sábado, abril 13, 2013

David Bowie a 45 RPM (18)

Há opções de última hora que, por vezes fazem a diferença. E foi dado o entusiasmo de Dennis Katz, da RCA Records, que Starman, uma canção tardia na génese de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, acabou não só integrada no alinhamento do álbum (substituindo aí uma versão de Round and Round de Chuck Berry) como foi inclusivamente escolhida para ser o single de apresentação do novo álbum. Havia entusiasmo e uma certa fé na canção. Mas ninguém podia imaginar, quando o single foi lançado em abril de 1972, que pouco tempo depois seria o trampolim para o arranque definitivo da carreira de sucesso de David Bowie (que, na verdade, não conhecera até então nenhum outro episódio de reconhecimento discográfico além do êxito pontual de Space Oddity, em 1969).

Transportando uma história (que em tudo se ajustava ao quadro narrativo proposto pelo álbum (mas também com leitura possível sobre a felicidade qie pode haver no ato de conhecer pessoas), Starman não podia ser melhor veículo para a apresentação da personagem de Ziggy Stardust, o primeiro dos grandes alter-egos que Bowie criaria ao longo dos anos 70. Musicalmente a canção parte diretamente dos caminhos percorridos no anterior Hunky Dory, concedendo espaço de respiração ao som de uma guitarra acústica e aos arranjos orquestrais, a guitarra elétrica abrindo contudo caminhos para novas ideias que se seguiriam.

Apesar de editado em abril foi em julho, na sequência de uma apresentação televisiva no Top of The Pops, que Starman se viu transformado num hino do seu tempo. O look de Bowie (que claramente colocava em cena um novo protagonismo da imagem) e o poder irresistível da canção garantiram os argumentos necessários à transformação há muito esperada. O single surgiu com o tema Suffragette City, outra das canções do alinhamento do novo álbum, que seria editado dois meses depois, em junho. A edição portuguesa deste single, surgida mais tarde, incluiria como lados B os temas John I’m Only Dancing e Hang On To Yourself. Com o tempo Starman tornou-se num dos clássicos maiores de Bowie e é das suas canções mais revisitadas por outros, com versões assinadas por nomes como os 10.000 Maniacs, Of Montreal, Culture Club, Mates of State ou Seu Jorge.


Justificadamente o fato que Bowie usou nesta atuação televisiva e as imagens captadas em julho de 1972 pela BBC surgem com destaque especial na exposição que está neste momento patente no museu Victoria & Albert, em Londres.