terça-feira, março 31, 2009

A nova vida da "Life"

Alfred Eisenstaedt
Marilyn Monroe
1 de Maio de 1953

Estava marcado para 31 de Março de 2009 e assim aconteceu: o novo site da revista Life já está disponível.
Referência mítica do jornalismo e, muito em particular, do fotojornalismo, a Life desapareceu das bancas no ano 2000. Apesar de mais algumas edições isoladas, o certo é que tinha acabado a vida em papel de um projecto que Henry Luce, fundador da Time, pusera em marcha em 1936 — foi publicação semanal até 1972, tornou-se um "especial" irregular até 1978 e, daí até final, manteve-se como mensal. Agora, no site da Life, para além de uma secção de notícias (que mantém uma relação directa com a actividade do grupo em que a Time é o símbolo mais forte), podemos redescobrir as imagens e portfolios da revista, incluindo memórias das grandes estrelas de Hollywood, a cobertura fotográfica da Segunda Guerra Mundial e da guerra do Vietname, reportagens sobre assuntos quentes como a prisão de Guantanamo Bay, temas de desporto, viagens... cães e gatos. Como é óbvio, não falta uma tentadora loja online.

Chris Hondros
Camp X-Ray, Guantanamo Bay
6 de Fevereiro de 2002

Madonna no Malawi

Hoje em dia, muitas vezes, as relações entre celebridades e meios de comunicação adquirem uma dimensão eminentemente bélica. Sobretudo quando as celebridades têm a dimensão de estrela planetária. Veja-se o caso de Madonna e o modo como a adopção do seu filho David, uma criança do Malawi, foi pontuada, em 2006, por infinitas especulações sobre o que Madonna "fez" e "não fez", o que "devia" e "não devia" ter feito — em particular sobre os conflitos que terão existido com o pai biológico de David.
Madonna está de novo no Malawi, país em que ajudou a estabelecer a fundação Raising Malawi, de apoio a órfãos da sida. Está, desta vez, para tratar da possível adopção de uma outra criança, segundo se julga saber uma menina de nome Mercy — de acordo com as notícias, o processo está longe de estar consolidado, desde logo por razões de natureza legal.
Acontece que Madonna aproveitou este regresso ao país para visitar o pai biológico de David. As fotografias que daí resultaram [uma delas aqui reproduzida] são a expressão muito crua — de uma crueza pedagógica, entenda-se — do modo como Madonna sabe lidar com o império das imagens. De facto, depois de tantas especulações (algumas delas, na imprensa inglesa, meramente insultuosas), dar a ver este encontro a três — David, a sua mãe adoptiva e o seu pai biológico — é um acto cristalino: para além da dimensão privada do evento, a sua exposição pública cumpre a salutar função de esvaziar as mensagens difamatórias feitas em nome da "informação".
Moral a reter: por vezes, há guerras em que é fundamental responder redobrando a intensidade do fogo — por exemplo, na quotidiana Guerra das Imagens.

A América de Marilyn Manson

O título do novo álbum de Marilyn Manson (a ser lançado no dia 25 de Maio) é todo um programa: The High End of Low. Terá, aliás, como primeiro single (13 de Abril) o tema Arma... Geddon. Para já, MM oferece We're from America no seu próprio site — é uma canção nacional, não exactamente nacionalista:

We're from america, where we eat our young
We're from America, it's where jesus was born
We're from America, where they let you cum on there faces
We're from America, we speak american

We don't believe in credibility, because we know that were fucking incredible

I want to be a martyr don't want to be a victim,
Be a killer with a gun so they call me a hero,
Want to be a martyr don't want to be a victim,
Be a killer with a gun so they call me a hero

God is an excuse
So sing it with me
We're from America, you can sing it with me

We don't like to kill our unborn, we need them to grow up and fight our wars
We believe in everything we say, we say it because we believe it

We're from America, you can sing it with me
We're from America, we turn literature into litter
We're from America, we believe in being a quitter

I'm in recovery
We're from America, so sing it with me,
We're from America, you can sing it with me

We eat our young

Steven Meisel: imagens de imagens

Que imagens (não) nos dão para ver? Que imagens um fotógrafo produz e integra? Perguntas que passam pela nossa actualidade mediática e desembocam num espantoso portfolio de Steven Meisel — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 de Março), com o título 'O jogo de espelhos de Steven Meisel'.

