segunda-feira, setembro 02, 2013

Para que o 'Esquecido'
não caia no esquecimento

Muito do cinema de ficção científica do presente (e recorde-se que vivemos um momento de evidente regresso do género à linha da frente da oferta cinematográfica) tem padecido de dois males maiores. Ou o afogamento das ideias perante os arsenais de efeitos digitais. Ou a crise de identidade de género, confundindo códigos com as doses de ação exacerbada dos filmes de super-heróis... Títulos como o notável Moon, de Duncan Jones, são raro oásis num deserto de boas ideias, sendo na verdade curta a colheita útil de títulos capazes entre tão relativamente vasta oferta que se nos coloca pela frente. Confesso que deixei escapar Oblivion (que passou por cá como Esquecido embora, na verdade, devesse ter conhecido o mais correto título ‘Esquecimento’) quando fez o seu relativamente breve percurso pelas salas. Ao ver, agora, a edição em blu-ray deste filme de Joseph Kosinski, reparo que perdi a oportunidade de ver, num grande ecrã, um dos raros bons exemplos recentes do que um bom filme de ficção científica deve ser.

Com uma cautela de quem sabe que tem um contexto narrativo para nos apresentar o filme começa por nos transportar até ao ano 2077, colocando-nos numa torre de vigia onde dois profissionais – um técnico (Tom Cruise) e uma oficial de comunicações (Andrea Risenborough) – zelam pela segurança de operações vitais para a segurança do que se apresenta como uma nova ordem mundial, que nos é revelada como fruto de uma invasão alienígena que destruiu a Lua, o equilíbrio geodinâmico da Terra e uma consequente guerra atómica que destruiu a possibilidade de vida humana no planeta. Sem entrar em terreno de spoiler podemos apenas acrescentar que a evolução da narrativa tratará de nos confrontar com uma sucessão de descobertas, revelando o argumento uma rara capacidade em resistir às rasteiras das soluções de tiro e pancada (o que não impede a pontual sequência de ação e uma inteligente utilização da ansiedade ao jeito clássico de um thriller).

Baseada numa graphic novel, e mais próxima de uma lógica conceptual digna de heranças da literatura sci-fi que dos turbilhões de acontecimentos com excesso adrenalina que temos visto em tantas produções recentes, a narrativa de Oblivion é apenas uma das ideias bem nascidas de um filme que junta ainda uma direção de atores comedida e, acima de tudo, uma art direction ao nível do melhor que vimos nos últimos anos nos departamentos da ficção científica. A criação dos espaços traduz uma reflexão clean e funcional sobre design e arquitetura, a direção de fotografia (e a utilização muito peculiar da luz da noite de verão em alta latitude) sublinhando o tom minimalista que acolhe a vivência quase acética do par protagonista. A rodagem optou pela utilização de uma coexistência de cenários construídos com o recurso a efeitos digitais, as paisagens (reais), filmadas na Islândia, resultando como um complemento fundamental à construção de uma visão coerente do futuro controlado de que o filme nos dá conta.

A edição em blu-ray junta a um filme que merece ser visto uma série de opções adicionais, entre as quais um ‘making of’ e a possibilidade de visionamento do filme apenas com a música dos M83, que aqui assinam uma das grandes bandas sonoras de 2013.