Depeche Mode
“Delta Machine”
Sony Music
3 / 5
Este texto foi originalmente publicado na edição online do DN a 25 de março de 2013 com o título ‘Eletrónicas e ecos dos blues, segundo os Depeche Mode’.
Depois de uma primeira sucessão de quatro álbuns históricos que ajudaram a definir as linguagens da pop feita com eletrónicas, de uma inesquecível ode ao negro (Black Celebration, 1986), de alcançado o pico criativo entre Music For The Masses (1988) e Violator (1990) e de ensaiada uma assimilação de ecos da vivência americana em Songs Of Faith and Devotion (1993) os Depeche Mode têm vivido uma existência em clima de sucesso global, mas com discos nem sempre capazes de recuperar os patamares mais vibrantes de outros tempos (com episódio relativamente desapontante no anterior Sounds of The Universe, editado em 2009). Delta Machine tenta, tal como Playing The Angel (2005) o fez face ao menor Exciter (2001), o recuperar de ecos de outros dias, procurando encontrar na genética eletrónica fundadora da música do grupo novos motivos de entusiasmo para compor novo lote de canções. Importante peça no jogo é a presença de Flood (que produziu Violator e Songs of Faith and Devotion), que assume as misturas, a cadeira da produção cabendo, como nos dois discos anteriores, a Ben Hiller. Heaven, uma balada instrumentalmente convencional e feita de formas algo esgotadas foi escolha pouco feliz para um alinhamento que, na verdade, procura a redescoberta de um fôlego "primordial" que tem faltado à música dos Depeche Mode. E no fim, mesmo longe dos pontuais momentos mais inspirados de escrita que levaram algum entusiasmo ao alguns temas do disco de 2005, o alinhamento revela-se como o mais consistente que o grupo desde o virar do milénio. A angulosidade mais minimalista de My Little Universe (onde exploram aproximações a modelos techno) ou Alone traduzem os sabores mais inesperados num álbum que entusiasma muito mais pelo som que pela composição das canções, sendo até vários os momentos em que parecem piscar o olho a ideias já ensaiadas (como num Broken que evoca os dias de Music Fot The Masses ou um Soft Touch/Raw Nerve que parece procurar ecos da memória de A Question Of Time). Aqui e ali recuperam-se ensaios de cruzamento entre heranças dos blues e eletrónicas, que caracterizaram algumas das primeiras abordagens do grupo aos sons das guitarras nos anos 90. No final, e dada a ausência de grandes instantes memoráveis (e um programa temático que já cansa de tantas vezes repetido), Delta Machine é uma experiência sonicamente satisfatória, representando mesmo o disco com mais elaborado trabalho no departamento da sonoridade desde a saída de Alan Wilder. Agora que o som está no ponto, falta voltar a investir na escrita das canções.