Há toda uma mitologia, dominadora e impositiva, que faz crer que a análise das imagens é uma tarefa mais ou menos ociosa e fútil a que se entregam alguns patéticos intelectuais. Enfim... Para além do simplismo maniqueísta de tal ponto de vista, acontece que os eventuais significados e significações das imagens passaram a ser matéria de eleição, não da intelectualidade, mas dos discursos mais populistas da televisão.
Veja-se o exemplo recente do penalty mal assinalado por Lucílio Baptista na final da Taça da Liga. Salvo melhor opinião, não foram exactamente os intelectuais (nem os sempre suspeitos críticos de televisão) que ocuparam, literalmente, o país com pueris discussões sobre tudo e mais alguma coisa, à excepção da mais básica imponderabilidade de um lance de um jogo de futebol e da irrevogável natura-lidade de um erro humano. Quantas centenas de vezes foram repetidos aqueles cinco ou dez segundos de um mero jogo de futebol? A nossa lusitana mediocridade mediática chegou ao ponto de secundarizar a visita de Bento XVI a Angola, favorecendo antes uma avalancha da mais genuína obscenidade jornalística. Foi pena que a Igreja católica, tão tradicionalmente vocacionada para chamar a atenção para os desequilíbrios morais da sociedade, não tivesse vindo chamar a atenção para esta violenta pornografia futebolística: teria, a meu ver, toda a legitimidade para o fazer.
Vale a pena perguntar, por isso mesmo, como é que os criadores de imagens reagem a este estado de coisas em que, já não os espaços da crítica, mas o jornalismo populista, insiste em transformar cada espectador num “semiólogo” de sofá. Vale a pena, sobretudo, tentar perceber se ainda conseguimos olhar sem esquecermos que uma imagem é um objecto convulsivo de significações que nunca cicatriza num sentido definitivo. Dito de outro modo: a história de uma imagem é também a história das suas sucessivas apropriações e dos olhares que sobre ela se depositam. Roland Barthes ensinou-nos isso há muitos anos (por exemplo, com o seu célebre ensaio sobre Ivan, o Terrível, de Eisenstein), mas é óbvio que a ideologia televisiva só pode menosprezar a herança de Barthes.
Um exemplo recente dessa consciência crítica da imagem chega-nos do espaço da moda, mais concretamente através da edição de Março da Vogue italiana. As novidades da moda de Primavera são objecto de um espantoso portfolio do veterano americano Steven Meisel (nascido em 1954, foi ele que, em 1992, fotografou o livro Sex, de Madonna). Em vez de se limitar a fotografar os modelos com as novas peças de guarda-roupa, Meisel cria um verdadeiro jogo de espelhos que, passa, ironicamente, pela “duplicação” das imagens. Assim, há modelos que são fotografados numa espécie de armários/jaulas de vidro, ao mesmo tempo que fotografias dos respectivos rostos surgem nas paredes; cá fora, outros modelos expõem as novidades de cores mais garridas.
O resultado tem qualquer coisa de inapelavelmente sarcástico. E também de subtilmente pedagógico. Meisel dá-nos a ver um facto muito simples e também muito esquecido: vemos alguém através da sua imagem e, ao mesmo tempo, tendemos a esquecer que essa imagem não esgota a identidade da pessoa. Quanto mais imagens temos, mais cada imagem existe apenas como um lugar de passagem para um possível melhor entendimento do mundo. A não ser, claro, que reduzamos as imagens a objectos inquestionáveis. Pormenor nada acidental: o portfolio de Meisel tem o título “Somos escravos dos objectos à nossa volta”.

Com tempero 'country'

Regressamos ao recente álbum de Lilly Allen It’s Not Me It’s You, para ver o teledisco do segundo single dele extraído. A opção recaiu sobre Not Fair. Com tempero a programa televisivo de música country...

Primeiras impressões... do quarto disco

Os Strokes estão já a trabalhar no sucessor de First Impressions Of Earth. Julian Casablancas disse á Rolling Stone que os ensaios estão a correr bem e que têm jã três canções prontas. Descreve-as como algo entre os anos 70 (citando concretamente Thin Lizzy e Elvis Costello) e uma “bizarra música do futuro”... Esperemos para ouvir...

Em conversa: Ambrose Field (2/2)

Concluímos hoje a publicação de uma entrevista com o compositor britânico Ambrose Field, que serviu de base a um artigo publicado no DN a 27 de Março. A conversa tem como ponto de partida o álbum Being Dufay, que acaba de ser editado no catálogo da ECM e no qual texturas electrónicas envolvem e dão novo corpo a canções e motetes de Guillaume Dufay, um compositor do século XV. Na imagem vemos Ambrose Field (à direita), junto ao tenor John Potter, que também participa neste disco, em plena apresentação ao vivo desta música, acompanhada por projecções.

Porque optou por Guillaume Dufay, e não outro entre os seus contemporâneos, como ponto de partida para esta obra?
Escolhi Dufay porque foi um verdadeiro inovador. Conseguiu ligar ideias de estilo musical e cultura de uma forma que mais nenhum dos seus contemporâneos atingiu. E desenvolveu uma série de técnicas para poder abordar material pré-existente. Era por isso o “candidato” ideal. Ainda por cima as linhas vocais da sua música são extremamente belas, partilhando em comum algumas características com a construção da música popular contemporânea.

Trouxe a música de Guillaume Dufay para um outro tempo e lugar, integrando-a depois na sua própria música. Como fez esse jogo de espaços?
A música de Dufay existe num espaço acústico no disco, permitindo ao ouvinte usar a sua imaginação projectando um tempo, um espaço. Essa resposta individual é muito importante para mim. Para mim, de resto, a música deve ser uma experiência pessoal.

Como é que este disco o faz pensar sobre a relação que a arte do presente pode ter com a memória?
Há aqui uma característica importante, que é o facto de Being Dufay não se comprometer com questões de estilo. Nenhum género se curva perante outro... Há aqui dois tipos de música que, na verdade, correm lado a lado, em paralelo.

Este disco é a porta para outras incursões suas pela música vocal?
Estou a trabalhar num novo conceito entusiasmante neste momento...

Porque escolheu o tenor John Potter para gravar consigo este disco?
Trabalhei com o John [Potter] pela primeira vez há já algum tempo num trabalho que me foi pedido para um festival em Vigeviano, em Itália. Mais tarde, essa peça que apresentámos teve uma resposta fantástica depois de ter ser transmitida pela BBC. E então resolvi desenvolver as ideias que nos levaram até este disco.

Philip Glass uma vez disse que havia quem gostasse da sua música porque era clássica e quem gostase porque não era clássica. O que nos mostra, no que tem assinado como compositor, não está longe desta visão dele... Como se sente nesta terra de ninguém entre a música clássica e a música popular?
Glass acertou aí! Não importa qual é o rótulo que nos querem dar. Para muitos, porque não nos comprometemos ou não alteramos os originais, isto pode ser música antiga... Para outros, pode ser música popular. Não importa qual a escolha final... Digamos antes, e apenas, música. E deixemos que o ouvinte decida depois...

Que desafios enfrenta hoje a música electrónica?
O de ser único.

