quarta-feira, setembro 25, 2013

Queer Lisboa 17 (dia 6)


Hoje o Queer Lisboa abre a secção Queer Focus com o filme Boy Eating The Bird's Food, do realizador grego Ektoras Lygizos, que pode representar uma das grandes surpresas desta edição do festival. Diz a sinopse "Um rapaz de 22 anos, em Atenas, não tem emprego, nem dinheiro, nem namorada, nem comida, mas tem um canário e uma linda voz para cantar. Quando fica sem casa, tem que procurar abrigo para o seu pássaro. E quando o pássaro fica aprisionado dentro do abrigo, o rapaz tem que encontrar ajuda. Ele tem que encontrar alguém a quem confessar que não tem emprego, nem dinheiro, nem namorada, nem comida". Passa na Sala Manoel de Oliveira, do Cinema São Jorge, às 19.30.

Hoje é também apresentado The Comedian, de Tom Shkolnik, filme que integra a competição para a Melhor Longa Metragem de Ficção (Sala Manoel de Oliveira, 22.00). Para quem não viu ontem, hoje repete Interior Leather Bar, o muito falado projeto de Travis Matthews e James Franco criado sobre memórias (e ausências) do clássico Cruising, de William Friedkin. Passa na Sala 3 às 17.15, em sessão conjunta com a curta In Their Room, de Travis Matthews.

Podem ver aqui a restante programação para hoje.

Já a seguir fica um destaque para uma outra das sessões desta edição do Queer Lisboa 17, com um texto de minha autoria que integra o catálogo do festival (e a sua expressão online).


I am Divine
(repete sábado, pelas 17.00, na Sala 3)

Olha... aqueles olhos não são os do nosso Glenn?... Foi mais ou menos assim, os pais reconhecendo o filho numa foto numa revista. Tempos depois de uma cisão familiar, a reconciliação com os pais aconteceu já Divine era importante figura de culto. Filho de uma família conservadora de classe média em Baltimore (onde nasceu em 1945), Harris Glenn Milstead teve uma infância difícil, sob constante violência dos colegas, refugiando-se nas suas duas paixões: a comida e o cinema. Foi com o vizinho, um rapaz chamado John (Waters, de apelido), que começou a fazer pequenos filmes, por puro prazer... Pouco depois, uma vez mais com Waters por detrás da câmara, e apresentando-se em drag como Divine, surgia como protagonista nesse acontecimento queer trash que foi Pink Flamingos, filme que faria do realizador e do actor duas das maiores figuras de referência do cinema independente norte-americano.

I Am Divine é um documentário biográfico, mas também uma celebração da memória da figura única que foi Divine, que John Waters explicou ter quebrado as regras do travesti, elevando esta arte a um nível de anarquia. Entrevistas com colaboradores, amigos e imagens de arquivo do próprio Divine cruzam-se aqui com momentos dos filmes em que participou (nos quais muitas vezes se desafiava no plano físico) e também instantes dos espectáculos que deu nos anos 80, quando encetou uma carreira em paralelo na música, editando discos como You Think You’re A Man ou Native Love (Step by Step).

Jeffrey Schwarz, produtor de renome e autor de documentários como Wrangler: Anatomy of An Icon ou Vito (sobre Vito Russo, o autor de Celluloid Closet), e que neste momento prepara um filme sobre Tab Hunter, encontra aqui mais um ponto de vista numa obra que tem ajudado a construir episódios fulcrais da história da cultura queer.