segunda-feira, setembro 02, 2013

Novas edições:
Franz Ferdinand,
'Right Thoughts, Right Words, Right Action'

Franz Ferdinand
“Right Thoughts Right Words Right Action”
Domino / Edel
4 / 5

Todos os anos procuramos aquele disco que marca a estação mais quente (tal como, meses depois, fazemos igual demanda chegada a quadra natalícia). Em 2013 não faltam candidatos, entre a pop pastoral dos Camera Obscura, as canções feitas de eletrónicas com tempero R&B dos AlunaGeorge ou o delirante reencontro dos Pet Shop Boys com a música de dança. Mas para os adeptos das guitarras a resposta chega a dois terços da estação com um delicioso quarto álbum dos Franz Ferdinand que garante o reencontro do grupo com as canções bem ritmadas, as guitarras angulosas e as melodias viciantes que deles fizeram uma das revelações dos anos zero.

Não é preciso fazer um grande esforço (nem grandes contas) para nos apercebermos de que houve um momento na carreira dos Franz Ferdinand em que as coisas começaram a correr menos bem. Revelados discograficamente há dez anos com o single de estreia Darts of Pleasure e aclamados em 2004 com um álbum de estreia que se conta claramente entre os grandes momentos pop/rock da década dos zeros, os Franz Ferdinand souberam sobreviver à ressaca de outras bandas da sua geração, sublinhando em 2005 o seu estatuto com um segundo álbum igualmente marcante (anunciado com Do You Wanna, um dos hinos mais festivos da última década). Mas quando em 2009 nos trouxeram um terceiro álbum nem as opiniões repetiram o mesmo entusiasmo nem as vendas atingiram os mesmos patamares, cotando-se inclusivamente abaixo dos galardões que antes tinham conquistado com as unidades vendidas dos dois primeiros discos.

Mas um escorregão não indicia necessariamente um destino de decadência incontornável. E agora, quatro anos depois do menor Tonight: Franz Ferdinand, eis que apresentam um quarto disco que, mesmo não recuperando a excelência rara do primeiro, os devolve contudo a um momento de boa forma, consolidando a ideia de que neles reside um dos nomes maiores do panorama pop/rock britânico do nosso tempo e, claramente, um dos nomes de referência entre os que tiveram berço na primeira década do século.

O título parece indiciar desde logo um programa de autoconfiança: Right Thoughts, Right Words, Right Action. Um percurso pelo alinhamento revela uma coleção de dez novas canções que mantém firme a identidade pop herdada de raízes pós-punk (ou seja, sob ecos de finais dos anos 70), de novo o álbum acrescentando um mais evidente trabalho com eletrónicas, o que acrescenta alguns temperos com sabores da alvorada dos oitentas. Um balanço dançável habita na alma destas novas canções, até mesmo em momentos texturalmente mais elaborados e ritmicamente menos exuberantes como os que escutamos em The Universe Expanded, talvez o ponto mais distante do que poderia ser o universo característico do grupo, sem contudo implicar uma perda de identidade. De resto, se há característica transversal a todo o alinhamento é mesmo a capacidade do grupo em se manter firme uma linguagem comum à que nos deu pérolas pop/rock para guitarras como Take Me Out, Come On Home ou Walk Away.

Ainda é cedo para avaliar o impacte de Right Thoughts, Right Words, Right Action, disco produzido pelo próprio grupo e em cujas gravações colaboraram elementos dos Hot Chip, Björn Yttling (do trio Peter Björn & John) e Todd Terje. É também cedo para saber se arrebatará tantos prémios como o fez Franz Ferdinand (que ganhou o Mercury Prize e o Ivor Novello em 2004). Mas as críticas são entusiasmadas. E as canções podem já falar por si.

PS. Este texto é uma versão editada de um outro originalmente publicado na edição de 26 de agosto do DN com o título 'Franz Ferdinand em boa forma ao assinar dez anos de discos'