Como se relaciona, em si, o compositor e o professor de música?
O que faço hoje em dia é, acima de tudo, trabalho de composição. Quando ensino [composição] tento depois ajudar as pessoas a encontrar a sua própria voz, o seu próprio estilo. E levar cada um a fazer a sua contribuição individual. Essa é que é a questão! A música não precisa ser replicada. Precisamos de inovação e isso só acontecerá se soubermos apoiar as pessoas, possibilitando que concretizem as suas ideias. Que façam a sua música!

Capas: Peter Saville (2/5)

Segunda capa na série de criações do designer Peter Saville que vamos revisitar esta semana. A memória hoje a recuar a 1980, ao álbum de estreia dos Orchestral Manouevers In The Dark.

Duran Duran deixam editora

Num dos blogues do site oficial da banda, Simon Le Bon anunciou, este fim de semana, que os Duran Duran estão “livres” da Sony. Ponto final assim a uma relação que começou bem, ao som de Astronaut (2004), mas que tropeçou à volta de Red Carpet Massacre (2007). O fracasso do mal escolhido single de avanço Falling Down e os resultados discretos das vendas do álbum na semana de lançamento não conheceram resposta a tempo e horas, tendo havido depois o que pareceu ser um desinvestimento no disco e na banda. Triste destino para um dos melhores discos do grupo... Ainda sem uma editora no horizonte, os Duran Duran estão entretanto a gravar um novo álbum com Mark Ronson como produtor e o baterista dos Kaiser Chiefs como um dos parceiros de escrita... O som que o trabalho de estúdio está a tomar é, como Le Bon sugere, bem distinto do que escutámos no disco anterior...

Juliane Banse: rigor e emoção

Este é um simples, mas veemente, registo de entusiasmo a propósito da passagem por Lisboa do soprano alemão Juliane Banse, no Ciclo de Canto da Fundação Gulbenkian (dia 30, 19h00). Acompanhada ao piano pelo esloveno Aleksandar Madzar, Banse interpretou obras de Johannes Brahms, Karl Amadeus Hartmann e Robert Schumann, num arco emocional que teve o seu clímax no Lamento, de Hartmann, em que ressoam os dramas da alma germânica ferida pelas convulsões do século XX. Senhora de um inexcedível rigor, Banse é uma daquelas intérpretes cuja versati-lidade e amplitude expressiva nunca se afirmam unilateralmente, antes desvendando para o ouvinte a complexidade de texturas que cada frase pode conter.

>>> Site oficial de Juliane Banse.

segunda-feira, março 30, 2009

Jarre & Franju

A propósito da morte de Maurice Jarre, mais do que nunca faz sentido evocar a importância do seu trabalho inicial no interior da produção francesa. Foi ele, aliás, que fez editar este Ma Période Française, CD em que se destacam as bandas sonoras que compôs para os belos filmes assombrados de Georges Franju (1912-1987): La Tête Contre les Murs (1959), Les Yeux Sans Visage (1960) e Thérèse Desqueyroux (1962). Vale a pena, a propósito, ver este fragmento de Les Yeux Sans Visage — a personagem mascarada (a mesma que aparece na capa do CD) é interpretada por Edith Scob, actriz que vimos, recentemente, no papel da mãe no filme Tempos de Verão, de Olivier Assayas.

Rosa, a preto e branco

Regressamos hoje aos Big Pink, uma das bandas que, em Janeiro, aqui apontámos como uma das que teríamos sob atenção em 2009... Duo londrino com nome que evoca um álbum dos The Band ou o segundo mais alto prédio de Portland (no Oregon), os Big Pink procuram encontrar na memória dos Jesus & Mary Chain ou My Bloody Valentine o ponto de partida para a descoberta da sua identidade. Velvet, o seu álbum de estreia, sai dia 20 de Abril. Para já ficamos com o single que lhe serve de aperitivo, precisamente o tema que dá título ao álbum. O teledisco é realizado por Bob Hawkins.

Uma prenda de Dylan

Bob Dylan convida hoje os seus admiradores a uma visita ao seu site. E porquê? Porque ali vai oferecer, e apenas hoje, um download graruito. A canção em questão não é mais que Beyond Heres Lies Nothin’, do seu novo álbum, a editar a 28 de Abril.

Site oficial de Bob Dylan aqui.

Capas: Peter Saville (1/5)

Esta semana visitamos a obra de um dos maiores designers gráficos ao serviço das capas de discos nos últimos 30 anos. Trata-se de Peter Saville, que associamos inevitavelmente ao historial da Factory Records e, sobretudo, a históricas capas que desenhou para os Joy Division e New Order. Esta semana vamos contudo recordá-mo em outras aventuras, umas desses dias, outras mais recentes... Começamos em 1981, com a capa de Rage In Eden, quinto álbum dos Ultravox, o segundo com a formação que assinalou o seu “renascimento”, em 1980.

Em conversa: Ambrose Field (1/2)

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com o compositor britânico Ambrose Field, que serviu de base a um artigo publicado no DN a 27 de Março. A conversa tem como ponto de partida o álbum Being Dufay, que acaba de ser editado no catálogo da ECM e no qual texturas electrónicas envolvem e dão novo corpo a canções e motetes de Guillaume Dufay, um compositor do século XV. Na imagem vemos Ambrose Field (à esquerda), junto ao tenor John Potter, que também participa neste disco.

Como e quando é que a música electrónica chamou a sua atenção?
Creio que deve ter acontecido, em algum ponto, algures nos anos 70, ouvindo discos de bandas como os Pink Floyd e outros nomes do rock progressivo. E também a música de nomes como os Kraftwerk, Brian Eno, Talking Heads. Junto a estes nomes da música popular o que chamava a minha atenção era a forma como a sua utilização das electrónicas amplificava as suas possibilidades musicais, investigando novas áreas. E ainda hoje gosto de descobrir o invulgar... Ao mesmo tempo ouvia também compositores como Toru Takemitsu, Karlheinz Stockhausen ou Arvo Pärt. E nestes, os seus mundos acústicos eram soberbos, detalhados e subtis.

