terça-feira, novembro 30, 2010

Mario Monicelli (1915 - 2010)


Foi um dos príncipes da idade de ouro do cinema italiano, tendo deixado uma obra multifacetada, da comédia ao drama, incluindo títulos como Totò entre Mulheres (1952, co-realizado com Steno), Gangsters Falhados [foto em baixo] (1958), A Grande Guerra (1959), Casanova 70 (1965), Queremos os Coronéis (1973), Oh! Amigos Meus (1975) e O Pequeno Burguês (1977) — Mario Monicelli dera entrada, há poucos dias, num hospital de Roma, sofrendo de cancro da próstata; suicidou-se, lançando-se de uma janela, no dia 29 de Novembro, contava 95 anos.
Ligado a uma geração que incluia, entre outros, Steno, Mario Camerini, Pietro Germi e Mario Soldati, Monicelli — argumentista e realizador — acabaria por integrar uma "segunda linha" do cinema italiano (algo ofuscada, no plano internacional, pelos nomes de Fellini ou Antonioni), afinal essencial na dinâmica temática e estética de uma produção empenhada em conservar uma forte dimensão social, embora superando os limites da herança neo-realista. A sua capacidade de caracterização de personagens de todas as classes sociais foi sempre indissociável de um notável labor com uma vasta galeria de actores, incluindo Totò, Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Alberto Sordi e Claudia Cardinale. A Academia do Cinema Italiano distingui-o, em 2005, com um Prémio David di Donatello pela sua carreira.


>>> Obituário no Corriere della Sera.
>>> Obituário no jornal The Guardian.
>>> Site oficial de Mario Monicelli.

Irvin Kershner (1923 - 2010)


Foi o realizador de O Império Contra-Ataca (1980), o segundo episódio filmado (quinto na estrutura geral da obra) da saga Star Wars, de George Lucas; pelo facto de a sua rodagem ter decorrido, em grande parte, nos Elstree Studios, de Londres, numa altura de grande mobilização de cineastas britânicos por parte de Hollywood, era por vezes tido como um inglês a que Lucas recorrera, para se empenhar mais na gestão global da produção — o certo é que Irvin Kershner era americano, nascido em Filadélfia; faleceu no dia 27 de Novembro, em Los Angeles, contava 87 anos.
Com uma carreira repartida pela televisão e cinema, terá tido um dos seus momentos mais brilhantes na direcção de A Fine Madness/O Malandro Encantador (1966), uma comédia com Sean Connery. Reencontraria o actor no seu insólito e "envelhecido" retorno à personagem de James Bond, em Nunca Digas Nunca (1983). Kershner era professor de escrita dramática na University of Southern California. Nos últimos tempos, tinha-se dedicado, em particular, à fotografia.

>>> Obituário no Variety.

Ao estilo 'karaoke'


E depois dos volumes 1 e 3, a terceira parte de Body Talk não é mais senão uma súmula de momentos deses dois álbuns, aos quais Robyn junta alguns temas novos. Dance Hall Queen surge entretanto com novo teledisco. Aqui ficam as imagens, que têm a assinatura de Diplo, Red Foxx & Pomp&Clout.


O novo disco de David Lynch

David Lynch regressa aos discos e anuncia para 2011 a edição de um álbum feito com electrónicas. Para já foi esta semana lançado um single de antecipação. Trata-se de um double A-side com os temas Good Day Today e I Know.

Podem ouvir um dos temas do novo single aqui.

Novas edições:
Brian Wilson, Brian Wilson Reimagines Gershwin


Brian Wilson
“Brian Wilson Reimagines Gershwin”
Walt Disney Records / EMI Music
2 / 5

Ao olhar para a capa do disco nela vemos inscritos dois nomes maiores da história do século XX: George Gershwin e Brian Wilson, o primeiro sendo reconhecido pelo segundo como (explica o booklet) tendo sido o autor da sua mais antiga memória musical. Mas na hora de somar um mais um, o resultado está longe de ser o que, potencialmente, se poderia esperar… Este é um álbum de versões, no qual vemos Brian Wilson a, como o título sugere, reimaginar a música de Gershwin através da sua linguagem… Em teoria a ideia poderia colocar na mesa um desafio, mas na prática o que escutamos não se afasta muito de um aplicar de uma espécie de filtro que transforma Gershwin em peças de pop solarenga, de alma sinfónica e com harmonias vocais (e até parece que estamos a descrever os Beach Boys de meados de 60…). Ocasionalmente o encontro traduz-se em instantes curiosos, como quando I Got Rhythm respira uma pulsão doo wop.It ain’t Necessairly So, um pouco como a restante etapa Porgy & Bess do álbum, é de magra visão (e basta recordar a versão que os Bronski Beat criaram em 1984 para sentir como, de facto, é possível reamiginar esta canção num outro contexto pop). Há duas novidades maiores no alinhamento, correspondendo à cedência (por parte dos herdeiros de Gershwin) de dois fragmentos deixados inacabados pelo compositor aos quais, agora, Brian Wilson deu forma final. São eles The Like In I Love You e Nothing But Love You, o primeiro uma balada longe de surpreendente, o segundo em regime pop à la Beach Boys, em ambos os casos o transformador ofuscando aqui o transformado… Algo decepcionante, este é um disco de versões que, se por um lado mostra como quem as assina deve chamar a sua personalidade às canções, por outro peca apenas por não sair muito do que parece ser um terreno seguro em volta das mais recorrentes e conhecidas marcas de si mesmo, ficando aquém do que de potencialmente interessante haveria a explorar em mais profundos diálogos com as heranças clássicas e jazzísticas da música de Gershwin.

