sexta-feira, abril 05, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com John Gonçalves

Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de John Gonçalves, dos The Gift. Ao John um muito obrigado pela colaboração. 
Também passei várias vezes por estas lojas. Tenho gratas memórias desta velha Tower ainda nos oitentas. Da última vez que por lá passei estranhei a falta dos discos naquela esquina (assim como foi bizarra a sensação de ver o lugar onde conheci o CBGB, que fica pouco mais adiante, na Bowery, a albergar uma loja de roupa). Vale-nos a Other Music, que sobrevive, e onde comprei a edição em vinil do mais recente Panda Bear a solo. Também é a minha loja de eleição em Nova Iorque (se bem que confesso que não resisto à Rebel Rebel e demais lojas de vinil no Village, ali bem perto).


Corria o ano 2000 e nessa tarde de final de Outubro fui, como em tantas outras vezes, às minhas duas lojas favoritas de New York.

Na esquina da Broadway com a East 4th Street, entrei na Tower Records e aí me deliciei com tudo o que eram novidades de música, cinema, livros, séries e outros elementos da cultura pop que sempre me fascinavam.

Nessa tarde comprei o Sopthware Slump dos Grandaddy e andei 50 metros para a Other Music que ainda hoje é a minha loja de eleição em New York. Ao chegar, vi um poster com a capa do disco Whoa, Nelly de Nelly Furtado no vidro e o empregado hipster de serviço, convenceu-me a comprar esse disco dizendo que "Nelly era a mais recente coqueluche da folk indie pop canadiana".

Hoje duvido que alguém ouse recomendar Nelly Furtado na Other Music, nem tão pouco Grandaddy na Tower, mas por razões diferentes - a loja já não existe!

Apesar do ar hipster e/ou arrogante de algum dos empregados da Other Music me ter irritado um ou outro dia ao longo destes últimos 13 anos, sempre encarei esse facto como parte do élan de pequena loja indie, cartilha aliás popularizada no filme High Fidelity ou antes, no livro de Nick Hornby.

Aí encontrei muitas das "next big thing indies" que fizeram depois furor no mundo discográfico, descobrindo vários discos, cartazes e/ou recomendações de muitos concertos nos vários palcos da cidade, especialmente a partir de 2008.

Estas duas lojas nunca foram concorrentes, mas sim complementares e continuo a frequentar a Other Music pensando muitas vezes de forma nostálgica na sólida Tower Records que fechou há uns anos, dando lugar a lojas doutros negócios! 

Ambas as lojas eram duas faces da mesma moeda e deveriam conviver juntas por muitos mais anos.

Se me convidassem no ano 2000 a escolher qual das duas lojas poderia encerrar primeiro, eu não hesitaria em dizer que essa loja seria a Other Music, embalado pelo nome gigante, pela solidez, tamanho e diversidade da Tower Records.

Enganava-me e o encerramento desta Tower Records apenas prova que o presente e futuro das lojas de discos está nos nichos e na maneira como se consegue fidelizar/renovar o público dentro duma estética definida e na modernização dos seus serviços.

Parabéns à Other Music pela sobrevivência da loja tradicional em New York, pelas newsletters semanais que me envia com as novidades que posso comprar online em Alcobaça ou no Rio de Janeiro e Parabéns à Tower Records pela educação de muitos dos ainda clientes da pequena grande loja no numero 15 da East 4th Street, NY ou através do site othermusic.com.