Além de compositor, hoje é um académico. Estudou e ensina música... O que o levou a querer estudar música?
A música permite-nos estabelecer ligações com a personalidade das outras pessoas e eu queria explorar isso mesmo. A dada altura pensei em ser chef, mas não era capaz de cortar os legumes suficientemente depressa...

Como é que descobriu um compositor em si? Teve de contrariar o que aprendeu como estudante para se afirmar depois com uma linguagem própria?
Nunca aprendi a compor, embora as pessoas fossem gostando do que ia criando, sugerindo-me que continuassem, que fizesse mais peças. Para mim a compoisção é uma resposta à cultura a que estamos expostos, ou seja, ao mundo em que vivemos. E nenhum estilo em particular é capaz de traduzir tudo o que existe.

Que referências na música electrónica mais contribuíram para o processo de procura de uma linguagem musical própria?
Não sei se esta obra [o álbum Being Dufay], em particular, revele influências concretas. Creio que sempre gostei de ouvir os mais distintos e variados estilos de música. Tantos quantos pudesse encontrar! A noção de género musical não tem, nunca teve, uma grande importância para mim. O que, assim sendo, me deixa livre para poder fazer explorações sobre o timbre e também sobre o espaço.

A sua música revela um claro interesse pela exploração de texturas. Como pesa a distribuição da melodia e das texturas quando está a compor?
A melodia tem um peso enorme na música. Assim como têm relevo os demais elementos de uma composição. A música em Being Dufay tem muito a ver com a exploração de uma ideia de totalidade, ou seja, nenhum elemento tem mais importância que outro. Esse ponto de partida abre o leque da liberdade de exploração nos mais variados sentidos, pelo timbre, pelo espaço...
(conclui amanhã)

Rumo a Marte, sem sair do chão

Para que a imagem de cima seja possível um dia, ou seja, para que uma missão tripulada chegue a Marte, uma série de passos terão de ser dados antes de tomar decisões. Não apenas no campo da tecnologia (garantindo a construção de uma nave capaz de garantir segurança na ida e regresso) ou no dos dinheiros, sendo sabido que não será coisa barata... Entre a agenda de trabalhos da pré-história de uma primeira missão tripulada a Marte mora uma série de experiências, uma das quais no âmbito do estudo do comportamento. Chama-se Mars 500 e começa amanhã, em Moscovo.

O projecto Mars 500 é essencialmente a simulação de uma missão tripulada a Marte. Ao todo serão 520 dias, traduzindo estes a ida, estada e regresso à Terra... 520 dias durante os quais seis homens viverão isolados num pequeno complexo de exíguas salas, simulando estas o espaço habitável da nave que um dia nos levará a Marte... Amanhã arranca a primeira etapa da experiência, com a tripulação desta simulação a ser fechada neste espaço sem janelas, com mínimos olímpicos de conforto, cada um levando numa mala livros, música ou jogos, nada mais... Serão acompanhados dia a dia, devendo respeitar as rotinas de uma viagem espacial, devendo ter pouco tempo livre... Na imagem uma das salas da nave de simulação, na qual ainda não estão instalados os instrumentos científicos que ocuparão grande parte do dia a dia dos “astronautas” desta simulação.

Maurice Jarre (1924 - 2009)

Ganhou três Oscars, todos com música composta para filmes de David Lean: Lawrence da Arábia (1962), Doutor Jivago (1965) e Passagem para a Índia (1984) — o compositor Maurice Jarre faleceu em Los Angeles, vítima de cancro, contava 84 anos.
Francês, nascido em Lyon, a 13 de Setembro de 1924, Jarre foi uma revelação dos anos 50/60, em especial através da música que compôs para filmes de Georges Franju, incluindo La Tête Contre les Murs (1959) e Les Yeux sans Visage (1960). O seu estilo, dado a grandes dissertações romanescas, ainda que alicerçado numa sólida formação clássica, teria a consagração internacional graças a Lawrence da Arábia. A sua personalidade é fundamental na história da reconversão épica do cinema ao longo da década de 60, tendo composto, por exemplo, as partituras de O Dia Mais Longo (1962), de Ken Annakin, Andrew Marton e Bernhard Wicki, O Comboio (1964), de John Frankenheimer, Paris Já Está a Arder? (1966), de René Clément, Os Profissionais (1966), de Richard Brooks, e Grande Prémio (1966), de novo de Frankenheimer.
Numa filmografia de mais de uma centena de títulos, trabalhou, entre outros, com Alfred Hitchcock (Topázio, 1969), Paul Newman (O Efeito dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas, 1969), Elia Kazan (O Grande Magnate, 1976), Volker Schlondörff (O Tambor, 1979) e Clint Eastwood (Firefox, 1982). O seu filho, Jean-Michel Jarre, é um nome de referência na música electrónica dos anos 70/80 — o próprio Maurice Jarre integrou instrumentos e efeitos dessa área, tendo composto a sua primeira banda sonora totalmente electrónica para O Ano de Todos os Perigos (1982), de Peter Weir.

domingo, março 29, 2009

Scorsese para o Outono

Eis o primeiro cartaz de Shutter Island, de Martin Scorsese, com estreia americana marcada para 2 de Outubro. Em boa verdade, não é ainda um cartaz explícito do filme (o título apenas surge no endereço do site oficial — www.shutterisland.com —, ainda em construção), mas sim aquilo que os americanos chamam o teaser-poster (por analogia com o teaser-trailer).
A pergunta "que aconteceu com a doente 67?" remete para uma personagem que se revela essencial na investigação desenvolvida por dois detectives federais no Ashecliffe Hospital ("Ashecliffe" chegou a ser o título de trabalho do filme), uma instituição vocacionada para o tratamento de criminosos com graves problemas mentais. Baseado no romance homónimo de Dennis Lehane (publicado em 2003, dois anos após o lançamento de Mystic River, depois filmado por Clint Eastwood), Shutter Island conta com Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo nos papéis principais; no elenco surgem ainda, entre outros, os nomes de Ben Kingsley, Michelle Williams e Max Von Sydow.

