Tara Hugo
“Tara Hugo Sings Philip Glass”
Orange Mountain Music
4 / 5
Têm-se multiplicado nos últimos anos a quantidade de intérpretes que têm gravado discos instrumentais com música de Philip Glass, alguns chegando mesmo a conhecer edição através da Orange Mountain Music, a etiqueta do próprio compositor. Têm surgido sobretudo discos de piano, mas também de flauta e saxofone. E há até um álbum de leituras por uma steel band caribenha de peças de Glass... Tara Hugo é a primeira voz a abordar o seu universo com a totalidade do alinhamento de um álbum. Ao longo dos anos Philip Glass compôs canções (sim, mais próximas da noção de canção segundo a tradição popular) para vozes como Mick Jagger (Streets of Berlin, que depois Ute Lemper também gravou) ou Nathalie Merchant (a antiga voz dos 10.000 Maniacs). E criou dois ciclos de canções, um deles sendo o clássico Songs From Liquid Days (com letras de David Byrne, Suzanne Vega ou Paul Simon), o outro o resultado de uma parceria com Leonard Cohen em Book of Longing... E, de resto, o seu trabalho vocal tem sido essencialmente focado no universo da ópera. Formada em Londres e com experiência nos palcos de ópera (mas uma carreira que a levou já aos domínios do jazz e dos blues), Tara Hugo tomou primeiro contacto profissional com a música de Philip Glass no ciclo Book Of Longing, colaborando na gravação do disco e na digressão que se lhe seguiu. Dessa experiência nasceu um encantamento que agora de materializa num disco onde, além de recuperar três momentos desse mesmo ciclo, junta ainda dois elementos de Monsters of Grace, um de Hydrogen Jukebox (projeto conjunto de Glass e Allen Ginsberg), uma canção com texto de Natalie Portman (cantada em latim) e Streets of Berlin, que surgiu originalmente na banda sonora de Bent. A estas canções acrescentou quatro, que nasceram da recolha de pequenas composições instrumentais de Glass já existentes, para as quais ela mesma escreveu as letras. Em conjunto, e contando com novos arranjos para um pequeno grupo de câmara, Tara Hugo apresenta um ciclo de canções que, tal e qual os que o próprio Glass compôs, desafiam a noção de fronteira de género, na verdade colocando-se mais perto (até mesmo pelo registo vocal adotado) da tradição popular que no campo da música clássica. O resultado? Um magnífico olhar de intérprete sobre um autor de assinatura inequívoca, numa coleção de canções que bem que podiam agora começar a andar aí pelos palcos do mundo...