Três olhares por Berlim (2)


Mais três olhares pela cidade, desta vez observando exemplos de arquitectura da segunda metade do século XX, o betão aqui como protagonista. As duas primeiras imagens olham a torre de televisão que mora mesmo em frente à câmara municipal e a paredes meias com Alexandreplatz. A terceira observa um pormenor da Haus der Kulturen der Welt.

Histórias na América profunda

Um dos grandes lançamentos do ano colocou nos escaparates nacionais o magnífico Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson. Este texto foi originalmente publicado na edição de 28 de Agosto do DN Gente.

No posfácio da edição que a Ahab lançou recentemente entre nós (com uma tradução de José Lima), John Updike compara Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, à pintura de Edvard Munch. Em concreto, sublinha que o texto, que entretanto se transformou numa das maiores referências da literatura norte-americana, traça "o esboço de uma população, vista mais ou menos em corte transversal, de uma pequena cidade do Midwest", da mesma forma como os quadros de Munch "são retratos da classe média norueguesa na viragem do século". E conclui que, para ambos, o mais importante nos seus retratos "não são as roupas e os móveis ou sequer os corpos, mas o grito que em si escondem". O livro de pequenos contos, originalmente publicado em 1919, traduz ecos da vivência do próprio autor, que morou em Clyde, outra pequena cidade do mesmo estado norte-americano. Tomando a figura (ficcional) de George Willard, um jovem jornalista do local Winesburg Eagle, como observador, as histórias seguem, cada uma, episódios nas vidas de figuras de habitantes de uma imaginária Winesburg que Sherwood Anderson terá criado de ecos de gentes e histórias que conheceu na região. Inquietude e solidão, fé e medos, habitam entre estas histórias atentas a casos e figuras bizarras (e não são poucas em Winesburg!). Narrativas que não só sugerem o retrato de uma pequena comunidade como em conjunto captam a alma de um tempo na história da América profunda.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Leslie Nielsen (1926 - 2010)


Foi nos anos 1980/90, como rosto da série Naked Gun (entre nós: Aonde É que Pára a Polícia), que Leslie Nielsen se tornou uma figura eminentemente popular, mesmo junto daqueles que não o identificavam pelo nome. Em boa verdade, a sua imagem de marca, interpretando personagens mais ou menos distraídas ou desastradas com a pose empenhada de um gentleman, tornou-se indissociável do género cómico pelo menos desde o sucesso de Aeroplano (1980). Em todo o caso, as suas raízes eram eminentemente teatrais, tendo estado ligado à Neighborhood Playhouse, de Sanford Meisner. Antes de Aeroplano, os seus papéis mais importantes ocorreram num clássico da ficção científica, O Planeta Proibido (1956), e num "filme-catástrofe", A Aventura do Poseidon (1972). Com uma longa carreira televisiva, repartida por muitas séries (Alfred Hitchcock Presents, Peyton Place, Dr. Kildare, etc.) e telefilmes, Leslie Nielsen manteve-se em actividade até final — nascido a 11 de Fevereiro de 1926 em Regina, Canadá, faleceu a 28 de Novembro num hospital de Fort Lauderdale, Florida.

Séries televisivas: as regras e as excepções


Para o melhor e para o pior, o espaço televisivo tem a série como elemento fulcral — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 de Novembro), com o título 'As séries e as excepções'.

O aumento exponencial do consumo de séries televisivas gerou um mito simplista. Segundo ele, face à infantilização do cinema (que existe em algumas áreas, como é óbvio), a “ousadia” e a “experimentação” teriam passado por completo para o domínio da televisão.
Como sempre, a televisão vive as contradições próprias das suas muitas regras e poucas excepções. Assim, algumas séries, que no seu arranque se distinguiram por variações temáticas mais ou menos surpreendentes, têm-se prolongado ingloriamente por sucessivas temporadas. É o caso de Erva, bizarra comédia familiar sobre os circuitos suburbanos das chamadas drogas leves, agora transformada numa colagem “burlesca” cada vez mais gratuita. É também o caso de Nip/Tuck, visão desencantada do dia a dia de dois especialistas em cirurgia plástica que se foi reduzindo a uma inconsequente parada de “monstros”.
Vale a pena, por isso, destacar as excepções, a começar inevitavelmente por Mad Men. Com a terceira temporada a passar na RTP2 (e a quarta na Fox Next), este retrato de uma agência de publicidade de Manhattan, no arranque da década de 1960, consegue a proeza de satisfazer uma lógica (televisiva, precisamente) de reconstituição de época sem nunca ceder a qualquer determinismo narrativo ou simbólico, gerando um clima de fascinante ambivalência em que a ironia moral vai a par de uma densidade visceralmente trágica. Mais recente é o caso de Uma Família Muito Moderna (Fox Life), brilhante série de comédia que integra uma insólita dimensão “documental”, desse modo desmontando também o espontaneísmo de muitas formas televisivas de encenação.
Sendo a produção televisiva uma área que, por definição, favorece a repetição, a rotina e o academismo, Mad Men e Uma Família Muito Moderna exemplificam uma atitude de permanente questionamento dos seus próprios modelos. É uma lição, de uma só vez artística e económica, que demonstra que o domínio unilateral da telenovela não decorre de nenhuma “naturalidade” estética ou financeira: é antes o resultado muito directo de opções concretas de programação.