Memória de Tony Richardson

Natasha Richardson (com uma semana de idade)
com os pais, Tony Richardson e Vanessa Redgrave
— foto publicada pelo jornal The Guardian

A morte de Natasha Richardson trouxe também memórias de seu pai, Tony Richardson, nome fundamental na renovação do cinema britânico dos anos 60 — esta breve evocação foi publicada no Diário de Notícias (28 de Março).

A chocante notícia da morte da actriz Natasha Richardson (no dia 18, vítima de um acidente de esqui, contava 45 anos) permitiu-nos também perceber como a memória cinéfila pode ser redutora. Natasha era filha de Vanessa Redgrave, um dos monstros sagrados do teatro e cinema britânicos. Mas convém acrescentar que o seu apelido profissional nos remete para a herança do pai, Tony Richardson (1928-1991), nomes fulcral da revolução do free cinema, nas décadas de 1950/60.
Juntamente com Lindsay Anderson e Karel Reisz, Richardson apostou numa reconversão crítica dos modelos clássicos, tendo assinado o emblemático Paixão Proibida/Look Back in Anger (1958), com Richard Burton e Claire Bloom, baseado na peça de John Osborne. Tom Jones (1963), adaptado de Henry Fielding (com argumento de Osborne) valeu-lhe os Oscars de melhor realizador e melhor filme. Terminou a sua carreira com Blue Sky (1991), um filme magnífico e atribulado: por um lado, valeu a Jessica Lange o Oscar de melhor actriz; por outro lado, a falência do estúdio produtor (Orion) fez com que só fosse lançado em 1994.

A melhor selecção do mundo?

Se mais provas fossem necessárias do conservadorismo da actual imprensa desportiva portuguesa — com uma multiplicação da oferta que, de facto, não corresponde a qualquer diversificação de olhares, discursos e conteúdos —, estas três primeiras páginas de hoje bas-tariam para esclarecer a situação.
Mas há mais. Assistimos também aqui à manifestação plena do valor descartável que é atribuído aos ídolos que essa mesma imprensa se esforça por promover. Subitamente, Cristiano Ronaldo, o "melhor do mundo", celebrado por campanhas e mais campanhas (e até mesmo por petições online), é reduzido à condição patética de símbolo de todos os males do futebol português. Para além do gratuito de tal asserção — a qualidade de jogo da selecção tem estado a decair, me-todicamente, há vários anos —, há, aqui, uma injustiça desportiva que, em última instância, prejudica o próprio Ronaldo: é até bem possível que os gestores da sua imagem publicitária estejam, muito compreensivelmente, preocupados com esta cruel inversão do seu valor iconográfico.
Enfim, não deixa de ser curioso que os protagonistas que, de facto, tomam decisões e gerem os destinos do futebol português — desde os governantes da área desportiva até ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol — estejam sempre ausentes destes funerais de coisa nenhuma... Isto para além de não se enfrentar o mais básico, quer dizer, o próprio futebol: afinal de contas, quem alimentou a ilusão de que Suécia, Dinamarca ou Hungria eram selecções banais? Quem celebrou a primeira (e única) vitória sobre Malta como se isso fizesse da selecção portuguesa a melhor do mundo?

A América antes de ser... americana

Antes da noção de uma música americana começar a ganhar forma no início do século XX, muitos dos compoistores locais (entre os quais muitos europeus emigrados) mais não revelavam que projecções, a um oceano de distância, de acontecimentos musicais ou linguagens do Velho Continente. Veja-se o caso dos dois concertos que vemos reunidos neste novo disco, um dos mais aplaudidos nestes primeiros meses de 2009. Aqui de juntam duas grandes obras para violoncelo de finais do século XIX: o Concerto para Violoncelo em si menor Op 104, de Antonin Dvorák e o Concerto para Violoncelo Nº 2 em mi menor Op 30, de Victor Herbert, o segundo tendo influenciado orquestração da composição do primeiro. Comecemos por este último. Herbert (1859-1924), irlandês, tinha já trabalhado em orquestras alemãs antes de se fixar em Nova Iorque, em 1886. Ensinou no Conservatório, dirigiu orquestras e ganhou mais tarde notoriedade ao escrever para o emergente cinema e para o palco, tendo composto 42 operetas e peças para as Ziegfeld Follies. O seu segundo concerto, estreado em 1894, usa muitas vezes a melodia quase como numa canção e o seu final sugere os ambientes de uma comédia musical, mas na essência mostra-se ainda muito próximo dos modelos do romantismo europeu. Esteve longe de ser um sucesso, mas surge aqui emparelhado com o concerto de Dvorák, que o escutou na época e se interessou por opções na orquestração de Herbert, de quem foi amigo. O Concerto que o checo Dvorák (1841-1904) compôs ainda esse ano foi a sétima e última obra que assinou durante a sua estada de três anos em Nova Iorque, mas reflecte sobretudo ambientes e memórias europeias. O emparelhar dos dois concertos é uma opção historica e musicalmente interessante por parte do verdadeiro protagonista deste disco, o violoncelista Gautier Capuçon (irmão do violinista Ranaud Capuçon). Aos 27 anos assina aqui um disco que poderá tornar-se uma peça de referência na sua discografia, em gravação com a Orquestra Sinfónica da Rádio da Frankfurt, dirigida por Paavo Järvi.


