Uma peça de Steve Reich que evoca os dez anos do 11 de Setembro de 2001, surge aqui em gravação pelo Kronos Quartet. A WTC 9/11 juntam-se ainda as mais canónicas Mallet Music e Dance Patterns. A edição é assegurada pela Nonesuch Records.
Não é a primeira vez que Steve Reiche reflecte, através da música, sobre os grandes acontecimentos no mundo ao seu redor. Fê-lo, por exemplo, em Different Trains, obra que cruzava memórias dos dias em que viajava de comboio entre pais separados, da costa Leste para a Costa Oeste, numa mesma altura em que, no Leste europeu, muitos outros da sua idade eram conduzidos, a bordo de outros comboios, diferentes, das suas casas para os campos de extermínio. Mais tarde, através de Three Tales, construiu um tríptico em torno de grandes calamidades criadas pelo avanço da ciência, passando pelo desastre do grande dirigível Hidenburg, as experiências atómicas no atol de Biklini ou a clonagem que gerou a ovelha dolly... Mais recente são as chamadas Daniel Variations, obra que homenageava a figura de Daniel Pearl, jornalista americano morto por terroristas em 2002... Não é por isso surpresa total a presença de uma obra que evoca o 11 de Setembro de 2001 na sua carteira de novos trabalhos. Encomendada por uma série de instituições, entre as quais o Barbican Centre, o Carnegie Hall, a Philharmonic Society of Orange County ou o National Endowment for The Arts, WTC 9/11 foi estreada em Março deste ano pelo Kronos Quartet, que agora surge na sua primeira gravação em disco. Com perto de 15 minutos de duração, a peça junta ao quarteto de cordas uma série de registos vocais, entre sons captados no próprio dia 11 de Setembro de 2001 e outros, resultantes de entrevistas gravadas pelo próprio compositor em 2010. Memórias reais, palavras, expressões, definem o tutano das memórias que a música envolve, ora imitando as falas ora encontrando o cenário que as arruma. De certa forma Steve Reich encontra aqui um patamar de absoluta maturidade de uma linguagem que começou a dar primeiros passos em peças de manipulação vocal em meados dos anos 60 e, mais tarde, assimilou as gravações de voz humana entre um quadro instrumental variado. WTC 9/11 é uma das mais interessantes das composições mais recentes de Steve Reich e mais uma expressão de uma capacidade da arte em reflectir o mundo presente, real e concreto que nos envolve. O disco nasceu com uma polémica lançada em seu redor por causa de uma capa original, que mostrava as Torres Gémeas durante o ataque... Retirada essa capa, o disco apresenta-se agora com a imagem que abre este post.