Primeiros sinais para 2011


A The Go! Team prepara-se para apresentar um novo disco de originais. O álbum tem data de lançamento agendada apenas para Janeiro de 2011. Mas está já disponível um cartão de visita, na forma de T.O.R.N.A.D.O. Aqui fica o teledisco, realizado por James Slater.

Hurts lançam single de Natal

Os Hurts vão editar um single de Natal. O tema, All I Want For Christmas is New Year’s Day terá edição no iTunes a 14 de Dezembro.

Novas edições:
Kanye West,
My Beautiful Dark Twisted Fantasy


Kanye West
"My Beautiful Dark Twisted Fantasy"

Roc-A-Fella / Univrsal
5 / 5

Ainda é cedo para grandes comparações. E fazer opinião sobre tamanho conjunto de acontecimentos em regime de contra-relógio pode ser mesmo injusto para uma eventual visão mais bem sedimentada que o disco possa entretanto vir a definir… Mas siga, que a lógica é assim há anos e escreve-se preferencialmente sobre os discos logo quando são editados. Não se faça excepção. E parece, pelo menos evidente, que não se termina um primeiro contacto com My Beautiful Dark Twisted Fantasy como quando se sal do cinema e diz “é o melhor filme que vi”, repetindo a dose com um outro filme, daí 15 dias… Há já certezas claras, uma delas a de que aqui temos um dos melhores discos que o universo do hip hop nos colocou pela frente nos últimos anos. Adjectivos carregados de entusiasmo não têm faltado para descrever o disco e alguns são mesmo justificados. Trata-se de uma obra de grande fôlego, de alma épica (eventualmente com traços de megalomania, mas bem resolvidos por uma produção bem arrumada). O quinto álbum de Kanye West pode ser o corolário do que a sua obra até aqui havia sugerido. Talvez não seja ainda a obra “total” na acepção wagneriana do termo, mas trata-se de uma visão que transcende códigos de género para assimilar espaços e experiências num todo absolutamente coerente e consequente. O hip hop é aqui como uma estrutura óssea. Suporta o corpo, garante a sua solidez e estrutura os movimentos. Mas há músculo e outros tecidos em volta. Da pop irresistível de All The Lights (onde, depois de uma introdução ao piano com Elton John, encontramos colaborações vocais de Rhianna a Elly Jackson, dos La Roux, passando por Fergie e Alicia Keys), e um ao sinfonismo de alma soul de Dark Fantasy, escutando interessantes fundos texturais em olhares mais próximos das linguagens do hip hop em So Appaled, com pérolas maiores em composições de pura excelência como Runaway, Blame Game ou Lost In The World (com Bon Iver, recuperando neste tema o auto-tune que tanto deu que falar no álbum anterior). E pelo meio há samples de Mike Oldfield, de Manu Dibango, Aphex Twin, os Turtles ou King Crimson… Chega-se ao fim com vontade de regressar ao início e a certeza de se ter escutado um disco que vai ficar na história. Resta saber como a história o recordará. A nós resta-nos saber dar-lhe tempo.

Três olhares por Berlim (1)


Três olhares sobre Berlim. Olhares em torno do pólo arquitectonicamente deslumbrante que hoje mora em torno de Potdsamer Platz, olhando em concreto alguns dos edifícios de escritórios que ali encontramos. Na terceira imagem, um conjunto de espelhos junto a uma das entradas da estação ferroviária.

Rascunhos apresentados


No fundo, e quando possível, era assim que devia ser sempre… Se um disco é um retrato de um conjunto de canções, porque não um tempo de reflexão entre o rascunho e a passagem a tinta permanente? Tempo que, com a apresentação das canções frente a uma plateia, gera diálogo, confronto de ideias, o traço aqui ou ali ajustando-se depois à forma final das canções (se é que a tal forma final alguma vez existe, que as canções vivem e transformam-se sempre que cantadas uma vez mais), um pouco como a vida de palco, em digressão, acaba muitas vezes por fazer. Sérgio Godinho levou os rascunhos quase prontos de um novo disco, a gravar e editar em 2011, a três noites de casa cheia na Culturgest. Não faltaram alguns mergulhos no passado, do mais remoto (na forma de um Pode Alguém Ser Quem Não É para voz e guitarra) ao mais recente (O Velho Samurai), sendo que o foco das atenções estava claramente projectado no que de novo se ia escutar. Os novos rascunhos mostram o que pode ser um passo adiante do que ouvimos no seu último álbum de originais, à assimilação do som que tem desenvolvido nos últimos anos acompanhado pelos Assessores juntando-se novos olhares, nomeadamente através de soberbas colaborações com António Serginho (A Invenção da Roda) ou Bernardo Sassetti, de uma música deste último e uma letra de Sérgio Godinho tendo nascido talvez a melhor das canções da noite. Bela ideia a que junta canto e fala em Mão na Música (pede claramente faixa um no alinhamento, com ‘reprise’ no final, tal e qual sugerido em palco). Sente-se um single potencial no festivo encontro da tradição popular com as linguagens do nosso tempo em Vá Lá. Outro instante de boa carpintaria mostra-se em Eu Vou a Jogo. Faz Parte (O Regresso das Audácias), estreado no espectáculo Três Cantos, com José Mário Branco e Fausto, ganhou já segura forma final. Já a Bomba-relógio, que arranca com uma bela ideia instrumental, ainda precisa de algum tempo para apurar... Rascunhos mostrados. Venha então o álbum que, a editar num ano em que se assinalam os 40 da edição do EP Romance de Um Dia na Estrada (o primeiro disco de Sérgio Godinho) reforça a ideia de que esta é uma obra ainda em construção.