Outras edições:

Meses depois de um primeiro disco, eis que chega o segundo volume da obra sinfónica de Luis de Freitas Branco (1890-1955) dirigida por Álvaro Cassuto, à frente da RTE National Symphony Orchestra, em edições pela Naxos. A Sinfonia Nº 2, de 1926/27 é a peça central de um alinhamento que junta ainda Depois de Um Poema de Guerra Junqueiro (1909) e Paraísos Artificiais (1910). Nestas duas peças vemos sinais de busca e gosto pela experiência num ainda jovem Freitas Branco, o segundo dos quais revelando o que parece uma curiosidade pelo trabalho dos impressionistas franceses. A Sinfonia Nº 2 mostra, por sua vez, marcas que cruzam a cultura musical do compositor com factos da sua vida, nomeadamente o facto da sua irmã mais velha, a quem a obra é dedicada, se ter tornado então uma carmelita, num mosteiro em Espanha. Ecos de canto gregoriano sentem-se no primeiro e quarto andamentos, lançando reflexões de um homem que, como explica o maestro no texto do booklet, “pela sua natureza e pensamento não seguiu os principios da fé católica em que foi educado”.


É certamente uma das grandes gravações de ópera do momento, registada em estúdio (como poucas vezes se vai já fazendo por estes dias). Duas grandes vozes da nova geração, Anna Netrebko e Elina Garanka são respectivamente Julieta e Romeu nesta adaptação por Bellini (via textos italianos), da história de uma amor trágico que Shakespeare imortalizou. I Capuletti e i Montecchi (o título sublinhando a origem italiana do libreto de Felice Romani) nasceu em 1730 de uma encomenda a contra-relógio pelo teatro veneziano La Fenice ao compositor Vincenzo Bellini. Um mês e meio de trabalho e a ópera estava pronta, usando duas mulheres nos papéis principais como consequência do elenco disponível no teatro, não gostando o compositor do tenor (e de longe pensando usar um barítono para o papel do jovem Romeu). A gravação surge via Deutsche Grammophon, dirigida por Fabio Luisi, frente à Sinfónica de Viena e à Wiener Singakademie.

O futuro, segundo Martin Ware

Martin Ware, ex-Human League e membro dos Heaven 17, apresentou recentemente em Londres o concerto/instalação The Future Of Sound / The Future Of Light, no qual explorou tecnologia que lhe permite a distribuição do som num contexto tridimensional. Para breve anuncia concertos semelhantes em Bristol (Abril) e Gateshead (Maio).

Toda a nudez será online

A nudez é um factor intrínseco da Internet — independentemente do modo como cada um de nós possa reagir a cada uma das suas mani-festações, negá-lo será apenas um inglório acto de cegueira (in)vo-luntária. E porque todas as generalizações — "pró" ou "contra" a nudez — são gratuitas, cada caso é um caso.
Este, que a CNN narra [video aqui em baixo], tem componentes que, no mínimo, suscitam reflexão: na sua origem está uma série de imagens de nus de uma jovem de 14 anos, colocadas no MySpace, não por algum adulto que a manipulava ou alguma rede de exploração humana, mas... por ela própria.
Para além da complexidade da situação (naturalmente tratada de forma a preservar a identidade da jovem), fica uma ideia forte: a de que "proibir" imagens ou "castigar" prevaricadores sem pensar em mais nada é uma atitude muito pouca adulta — trata-se de consciencializar os cidadãos para lidar com uma nova conjuntura tecnológica em que dominam a facilidade de produção/circulação das imagens e, mais do que isso, o nascimento de uma nova iconografia (técnica, fisiológica, política e simbólica) do corpo; trata-se, em particular, de não favorecer esse "liberalismo" irresponsável que não dá o devido valor ao facto de ser necessário confrontar os mais jovens com alguma ideia de ordem.
A ideia, enfim, deixa pelo menos uma pergunta muito directa: consciencializar que cidadãos? Os jovens, como se depreenderá — e também os adultos.

sábado, março 28, 2009

A IMAGEM: Erwin Olaf, 2000

ERWIN OLAF
Jackie O., 12:30 PM
2000

Pete Doherty e os outros

Pete Doherty, talento paradoxal e vulnerável, ex-Libertines, líder dos Babyshambles, estreia-se a solo com o álbum Grace/Was-telands — tudo isso, mais uma agitada existência privada, por vezes demasiado pública, justifica a presença na capa da edição nº 695 (24/30 Março) da revista francesa Les Inrockuptibles. Doherty fala, com sereno desencanto, da velhice (?) aos 30 anos, da solidão no palco, do viver no campo... Entre outros temas deste número, destaque particular para um dossier sobre Alain Bashung, "residente da eternidade", recentemente falecido.
A revista oferece ainda uma excelente compilação em CD, tendo como capa uma das fotos da série "Royal Blood", do holandês Erwin Olaf. Entre os 16 temas, incluem-se algumas boas referências da pop francesa (Dominique A, Joseph Leon), um tema dos Buraka Som Sistema, uma das novas canções de PJ Harvey e ainda um enérgico exemplo do duo belga The Black Box Revelation — chama-se a sua canção I Think I Like You e tem este clip, dirigido por Frank Van Mechelen, variação brilhante sobre o modelo clássico do "teledisco-em-plano-sequência".

A guerra do futebol

Henri Rousseau
O Sonho
1910
Vale a pena registar no nosso calendário mediático: a expressão a guerra do futebol — que já todos usámos para descrever os excessos em torno de um desporto que merece outros olhares mais dis-poníveis e menos belicosos — deixou de ser uma metáfora. De facto, a agitação em torno do penalty mal assinalado por Lucílio Baptista (no passado dia 21, na final da Taça da Liga) deixou um saldo social e simbólico muito preciso: o futebol passou a ser predominan-temente — entenda-se: televisivamente — mostrado e analisado como lugar de uma cultura do conflito permanente. Deixou de interessar o gosto pelo desporto, a paixão pelas especificidades do jogo, até mesmo as salutares rivalidades entre clubes — tudo isso foi esvaziado de sentido: mostra-se futebol, discute-se infinita-mente futebol apenas para instalar e reforçar o sentimento de que é preciso encontrar razões para algum conflito com algo ou alguma coisa. O espaço da comunicação transformou-se num campo de batalha, ao cidadão incauto "exige-se" que escolha uma barricada. O país é apresentado como palco de uma tragédia permanente.

