to Manderley again... — envolvia um misto de vulnerabilidade e convicção essencial à dramaturgia hitchcockiana.
Com Suspeita (1941), contracenando com Cary Grant, de novo sob a direcção de Hitchcock, arrebatou mesmo o Oscar (vencendo a irmã, nomeada por A Minha História, de Mitchell Leisen). Senhora de uma delicadeza sem mácula, capaz de expressar as mais enigmáticas nuances afectivas, teve alguns dos seus melhores papéis sob a direcção de grandes mestres da época, incluindo Max Ophüls (Carta de uma Desconhecida, 1948), Billy Wilder (A Valsa do Imperador, 1948) e Nicholas Ray (A Deusa do Mal, 1950). Ivanhoe (1952), de Richard Thorpe, em cujo elenco figuravam também Elizabeth Taylor e Robert Taylor, permanece como um dos seus títulos mais populares.
Trabalhou ainda sob a direcção de Anthony Mann (Serenata, 1956) e Fritz Lang (A Verdade e o Medo, 1956), a partir dessa altura orientando a sua carreira sobretudo para produções televisivas. Publicou a autobiografia No Bed of Roses em 1978. A lendária e agressiva rivalidade com a irmã vem desde os tempos em que decidiu adoptar o apelido Fontaine (do seu padrasto); nesse mesmo ano de 1978, em entrevista a The Washington Post, declarou: "Casei primeiro, ganhei o Oscar antes de Olivia ganhar [Lágrimas de Mãe (1946), de Mitchell Leisen], e se morrer primeiro, ela ficará por certo lívida porque eu lhe ganhei!"
>>> Obituário no New York Times.