domingo, novembro 28, 2010

1970/80 — Nova Iorque nas imagens de James Hamilton

Patti Smith
1970

É difícil acreditar que eles tenham sido tão novos... Assim se escreve na Vanity Fair, apresentando as fotografias de uma série de personalidades da música, obtidas por James Hamilton, para o jornal The Village Voice, ao longo das décadas de 1970/80. Nico, Debbie Harry, Patti Smith, Madonna, LL Cool J, os Sonic Youth e os Ramones são alguns dos protagonistas de um portfolio carregado de verdade e nostalgia, agora editado em livro — a edição é de Thurston Moore e o título You Should Have Heard Just What I Seen.

Branford e Wynton Marsalis
1982

sábado, novembro 27, 2010

Luz e sombras de Bruce Springsteen (2/3)


[1] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a segunda parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro).

A 22 de Maio de 1974, no jornal de Boston The Real Paper, o critico de música Jon Landau escreveu uma das frases mais célebres da história da música popular americana: “Eu vi o futuro do rock and roll e o seu nome é Bruce Springsteen”. Landau reagia assim a um concerto de Bruce no Harvard Square Theatre e o mínimo que se pode dizer é que, como num filme, esse foi o princípio de uma bela amizade: Bruce acabaria por contratar Landau que, além de produzir o seu álbum seguinte, Born to Run (1975), se transformou num fundamental colaborador e conselheiro.
Curiosamente, a frase de Landau surge quase sempre citada de forma incompleta, omitindo as palavras que se seguem: “Numa noite em que experimentei a necessidade de voltar a sentir-me jovem, ele devolveu-me a sensação de estar a ouvir música pela primeira vez.” Na sua perspicácia, o crítico reconhecia em Bruce o poder encantatório de renovar uma promessa lendária da cultura pop: a de viver uma eterna juventude.
Mas os tempos estavam também ensombrados pela irreversível degenerescência da cultura “hippie” e, sobretudo, nos EUA, pela proximidade muito palpável das feridas da guerra do Vietname. Com a reedição de Darkness on the Edge of Town, o álbum de 1978 que Bruce gravou a seguir a Born to Run, podemos redescobrir agora as convulsões dessa época em que, em boa verdade, não havia nenhuma certeza capaz de unificar a música popular anglo-saxónica. O ano de 1977 envolvera mesmo dois acontecimentos de dramático simbolismo: a edição do álbum homónimo de The Clash, celebrando todo o desencanto agreste do movimento punk, e a morte de Elvis Presley (a 16 de Agosto, contava apenas 42 anos), porventura o derradeiro ícone de um imaginário desesperadamente juvenil.
Para Bruce, o momento implicava o confronto com uma encruzilhada cultural e pessoal. Cultural porque a sua ligação a um rock mais tradicional, sempre tocado pela herança folk, parecia fora de moda ou, pelo menos, estranha aos entusiasmos do triunfante disco sound (vale a pena recordar que o filme Febre de Sábado à Noite, com música dos Bee Gees, lançado em finais de 1977, viria a transformar-se num dos maiores sucessos do ano de 1978); pessoal porque restava esclarecer até que ponto o seu labor ficaria encerrado do espaço mais “alternativo” dos dois primeiros álbuns, os magníficos Greetings from Asbury Park, N. J. e The Wild, the Innocent and the E Street Shuffle, ambos publicados em 1973.
A resposta contida em Darkness on the Edge of Town adquiriu um valor tanto mais emblemático quanto o tempo mostrou que pode sintetizar algumas das componentes vitais do universo criativo de Bruce. Por um lado, este é um álbum que celebra a enérgica crueza de um som que teria o seu momento mais popular no lendário Born in the USA (1984); por outro lado, há nele uma dimensão intimista que se viria a ampliar no minimalismo técnico de Nebraska (1982) e também na comovente introspecção desse diálogo com a dolorosa herança do 11 de Setembro que foi The Rising (2002). As sombras a que se refere a canção título surgem, afinal, contrariadas pela luminosidade de canções definitivamente adultas. Em The Promise Land, Bruce canta mesmo: “(...) não sou um rapaz, não; sou um homem / e acredito numa terra prometida”.

50 x Disney


Tangled/Entrelaçados, baseado num conto dos irmãos Grimm, é a 50ª longa-metragem de animação dos estúdios Disney [estreia portuguesa: 16 de Dezembro]. Razão para revisitar memórias e fazer um trailer citando todos os 50 títulos que definem um capítulo à parte, não apenas das memórias de Hollywood, mas também da história do entertainment — é uma saga que começa em 1937, com Branca de Neve e os Sete Anões.