Spandau Ballet, 1980

Na última quarta feira os Spandau Ballet anunciaram a sua reunião, com digressão marcada para o final do ano. Os concertos vão certamente percorrer a carreira do grupo, discograficamente activo de 1980 a 89. Serão recordados temas como True, Gold ou outros tantos que fizeram dos Spandau Ballet a mais desapontante das carreiras nascidas do movimento neo-romântico, em inícios de 80. Com efeito, depois de 1982, o grupo procurou um som mais consensual, menos ousado. Porém, antes desse desvio de caminho, mostraram uma mão cheia de canções nas quais procuravam uma pop com gosto pela dança. Seja com tempero white funk (como em singles do segundo álbum), seja em modelos mais próximos do que, em finais de 70, nascia das visões futuristas das Bowie Nights nos clubes londrinos que ditavam o que era in... Aqui os reencontramos, nos seus melhores dias. Mais concretamente em 1980, com To Cut A Long Story Short, o seu primeiro single.

Capas: Pet Shop Boys (5/5)

Fechamos a galeria de capas de discos dos Pet Shop Boys que fomos apresentando ao longo desta semana com Pop Art, a antologia de 2003 que recolheu os singles editados até então (salvo Absolutley Fabulous). Design pela Farrow Design, para conceito desenvolvido com o grupo.

'Bananaz' em DVD

O documentário de Ceri Levy sobre os Gorillaz, que no ano passado correu o circuito dos festivais de cinema, vai ter edição em DVD. Bananaz deverá ter lançamento global em Junho.

sexta-feira, março 27, 2009

O terrorismo segundo Palahniuk

O novo romance de Chuck Palahniuk [ver post anterior sobre o filme Asfixia] tem esta capa extraordinária. Chama-se Pygmy (à letra: "pigmeu"), alcunha por que é conhecido um jovem que integra um grupo de estudantes provenientes de um estado totalitário, em período de formação nos EUA ao abrigo de um programa de intercâmbio; de facto, têm por missão entrar no universo quotidiano das típicas famílias americanas e perpetrar um acto terrorista não especificado... O romance tem o seu lançamento americano marcado para 5 de Maio. Segundo a editora, Random House, pode ser definido como o resultado do encontro entre O Candidato da Manchúria e South Park!

Asfixia do Sonho Americano

Chama-se Asfixia (original: Choke) porque o seu herói, interpretado por Sam Rockwell [foto] pratica um bizarro desporto: simula que se engasga para atrair a piedade (e o dinheiro...) dos outros. Foi adaptado do romance homónimo de Chuck Palahniuk — esta nota surgiu no Diário de Notícias, a 26 de Março.

Não será um nome muito conhecido, mas o certo é que o escritor Chuck Palahniuk (n. 1962) ocupa um lugar emblemático na história do moderno cinema americano: retratista do desencanto de uma geração sem laços fortes com os pais, vivendo num universo saturado de valores consumistas, Palahniuk teve o seu primeiro romance, Clube de Combate, transformado numa obra-prima de David Fincher (o filme homónimo, lançado em 1999). Agora, outro romance de Palahniuk está transformado em filme: Asfixia (original: Choke) é a história delirante de um jovem (Sam Rockwell) que, além de viciado em sexo, trabalha num parque de diversões onde se encenam “quadros vivos” da história dos EUA, dedicando-se ainda, em restaurantes de eleição, a simular que fica violentamente engasgado de modo a conseguir dinheiro de clientes compadecidos...
A descrição é bizarra e o filme, recheado de um humor muito cruel, não o é menos. Ainda que distante da excelência de Fincher, Asfixia acaba por ser um sarcástico painel sobre os restos morais do Sonho Americano. É a estreia na realização do actor Clark Gregg, nosso conhecido da série televisiva Os Homens do Presidente.

Música para dançar

Chama-se Micachu e é uma jovem autora/intérprete londrina que procura encontrar novas formas de explorar a noção de música de dança, por vezes caminhando em territórios próximos de um som experimental. Junta instrumentos por si fabricados a outros, mais “convencionais”. Acada de editar o álbum Jewellery, no qual se faz acompanhar, em alguns temas, com a sua banda de apoio, os The Shapes. Aqui fica Lips, uma das canções de Jewellery, em imagens captadas entre ensaios, em Brooklyn.

O regresso dos Shins

Não ouviamos falar deles há largos meses... Os The Shins vão regressar aos palcos em Maio. Depois de um ano de férias, a banda tem para já marcada uma série de datas nos EUA e Canadá. Por enquanto ainda não há sinais de novo disco à vista...

Capas: Pet Shop Boys (4/5)

Em Agosto de 1987 a capa do single What Have I Done To Deserve This apresentava uma foto, de Eric Watson, de Neil Tennant e Chris Lowe evocando memórias de 60, frente a uma imagem de 1964 de Dusty Springfield, presente em dueto no single. Design de Mark Farrow, sob conceito defindo com a ajuda dos próprios Pet Shop Boys.

