Dzhokhar Tsarnaev no momento da rendição (o ponto vermelho na testa corresponde à arma de um atirador especial da polícia) > foto de Sean Murphy |
I - A história do bombista na capa da Rolling Stone continua. Entre aqueles que se sentiram indignados com aquilo que consideraram a "glamourização" de Dzhokhar Tsarnaev, figura o sargento Sean Murphy, da polícia de Boston. De tal modo que decidiu publicar as suas próprias fotografias do sucedido [ver: Boston Magazine + Boston Globe].
II - Em termos profissionais, Murphy poderá vir a ser sujeito a um castigo severo, uma vez que, como vários especialistas (legais e policiais) já referiram, o sargento divulgou material que deveria permanecer no recato da investigação em curso. Em todo o caso, vale a pena ter em conta que o gesto de Murphy decorre do mais trágico simplismo que, hoje em dia, prevalece no mundo audiovisual. Nas palavras do Boston Magazine: "Murphy quer que o mundo saiba que o Tsarnaev das fotos que ele tirou — derrotado e a desfalecer, com os pontos vermelhos das armas dos atiradores na sua testa — é a verdadeira face do terrorismo, não o jovem atraente e confiante mostrado na capa da revista."
III - Abençoada ingenuidade. Que nem sequer é capaz de pensar que o seu menosprezo pelo contexto da informação visual pode levar a que a imagem do jovem ensanguentado, alvo de um possível tiro na cabeça, não passe de um banal efeito de vitimação. Que ignora por completo o enquadramento escrito de cada imagem (e, em particular, o enquadramento escrito proposto pela Rolling Stone). E, sobretudo, que confunde a proliferação desorganizada de imagens com um "ganho" automático de informação e rigor — as imagens das movimentações policiais antes da captura de Tsarnaev são um testemunho realmente estruturado ou apenas as fotografias de rodagem de um banal filme de guerra de "série B"?
>>> NOTA: sugere-se a leitura do texto de Matt Taibi (Rolling Stone), "explicando a capa da Rolling Stone".