Erwin Olaf: viva o teatro!

Anjos na América

Novo e fascinante portfolio do holandês Erwin Olaf — para a abertura (28 de Novembro) do Teatro DeLaMar, em Amsterdão, Olaf fez uma série de oito imagens celebrando referências clássicas e modernas do universo teatral, num registo ambíguo, hiper-realista ma non troppo, cruzando a memória mitológica das peças e a sua consagrada iconografia de palco. São quadros vivos paradoxais, totalmente artificiosos, visceralmente carnais.

>>> DeLaMar no site oficial de Erwin Olaf.
>>> Site oficial do Teatro DeLaMar.

À Espera de Godot

Amadeus

Para redescobrir Manuel Guimarães


Manuel Guimarães (1915-1975) é um daqueles nomes do cinema português que, nas últimas décadas, tem permanecido numa zona vaga de esquecimento e desconhecimento. Felizmente, agora, graças ao trabalho da editora Costa do Castelo — com cópias restauradas pela Cinemateca Portuguesa —, torna-se possível reavaliar os desafios, e também os limites, de uma obra que se enraizou algures entre um programa estético de reconversão da herança neo-realista e uma vontade de problematização crítica da sociedade portuguesa do Estado Novo. São cinco os títulos editados:

* SALTIMBANCOS (1951)
* NAZARÉ (1952)
* VIDAS SEM RUMO (1956)
* A COSTUREIRINHA DA SÉ (1958)
* O TRIGO E O JOIO (1965)

É uma oportunidade de redescoberta de todo um capítulo da produção portuguesa, tanto mais importante quanto susceptível de superar a herança de muitos clichés estéticos ou políticos. Além do mais, passa por aqui uma galeria de actores que importa não esquecer — entre eles: Virgílio Teixeira, Milú, Eugénio Salvador, Jacinto Ramos e Artur Semedo.

sexta-feira, novembro 26, 2010

Pela bolsa de valores futebolísticos


Que não haja equívocos: não se trata de lançar qualquer suspeita de simpatias esclavagistas. Trata-se, isso sim, de voltar a lembrar que somos feitos das linguagens que usamos — sendo o jornalismo uma das artes mais exigentes na consciência, métodos e efeitos de tal uso.
Na prática, o que aqui desaparece é a dinâmica do próprio dispositivo económico-financeiro em que o futebol existe (como quase todas as actividades criativas, entenda-se), proclamando uma equivalência crua entre o homem e o dinheiro: não é a possível transferência de um jogador que se noticia — é o jogador que está à venda. A desumanização é isto. Informativa, ainda por cima.

E chegam as primeiras imagens


Sufjan Stevens está a começar a revelar imagens para acompanhar as canções do fabuloso The Age Of Adz. Aqui fica o teledisco que acompanha Too Much. A realização é de Deborah Johnson.

Novo álbum de B Fachada em Dezembro

B Fachada vai lançar mais um disco ainda este ano. Trata-se de um álbum, ao qual deu o título B Facahda é Pra Meninos e será o seu primeiro disco gravado com uma banda. A edição está agendada para 10 de Dezembro.

Reedição:
John Lennon, Double Fantasy


John Lennon + Yoko Ono
“Double Fantasy”
Capitol / EMI Music
3 / 5

John Lennon tinha gravado, pela última vez, em 1975. Seguiram-se cinco anos de silêncio para o mundo, a sua vida voltando-se para dentro do espaço familiar. Reencontrando um rumo com Yoko Ono, assistindo ao nascimento e primeiros anos de Sean, John Lennon só voltou a mostrar sinais de vontade em regressar aos discos por alturas de umas férias nas Bahamas, em 1980. Falou primeiro num EP. Mas as canções fluíram… Seria um LP, em parceria com Yoko, cada qual criando as suas canções, arrumando-as umas junto às outras… Num sprint, Double Fantasy nasceu, revelando sinais de atenção ao seu tempo, Yoko procurando outros modos, menos experimentais, de encarar a canção, John aceitando heranças pessoais - como Elvis Presley ou Roy Orbison, que habitam entre as linhas de (Just Like) Starting Over – e procurando novas molduras para a sua muito pessoal forma de contar histórias em canções. É um disco que reflecte um espaço sorridente de vida familiar, as dedicatórias a Yoko em Dear Yoko e a Sean em Beautiful Boy (Darling Boy) sendo clara expressão de um homem feliz. Apesar dos bons momentos – Watching The Wheels e Kiss Kiss Kiss são outros episódios interessantes -, o álbum não está contudo no mesmo patamar de um Plastic Ono Band ou Imagine, o seu estatuto icónico devendo-se sobretudo ao facto de ter representado o seu último disco em vida. Lennon seria assassinado poucas semanas depois do lançamento do álbum, deixando já algumas canções para um outro disco que surgiria, mais tarde, sob o título Milk and Honey. Esta reedição limita-se a apresentar o álbum original com som remasterizado (diferente portanto da remistura que recentemente foi editada com o título Double Fantasy Stripped Down).

