segunda-feira, janeiro 26, 2009

"Second Life" e Bresson

O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962), de Robert Bresson

O post que publiquei sobre um texto de Margarida Gil — a pretexto da conjuntura definida pelo lançamento de Second Life e, em particular, pelas declarações do produtor Alexandre Valente — motivaram uma curiosa reacção de um dos nossos visitantes, de seu nome Pedro Bresson. Em mail enviado ao blog, escreve:

>>> Errata:

No parágrafo onde se lê

"Por mim, como sempre, continuo a defender o direito de filmar para alguém como Margarida Gil. Mesmo com filmes péssimos. Tenho consciência das profundas limitações — políticas, práticas e simbólicas — da minha intervenção pública. Mas já é tarde para desistir."

deve ler-se:

"Por mim, como sempre, continuo a defender o direito de filmar para alguém como Margarida Gil. Mesmo com filmes péssimos, tenho consciência das profundas limitações — políticas, práticas e simbólicas — da minha intervenção pública. Mas já é tarde para desistir."

Sem mais (ainda que merecesse),

Saudações críticas

Pedro Bresson
<<<

Para o leitor com eventuais dificuldades em decifrar a mensagem, permito-me esclarecer. Ao mudar a pontuação da frase — um ponto final por uma vírgula —, Pedro Bresson quer sublinhar que a expressão "filmes péssimos" se deve referir directamente ao meu trabalho (ou seja: os argumentos de Lá Fora e 98 Octanas, ambos de Fernando Lopes, e o documentário Fernando Lopes, Provavelmente, por mim realizado).
De facto, trata-se de uma redundância, uma vez que sou o primeiro a reconhecer a pertinência de tal afirmação. Já o declarei imensas vezes, e voltei a escrevê-lo em texto recentemente publicado no Diário de Notícias (18 de Janeiro), também disponível neste blog. Recordo:

>>> Culpado me confesso. Não só insisto em discutir o modo como são formulados os problemas do cinema português (na certeza de que a sua avaliação começa na respectiva formulação), como não escondo que me sinto interior a tais problemas. Trabalho também em cinema, nomeadamente como argumentista, e não tenho dúvidas que muitos profissionais do cinema português consideram o meu trabalho irrelevante ou mesmo inapelavelmente medíocre.
Tudo bem. Mas a questão não é essa. Quero eu dizer: os eventuais juízos negativos sobre o meu trabalho não são uma boa justificação para recusar enfrentar as questões que se colocam (até porque nunca invoquei nem invocarei esse trabalho como padrão universal seja do que for). E as questões que se colocam começam numa muito velha interrogação. A saber: que histórias têm os filmes portugueses para contar? <<<

Embora compreendendo que Pedro Bresson possa não ter lido tal intervenção, só posso reitera-la, concordando com a sua asserção. De facto, longe de mim pensar que o meu trabalho deva servir de padrão seja para o que for. Exactamente como o de Margarida Gil.