domingo, abril 04, 2010

Contradições do 3D

Mais um exemplo de como a vida económica do cinema não pode ser reduzida a índices imediatos e (supostamente) grandiosos... — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Abril).

Entre as recentes notícias da economia de Hollywood (as únicas que têm difusão global), ficámos a saber que a nova animação em 3D do estúdio DreamWorks, Como Treinares o Teu Dragão, liderou as bilheteiras dos EUA, com 43,3 milhões de dólares no fim de semana de estreia. O que as notícias quase sempre omitem é que essa liderança teve uma bizarra consequência imediata: na bolsa, as acções da DreamWorks... caíram 9,2 por centro. Porquê? Porque aquele valor fica consideravelmente abaixo dos 64 milhões previstos pelo estúdio e também dos 59,3 milhões que outro título da DreamWorks, Monstros vs. Aliens, rendeu no mesmo fim de semana de 2009. Mais ainda: estreado em 2.178 ecrãs 3D, Como Treinares o Teu Dragão tinha, nesse aspecto, quase o dobro da ocupação de Monstros & Cª.
Há, aqui, um sintoma: mesmo com bilhetes mais caros, o 3D não é uma chave mágica. E há também outra maneira de dizer tudo isto: sem negar as suas potencialidades criativas, importa reconhecer que o 3D está marcado por contradições económicas que nenhuma indústria (produção, distribuição ou exibição) pode ignorar.