To The Wonder (que estreia entre nós em inícios de maio com o título A Essência do Amor) é, e como tão bem defendia o texto publicado na Sight & Sound, uma “lógica e bem vinda evolução estilística” para o cinema de Malick. Se em A Árvore da Vida (que muito provavelmente ficará para a história como a sua obra-prima) o realizador norte-americano alcançou um patamar maior para uma linguagem que começara a ensaiar em filmes anteriores (com expressões sobretudo evidentes em A Barreira Invisível e O Novo Mundo), aqui propõe antes uma nova expressão narrativa usando essa mesma linguagem que com o tempo encontrou e moldou com personalidade.
Estamos num terreno temporal e emocionalmente bem distinto do que vivemos em A Árvore da Vida (apesar das sequências com Sean Penn terem representado aí a primeira visita do cinema de Malick aos nossos tempos). A história vive-se no presente, entre França (do Monte St. Michel aos jardins de Versalhes) e uma pequena cidade rural no Oklahoma, acompanhando a evolução de um nada linear relacionamento amoroso entre um americano (Ben Affleck) e uma mulher europeia (Olga Kurylenko), a presença do conflito interior de um padre (Javier Bardem) que habita a mesma comunidade e sente que perdeu a noção do sentido da sua missão reforçando uma narrativa mais habitada por dúvidas e pelo lançamento de questões que pela busca a todo o custo de respostas. Pela evolução da trama passa ainda uma antiga companheira do protagonista (interpretada por Rachel Adams).
É entre esta teia narrativa, cuja evolução acompanhamos com momentos mais oníricos centrados em volta das personagens, dos seus pensamentos e dos lugares por onde caminham e por episódios mais atentos à evolução temporal e factual dos acontecimentos, que Malick nos mostra como, depois de encontrada uma “voz” maior em A Árvore da Vida, pode agora escutar e olhar outras narrativas, locais e figuras usando uma linguagem com região demarcada. Na verdade To The Wonder aprofunda mesmo mais ainda a relação entre os factos e as ideias, recorrendo mais ao off que o filme anterior. E, mesmo não tendo a dimensão “musical” magistral de A Árvore da Vida, revela novamente um trabalho notável de construção de um suporte musical, onde escutamos obras de Wagner, Gorecki ou Arvo Pärt.
Podem ver aqui um dos três trailers já disponibilizados deste filme. O trailer usa como banda sonora o tema November, do álbum Memoryhouse, de Max Richter.