Os 20 anos da Warp

A Warp Records celebra este ano os 20 anos de actividade. A editora independente britânica, que editou nomes como Aphex Twin, LFO, Autechre, Boards of Canada, B12, Jimi Tenor, Nightmares on Wax, Polygon Window ou Vincent Gallo e, mais recentemente, !!!, Battles, Gang Gang Dance, Gravenhurst ou Grizzly Bear entre muitos outros, tem uma agenda que inclui edições comemorativas e uma série de festas em várias cidades. Na lista de edições está uma caixa com temas raros e inéditos e ainda um “best of”, cujo alinhamento será escolhido com a ajuda dos que desde 1989 ouvem os discos da Warp. Dez dos temas da compilação serão escolhidos num site especificamente criado para o efeito. Os restantes temas do alinhamento serão escolhidos por Steve Beckett, o fundador da editora. Ao longo dos próximos meses haverá festas em cidades de três continentes. A primeira terá lugar em Paris, na Cite de La Musique, entre os dias 8 e 9 de Maio. Estão já confirmadas as presenças de Aphex Twin, !!! e Andrew Weatherall, entre outros. Seguem-se festas semelhantes em Nova Iorque (Julho), Londres (Setembro) e Tóquio (Novembro).

Baralhar e voltar a dar (outra vez)

Discografia Duran Duran - 57
'Girls On Film - The Collection' (compilação), 2000

Ainda não havia notícias de uma eventual reunião da formação original mas a memória do catálogo de inícios de 80 dos Duran Duran deu origem a várias compilações desde a saída da EMI. E depois de operações full price, como o foram Greatest e Strange Behaviour, chegaram as compilações a preço económico. Várias, com títulos distintos, mas alinhamentos essencialmente centrados em recolhas de canções da primeira etapa da vida editorial da banda. Um desses discos foi Girls On Film – The Collection, editado no âmbito da série EMI Gold, em 2000. O disco junta essencialmente faixas dos dois primeiros álbuns, acrescentando lados B dessa etapa (Like An Angel até então sem edição em CD). Num alinhamento de 16 temas apenas três são posteriores a 1982, e apenas um escapa à formação original da banda (a versão de White Lines, de 1995). O booklet não apresenta qualquer informação além dos dados técnicos sobre os 16 temas.

quinta-feira, março 26, 2009

Callas — integral

É um daqueles objectos cuja excepcionalidade aconselha alguma contenção nos adjectivos. Digamos, então, para simplificar que a caixa The Complete Studio Recordings reune exactamente aquilo que anuncia: a integral das gravações de Maria Callas (1923-1977) em estúdio, registadas entre 1949 e 1969. Nem mesmo a lendária reverência de Callas pelas performances ao vivo poderá limitar a grandeza desta colecção. Se os números falam por si, lembremos:
— são 70 CD: 69 com música, mais um com imagens e os librettos das óperas gravadas;
— contém 26 óperas (4 delas registadas duas vezes, em mono e stereo), assim como a totalidade dos recitais gravados;
— todos os materiais foram remasterizados digitalmente nos estúdios de Abbey Road.

>>> Este é um pequeno filme de Cosimo Capanni com as mais antigas imagens filmadas de Maria Callas (sem som directo) — dizem respeito a uma encenação da Norma, de Bellini, ocorrida em 1953.

INQUÉRITO: o melhor dos Pet Shop Boys

Chris Lowe e Neil Tennant continuam a dar cartas no mundo da pop: com o recente lançamento de Yes, os Pet Shop Boys completaram a sua primeira dezena de álbuns de estúdio — tudo começou, recorde-se, em 1986, com a edição de Please. Daí a nossa proposta de revisitação da respectiva discografia, perguntando: qual o melhor álbum de estúdio dos Pet Shop Boys?
Como sempre, pode colocar o seu voto na zona de inquérito, na coluna da direita, logo por baixo da informação sobre as estreias de cinema.

Cenários de guerra

Os Department Of Eagles estrearam ontem no MoMA (Museum Of Modern Art), em Nova Iorque, o seu novo teledisco. Trata-se de Nobody Does It Like You, do excelente álbum In Ear Park de finais de 2008, em filme realizado por Patrick Daughters e Marcel Dzama.

Ver o teledisco aqui.

Antony com orquestra

Antony Hegarty anunciou que a seguda etapa da digressão que brevemente passará por Portugal vai levar a palco orquestras de 36 a 52 músicos, para apresentar as canções do seu novo disco e alguns temas mais antigos, sob arranjos de Nico Muhly. Os concertos com orquestra estão a ser agendados para os meses do Verão. As datas já anunciadas para Portugal em Maio (Lisboa no dia 14, Braga a 16 e Porto a 18) não pertencem a este lote de concertos com orquestra.

O mundo, segundo Joni Mitchell

É agora editado entre nós o DVD The Fiddle and the Drum, o respectáculo de dança com canções de Joni Mitchell que precedeu o lançamento do seu mais recente álbum de originais. Em palco vemos a Alberta Ballet Company, numa coreografia de Jean Grand-Maître, que explora, com mote nas canções, reflexões que partem do mundo em que vivemos, do ponto de vista do desequilibrado historial de relações entre o homem e o ambiente. São preocupações que encontramos desde muito cedo na obra de Joni Mitchell, que aqui ganham corpo, movimento e espaço, num espectáculo que junta alguns clássicos e três canções inéditas (entretanto gravadas em Shine).
The Fiddle and the Drum não se esgota contudo nesta lógica “verde”, abrindo também espaço a quadros motivados pela guerra, de resto o tema central de uma exposição de pintura que a cantora estava a preparar quando Jean Grand-Maître a procurou para a desafiar para esta colaboração.
O DVD inclui uma interessante colecção de extras, desde uma explicação sobre a criação conjunta entre o coreógrafo e a cantora a entrevistas com alguns bailarinos e o realizador deste filme. Juntam-se ainda galerias com imagens de alguns dos elementos cénicos usados em palco.

Capas: Pet Shop Boys (3/5)

Para a capa do álbum Very, em 1993, os Pet Shop Boys procuraram o atelier de design Pentagram, pedindo que reinventassem o conceito de packaging que, apesar da massificação da edição em CD, estava ainda essencialmente reduzido a um booklet dentro de uma caixa de plástico. Surgiu assim uma ideia táctil, que fez desta criação um caso de referência na história do design de capas de discos.