Mazzy Star
‘Seasons of My Day’
Body of Music
3 / 5
Há trilogias que ficam bem como estão. Ou seja, com três peças. E quando chega uma quarta, nem sempre se repete a história. E a verdade é que o trio de álbuns (magníficos, sublinhe-se) que os Mazzy Star editaram entre She Hangs Brighly (1990) e Among My Swan (1996), passando pelo superior So Tonight That I Might See (1993), em pouco precisava do que nos traz o novo disco para continuar uma obra que em tudo se materializara e concluíra como uma das experiências maiores do mundo indie dos noventas, numa rara expressão de evolução em diálogo com tradições acústicas de heranças assimiladas do shoegaze de finais dos oitentas. Hope Sandoval, a voz (e a principal assinatura do grupo, apesar da personalidade também vincada de David Roback) não deixou de fazer discos e tanto gravou com os Warm Inventions, como colaborou em gravações dos Chemical Brothers, Air ou Massive Attack. Mas em 2009 chegaram primeiras notícias de uma reunião dos Mazzy Star, um primeiro single, com os temas Common Burn e Lay Myself Down (ambos agora recuperados para o álbum) a calar um hiato que vinha desde 1996. Agora, 17 anos depois de Around My Swan eis que surge Seasons of Your Day, um quarto álbum em tudo traçado em lógica de sintonia face aos discos lançados nos anos 90, mas estranhamente mais feito de repetições e soluções de modelos que de uma eventual continuidade que representasse um presente mais herdeiro dessas memórias que feito de decalques do que então aconteceu. Recupera-se a relação da voz com uma teia instrumental suave, mas elaborada, desenham-se trovas que transportam ecos pastorais mas que são expressões de uma cultura urbana melómana e informada. E há até instantes magníficos, como os que escutamos em Lay Myself Down, California ou In The Kindgom. É verdade que tinham encontrado uma voz. Uma linguagem. E pelos vistos a ela quiseram regressar sem contaminações. É uma opção que, pelo menos, contraria a lógica apenas feita do apelo da nostalgia sobre velhas canções que muitas vezes conduz tantas outras reuniões. E mesmo não repetindo a excelência dos discos dos noventas e com um alinhamento apenas interessante, convenhamos que, ao lado dos álbuns de reunião de tantos outros grupos, até acabam por, pelo menos, não quebrar o encanto.