CRISTÓVÃO DE MORAIS Retrato de D. Sebastião (c. 1572-1574) |
Já não esperamos nenhum D. Sebastião que nos venha redimir os pecados históricos... E, em boa verdade, pese embora o aparato de rivalidades mais ou menos futebolísticas com que olhamos a Espanha (e a Espanha nos olha), encaramos a data de 1 de Dezembro de 1640 e o fim do domínio filipino com a serenidade de um evento cujas determinações já não são as nossas.
Apesar disso (ou por causa disso mesmo), há qualquer coisa de absurdo nesta derradeira comemoração (?) de um feriado que, assim rezam os autos governamentais, vai desaparecer do nosso calendário. É bem verdade que, em termos gerais, o país o encara com pachorrenta indiferença — bem expressa no bizarro aparato do comércio, combinando de forma quase caricata as lojas em plena actividade com as portas bem fechadas de muitos estabelecimentos com artigos de primeira necessidade. Mas não é menos verdade que só por militante ingenuidade se pode acreditar, ou querer fazer acreditar, que os profundos problemas estruturais da nossa economia passam pelo facto de termos dois ou três feriados a mais, ou a menos...
Na prática, o que não existe é uma consciência aberta e generalizada da importância histórica e simbólica do dia 1 de Dezembro de 1640. Calcula-se que a classe política, tantas vezes tão ligeira a lidar com estas questões, acredite que são os concursos televisivos de "cultural geral" que fazem dos portugueses heróis filosofantes da sua própria história. Vós, Portugueses, poucos quanto fortes, / Que o fraco poder vosso não pesais...