domingo, setembro 11, 2011

11 de Setembro - perspectivas (3)


Perspectivas sobre um dia que ninguém esqueceu para ler ao longo deste dia 11 de Setembro de 2011 no Sound + Vision. Dez anos depois recordamos, a várias vozes, memórias contadas na primeira pessoa... Aqui ficam três olhares, assinados por Fernanda Câncio, Inês Meneses e Luís Filipe Rodrigues.

Fernanda Câncio
(jornalista do DN e uma das autoras do blogue Jugular)

Estou no banco. O empregado diz: bateu um avião nas torres gémeas. Repito: um avião nas torres gémeas? Como? “Agora mesmo”, diz ele. Mas foi o quê? Encolhe os ombros. “Eles ainda não sabem.” Estou na rua, a chegar ao Rossio, quando um amigo me liga, a voz retesada. “Viste isto?” Sim, já sei, um avião bateu nas torres. “Agora bateu outro. É um atentado.” Paro, junto à Loja das Meias. Na rua Augusta faz sol, é hora de almoço, passeia-se, ainda é Verão. Nenhum rosto aflito ou sequer perplexo, nenhum eco disto: uma rua feliz. Na redacção onde trabalho, a da revista Notícias Magazine, à avenida da Liberdade, não há TV. Uma colega vai a casa buscar uma portátil. Ficamos ali, a ver as torres que ardem, a legenda que corre na CNN: América under attack. Ninguém sabe o que dizer – se tivéssemos de escrever sobre isto neste dia encontraríamos palavras, se vivêssemos em NY faríamos o que fosse preciso. Mas a revista é semanal e nós, inúteis, somos um eco de Conrad: o horror, o horror. A ferida é funda, mas não sabemos quanto. Só na manhã seguinte, quando ligo a TV, começo a chorar.

Inês Meneses
(radialista na Radar)

Tinha sido uma manhã de trabalho na TSF, e como fiz tantas vezes nessa altura, cheguei a casa e preparei-me para descansar. Liguei o rádio antes de adormecer e percebi que havia uma notícia de ‘explosão’ em Nova Iorque, mas a informação era escassa, e nessa altura estávamos longe de perceber o que se teria passado. Adormeci, e quando voltei a acordar, já era bem claro o que estava a acontecer em Nova Iorque - um estremeção que abalava o mundo. Levantei-me, liguei a televisão e fiquei paralisada. Depois a necessidade de falar com alguém e partilhar uma sensação de medo e de um irreal que não conhecíamos. Lembro-me que nesse dia chegaram uns amigos de longe, e do jantar ter sido a partilha de tudo o que tínhamos visto e de como não sabíamos ainda lidar com o facto. Não sabíamos nós, nem o resto do mundo. Durante o jantar, alguém disse “acho que não vou ser capaz de continuar a viver como vivi até agora”. Na verdade reaprendemos tudo, mas a imagem da destruição das Torres Gémeas permanece tão nítida na minha cabeça, como se tivesse sido ontem. Nítida e ao mesmo tempo como se pertencesse ao universo dos filmes.



Luís Filipe Rodrigues
(jornalista da Time Out)

Estava de férias, mas por acaso não estava na piscina. Estava a jogar Championship Manager (o 00/01, presumo), mas por acaso tinha a televisão ligada (na RTP1, creio). Quando o pivô disse que um avião tinha batido numa torre pensei uma asneira. Quando vi, em directo, o segundo avião comer a segunda torre, pensei duas ou três asneiras. Não mudei mais de canal, mas também não abdiquei do inútil gozo de jogar um bom jogo de CM, como os persas daquele poema do Ricardo Reis. Lembro-me que, naquele dia, a América mudou e um homenzinho incompetente, filho de outro tão mau mas mais competente, entrou para a história. Lembro-me que, naquele dia, o Zidane foi o homem do jogo quando a minha Juve ganhou a Liga dos Campeões.
Passei o dia de pijama.