Na Berlim de Christopher Isherwood


Foi no número 17 de Nollendorfstrasse que morou o escritor britânico Christopher Isherwood quando viveu em Berlim. A sua passagem está assinalada numa placa junto à porta. As experiências que ali tiveram pólo central inspiraram os seus célebres contos Mr Norris Changes Trains (1935) e Goodbye to Berlin (1939), muitas vezes publicados em conjunto sob o título The Berlin Stories e que inspirariam mais tarde o filme Cabaret, de Bob Fosse. A passagem de Isherwood por Berlim serve também o mais autobiográfico Christopher and His Kind (de 1976).


Christopher Isherwood chegou pela primeira vez a Berlim ainda nos anos 20, na cidade encontrando um sentido de liberdade que lhe permitiria descobrir-se a si mesmo de outra forma que até então não havia conseguido na sua Inglaterra natal. Respirou o ar da República de Weimar, abandonando a cidade em 1933, ano no qual Hitler ascendeu ao poder. As suas histórias e memórias de Berlim cruzam a ficção com uma forte presença do real, servindo-nos retratos de um tempo de mudanças na cidade, as suas gentes e lugares.

Casa de Christopher Isherwood
(não visitável)
Nollendorfstrasse, 17
Metro: Nollendorf Platz (várias linhas de U-bahn)

Quando um palco é casa por três noites


Numa sucessão de três concertos, hoje, amanhã e domingo, na Culturgest, em Lisboa (na próxima semana no Porto), Sérgio Godinho revela o rascunho final das canções que, em 2011 surgirão num novo álbum de originais. Aos concertos chamou Final de Rascunho. O próprio explica, em texto disponível no site da Culturgest, que “na evolução de um processo criativo, há um momento em que, depois de muito rasurar e corrigir e melhorar, se descobre que se chegou ao final do rascunho, ou seja, está-se quase com a canção “fechada”. Fechada porque tomou enfim uma forma satisfatória, e aqui pressupõe-se um grau de exigência que nos satisfaça e nos contente”. Tudo isto mesmo “sabendo que até aos dias da gravação estará tudo sempre e ainda em aberto”… Sérgio Godinho achou assim que “valia a pena partilhar com as pessoas, em primeiríssima mão, algumas dessas canções. Cantando-as e tocando-as, e conversando sobre a sua génese, a sua feitura, dos primeiros acordes ao final de rascunho”. O concerto não se esgota nesta ideia, mas poder escutar estes rascunhos é já motivo suficiente para não perder estes concertos.

Todos os concertos começam às 21.30. Os bilhetes estão já esgotados em Lisboa,

quinta-feira, novembro 25, 2010

Um comboio, aliás um filme, à deriva


Um comboio sem travões... Porquê? Porque alguém se esqueceu de accionar os ditos travões... Será que isto basta para sustentar um filme? A resposta só pode ser inequivocamente negativa — raras vezes se terá visto o "filme de acção" reduzido a tamanho vazio de ideias dramáticas, tudo "disfarçado" com muito barulho para nada. Tony Scott é um bom artesão deste modelo de espectáculos. E Denzel Washington um actor capaz de sustentar personagens de modo subtil, mas intenso. Aqui... meteram folga e o resultado, Imparável, só pode servir para demonstrar como se esbanjam muitos milhões de dólares — 100, para sermos exactos.

Mais um nome para 2011


E começam a juntar-se os nomes para seguir com atenção em 2011. O britânico Jamie Woon é mais um deles. O seu álbum de estreia chega só no ano novo. Mas já por aí se escuta Night Air, single com produção de Burial. O teledisco é de Lorenzo Fonda.

Primal Scream reeditam um clássico

Os Primal Scream vão lançar uma edição comemorativa dos 20 anos do seu clássico Screamadelica. A edição especial junta quatro CD e um disco em vinil. O CD um recupera o álbum, o segundo apresenta um concerto gravado ao vivo em Los Angeles em 1992, o terceiro junta remisturas de temas desse período e no quarto reencontramos o EP Dixie Narco, editado alguns meses depois do álbum. Esta edição especial chega às lojas a 7 de Março.

Novas edições:
Vários Artistas, Kitsuné X Ponystep


Vários Artistas
“Kitsuné X Ponystep”

Kitsuné
3 / 5

Um retrato, tipo Polaroid, do que dita a moda, com ar fresco e garrido de cena hipster, na Europa in de 2010? Et volià: a compilação Kitsuné X Ponystep pode fazer as honras da casa. Na verdade o disco traduz uma história de bom relacionamento entre um par nascido entre Paris e Londres. Tendo revelado nomes como, por exemplo, Yelle, Digitalism ou Two Door Cinem Club, a etiqueta francesa Kitsuné revelou-se como uma das mais interessantes editoras da década dos zeros num comprimento de onda próximo das esferas indie mas com gosto pelas cores da pop e alma de noite dançante (com o electro frequentemente por perto). Por seu lado, a Ponystep não só se afirmou como um importante espaço de informação sobre moda, a noite e a música, como ganhou notoriedade ao criar festas em nome próprio. O entendimento não deve ter sido difícil. E a compilação, com selecção e mistura a cargo de Jerry Bouthier, traduz uma das visões possíveis do que estev “in” em 2010. Não como um catálogo de linhas, cores e sons, mas servindo, como quando se chega a uma festa, de um conjunto de impressões que, juntas, servem um retrato. Entre o electro e periferias indie vive um alinhamento por onde passam (muitas vezes em remisturas) temas de nomes como os de Roisin Murphy, Lindstrom (espantosa remistura do fabuloso I Feel Space), Bag Riders ou Adamski (há que anos que dele não se ouvia falar!)… Já o booklet serve o discurso do método, com um texto de Tim Blanks que nos coloca no contexto, as fotos mostrando o “rosto” do que é também moda via Kistuné. Não é “a” compilação de dança do ano, mas um interessante conjunto de experiências entre um dos espaços vibrantes da club culture neste arranque dos anos dez.

