Há um nome a não perder do horizonte sempre que falarmos da música que está a marcar este início de século: Thomas Adès. Nascido em Londres em 1971, o compositor conta já com um expressivo currículo no qual se apresentam obras estreadas por Simon Rattle com a Filarmónica de Berlim, duas óperas, inúmeros prémios , a direcção do festival de Aldeburgh entre 1999 e 2008 e uma extensa discografia, não apenas com registos de obras suas, mas apresentando-o igualmente como pianista e maestro. A sua música comporta ao mesmo tempo um sentido de desafio, mas revela-se no fim absolutamente sedutora, podendo Asyla (obra dos anos 90 disponível em gravação por Simon Rattle com a Filarmónica de Berlim) ser um ponto de partida para quem o queria descobrir. The Tempest, a sua segunda ópera, é contudo uma obra essencial, e a sua gravação editada pela EMI Classics um título-chave num retrato da música do nosso tempo.
Adaptada em 2004 a partir de A Tempestade, de Shakespeare, a ópera The Tempest surge numa gravação notável, registada ao vivo na Royal Opera House durante a reposição da ópera em 2007, num elenco onde se destacam nomes como os de Ian Bostridge, Simon Keenlyside ou Cyndia Sieden, e contando com o próprio compositor à frente da orquestra e do coro residentes. O disco ainda é de 2009, mas é daqueles que ficarão na história da música do nosso tempo. O texto de Shakespeare já tinha sido abordado por compositores, de Purcell a Sibelius ou Berio. Adès segue a história, mas usa em vez do texto de Shakespeare a leitura que Meredith Oakes desenvolveu no libreto. Porém, e como Tom Service destaca no booklet que acompanha o disco, é a música que verdadeiramente surpreende e arrebata em The Tempest. Com profunda carga dramática é uma música expressiva, explorando não apenas as potencialidades das vozes como as da orquestra, naquela que é a obra de maior fôlego do compositor até ao momento. Elogiada nas várias produções (e agora na edição em disco) e já na agenda do Met, em Nova Iorque, para nova produção em 2012, The Tempest é já uma das óperas de referência do século XXI. Falta agora a sua edição em DVD!
Em 2007, em entrevista ao Guardian, Adès descrevia assim a sua visão sobre o trabalho do compositor: “Quando escrevi Asyla pensava que compor música era como sintonizar uma rádio. Era como se a música estivesse na rádio e eu pudesse sintonizar o meu cérebro e encontrá-la. Mas hoje acho que é mais como pilotar um avião – precisamos de aterrar em segurança e de ver os comandos e toda a paisagem, e se entrarmos numa zona de tempestade, temos de saber como manter o controlo de tudo”. The Tempest dá-lhe razão. Em pleno.
Imagens de um excerto da produção de The Tempest em 2007