A casa da fotografia


Começou por ser apenas uma casa dedicada à enorme colecção pessoal que o fotógrafo Helmut Newton legou a Berlim. Mas com o tempo, e pelo alargar do âmbito das suas colecções e pela forma como têm sido programadas as várias exposições, transformou-se num museu da fotografia. O Newton-Sammlung mora junto à estação de S-bahn do Zoologischer Gerten. É um edifício imponente, uma das mais célebres séries de Newton dominando a parede frente à escadaria que acolhe quem ali entra. O rés-do-chão apresenta uma colecção de imagens de Newton, a reconstrução de uma sala de trabalho, as suas câmaras e alguns outros objectos pessoais. No piso intermédio estão expostas séries marcantes da sua colecção. No andar superior, as exposições temporárias. Junto à entrada, no piso térreo, a loja do museu apresenta uma boa oferta de livros de arte em geral, com a fotografia naturalmente em destaque.

PS. Fica a foto apenas do exterior. Lá dentro não é permitido tirar fotografias. "Já foram tiradas uma vez", respondeu a senhora na bilheteira. E tinha razão...

Newton-Sammlung
Jebenstrasse, 2
Metro: Zoologischer garten (várias linhas de S-bahn e U-bhan)

Mudar de vida?


Durante anos levou o olhar de fotógrafo aos telediscos, tendo inclusivamente ajudado os Depeche Mode a encontrar uma imagem, tão presente e marcante que foi, sobretudo entre finais dos oitentas e o início dos noventas, a sua relação com a banda. Mas foi já na década dos zeros que Anton Corbijn se lançou no desafio de se sentar por detrás da câmara que rodava uma longa-metragem, com a palavra realizador na respectiva cadeira. Começou em terreno relativamente seguro em Control, filme sobre Ian Curtis (e os Joy Division) mais interessando em olhar a figura que o mito (desse olhar nascendo um dos melhores biopics pop/rock já feitos). Agora Corbijn dá um segundo passo no cinema. Sai da sua zina de conforto e entra num terreno de ficção pura. E sai-se bem. Muito bem mesmo.

The American (que entre nós estreia como O Americano, como convém) é um filme de não-acção sobre um assassino profissional. O clima contraria os estereótipos habituais quando se contam histórias de quem puxa no gatilho depois do cheque depositado na conta… George Clooney (num dos seus melhores papéis) veste a pele de um assassino profissional que, numa aldeia italiana, longe de tudo (ou que ele imagina longe de tudo) tenta mudar de vida. Não são contudo os fantasmas da sua vida profissional quem o persegue, mas figuras reais e contas por ajustar, o sonho de uma “vida normal” revelando por vezes as sombras de pesadelos que o não abandonam…


Corbijn segue a história sem a necessidade de mudar de plano a cada mão cheia de segundos. Contempla assim aquele de quem se fala e, sobretudo, integra-o no espaço onde procura uma nova vida. O olhar do fotógrafo a marcar pontos, portanto… De resto, é da relação espantosa entre a velocidade da não-acção e a placidez do mundo ao seu redor que vive a aparente calma que serve de pano de fundo a um filme que mostra como Anton Corbijn tem mais que contar que apenas pequenos quadros de três a quatro minutos para servir canções deste ou daquele.



Imagens do trailer de O Americano.

Sigmund Freud não fez greve


PIERRE BONNARD
Dois Cães numa Rua Deserta
c. 1894

É bem verdade que o imaginário tele-futebolístico contaminou todas as áreas do viver social. Assim, sempre que se referem resultados de jogos, emerge como uma espécie de castigo divino a noção de que os números são "justos" ou "injustos"... Coitadas das equipas que passam 89 minutos fechadas na sua área, mantendo a baliza inviolável, e conseguem um golito milagroso aos 90: estão fora da lei porque, dizem quase todos os comentadores, protagonizam uma injustiça!
Não admira que a greve seja tratada da mesma maneira: de todas as áreas políticas, os actores sociais assumem-se como vencedores de um mero processo de quantificações. O que pressupõe uma forma trágica de esvaziar qualquer confronto político: imagina-se a transformação social a partir de uma guerra pueril em que cada um acena, heroicamente, com a milagrosa justiça do seu número — "O meu é maior que o teu!" (Freud explica).
Entretanto, desenha-se a hipótese de um confronto militar entre as duas Coreias, capaz de fazer explodir o planeta... Ainda bem: eis uma boa nota de rodapé, para depois do apocalipse benfiquista.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Christian Tetzlaff: na solidão de Bach


Christian Tetzlaff já tinha estado este ano na Fundação Gulbenkian, dirigindo um concerto que funcionou como lançamento do Festival Mozart. Regressou agora para uma admirável apresentação do conjunto integral das Sonatas e Partitas para violino solo de J. S. Bach.
O menos que se pode dizer é que raras vezes a solidão primordial do violino se expôs em tão depurada austeridade, em nada estranha a uma contagiante delicadeza lúdica. Evitando qualquer exibição gratuita de "versatilidade", Tetzlaff confrontou-nos com uma sonoridade que, para além do seu lugar central no edifício do Barroco musical, persiste como um desafio actualíssimo a qualquer modelo de narrativa — na sua inteligência activa, Bach remete-nos para a possibilidade de uma linguagem total, capaz de abarcar o mundo e refazê-lo numa ordem nova, certamente transcendente.
Ao mesmo tempo, tudo isso pressupõe um paradoxo tão cru quanto insuperável: na sua pose segura de fato preto, rodeado pelos tons castanhos do palco do Grande Auditório, Tetzlaff coloca-nos perante os ecos de um tempo outro em que, de facto, Bach se escutava noutros ambientes, da primeira metade do século XVIII, por certo assumindo poses diversas [a esse propósito, sugere-se a leitura do pedagógico texto de Rui Cabral Lopes no programa de sala].
Terão, por isso, alguma razão, nem que seja utópica, os espectadores que reagem com palmas breves e desordenadas em finais de andamentos intermédios... Não que se menospreze o valor dessa outra ordem, ritualizada, do(s) próprio(s) concerto(s). Mas, em tal excesso, pressentimos a ilusão inversa de nem sequer aplaudirmos, ficando pelo pudor de algum olhar ou gesto de cumplicidade com o músico — e aceitando, felizes, a descoberta da solidão para que Bach continua a convocar-nos.

Segunda geração


Mais um exemplo de segunda geração ao serviço da música. I Blame Coco é o nome do projecto pelo qual se apresenta a filha de Sting, a música seguindo contudo outros caminhos. Numa altura em que está já aí o seu álbum de estreia, aqui fica o teledisco de Selfmachine, um dos singles dele já extraídos.

Cinco noites na Ópera

Rufus Wainwright vai ter uma residência de cinco dias na Royal Opera House, em Londres, em Julho de 2011. Nesses cinco dias o músico vai apresentar em duas das noites o espectáculo de homenagem a Judy Garland, noutras levará a cena uma versão da sua ópera Prima Donna. Martha Wainwright é, segundo a BBC, uma das presenças já confirmadas em palco.

Novas edições:
James Blake, CMYK


James Blake
“CMYK”

R&S
4 / 5

A ser preciso apontar um nome como “a” revelação do ano, o de James Blake surge como um dos mais sérios candidatos a chamar a si o lugar. Londrino com educação clássica, tem seguido caminhos que partem de um conhecimento do geometrismo dotado de um desejo de liberdade que se escuta por algumas formas recentes em voga nos espaços da chamada música de dança (mesmo que muitas vezes não sirva para dançar), juntando o interesse pela reflexão sobre texturas e mesmo o silêncio. Mais antigo que o recente (e fabuloso) Klavierweke, CMYK surgiu em cena no final da Primavera deste ano (mas mais vale falar tarde deste EP que deixá-lo para já distante e magra referência, em meia frase, quando, em inícios de 2011, se apresentar o muito aguardado álbum de estreia do músico). CMYK é parte de uma história que estamos a vemos a ser escrita à nossa frente. Diferente de Klavierwerke, CMYK está mais próximo das genéticas que James Blake assimilou junto de escolas r&b e mesmo do jazz, reinterpretando-as numa matriz de micro-acontecimentos entre samples e notas lançadas sobre teclas. São esboços de canções, que semearam ideias quem juntamente com as entretanto ensaiadas no EP que a este se seguiu, permitiram a James Blake encontrar um caminho do qual a espantosa versão de Limit To Your Love (primeiro single do álbum a editar em 2011) é um promissor exemplo.

Berlin, Alexanderplatz


É uma das praças mais centrais de Berlim (e uma das maiores da cidade), tendo representando em tempos o centro da metade Leste nos dias do muro, dela partindo a gigantesca Karl Marx Alee. Surgiu no século XIX orignalmente como um espaço de comércio fora de muralhas, a sua fixação surgindo mais tarde quando ali é levantada uma estação ferroviária. Hoje ainda é um espaço em remodelação. Foi ali que teve lugar a gigantesca manifestação de descontentamento que mobilizou os alemães de leste pouco tempo antes da queda do muro. A história registou entretanto o nome de Alexandreplatz na literatura (num histórico romance de 1929 de Alfred Doblin) e nas suas duas adatpações aos ecrãs, uma delas assinada por Fassbinder.


Há lojas e grandes armazéns à sua volta, um multiplex ali perto. E uma enorme estação de metro, acolhendo linhas de S-bahn e U-bahn (a mais antiga linha ali instalada, a U-2, data de 1901).


Um olhar sobre a passagem que liga Alexanderplatz ao largo contíguo que alberga a torre da televisão e a câmara municipal. Por cima passam as linhas de S-bahn.


Mais três olhares de pormenor em volta de Alexandreplatz… Num final de tarde. Em dia de chuva.