
Dois anos depois de
The Crying Room, talvez o menos vibrante dos seus álbuns, Perry Blake parece querer renascer sob novos ares e, claramente, outro estado de espírito. A prova chega-nos em
Canyon Songs, um conjunto de belas canções onde a vastidão inspiradora (não necessariamente desolada) do deserto inspira outras reflexões a um espírito que há muito sabemos melancólico. A genética partilhada entre a cultura irlandesa e a música
country (discretamente presente em alguns momentos do disco) serve de tutano a um disco onde as canções respiram, nas melodias, nas histórias contadas, uma vivacidade e solidez que há algum tempo pareciam excluídas da música de Perry Blake. Plácidas paisagens e gentes da América profunda, numa abordagem que por vezes lembra a forma como esse mesmo imaginário igualmente serviu de referência a Paddy MacAloon (Prefab Sprout) no muito recomendável
The Gunman and Other Stories (2001) fazem de
Canyon Song uma peça diferente numa obra que já pedia clara “remodelação”. Não tem a intensidade de um
Still Life (1999), mas mostra como uma voz muito característica e um gosto igualmente já expresso pela eloquência (na escrita, nos arranjos), conseguiu sair da aparente espiral implosiva em que caíra. O álbum surge, para já, numa primeira edição limitada e numerada, sinal de reforço de uma proximidade entre o músico e o estatuto culto que goza em Portugal. A própria edição local apresenta-se com capa e
artwork distintos.
Perry Blake
“Canyon Songs”Transporte de Animais Vivos
3/5Para ouvir:
MySpace

Há pouco mais de um ano descobrimos Faris Nourallah da melhor maneira possível. Ou seja, numa espantosa antologia que, numa colecção de 20 canções (sob o título
Near The Sun), nos dava a conhecer um invulgar espírito quase ermita, um filho de família árabe com morada no coração do Texas. Em tempos, com o irmão, e através dos Nourallah Brothers, correu os circuitos habituais em panorama pop/rock, dos discos aos palcos, estrada acima, estrada abaixo. Agora, sem vontade de sair de casa, grava em nome próprio, oferecendo, com espantosa regularidade, canções aos molhos, que edita ao ritmo de um álbum por ano. Apesar de ter, num passado recente, registado álbuns de excepção, a verdade é que nunca um disco seu de originais consegue repetir a força, variedade e demais qualidades da espantosa antologia com que se nos deu a conhecer. Um
best of, de facto! Mas, se
Near The Sun nos deu vontade de descobrir o seu passado, ao mesmo tempo foi bitola de exigência que fez do disco de inéditos que se seguiu,
Il Suo Cuore do Transístor (2006), uma aparente decepção.
Gone, um ano depois, mostra canções mais apelativas, e sobretudo sublinha as cada vez mais evidentes paixões e sonhos pop que a música de Faris Nourallah não quer esconder. É um disco profundamente pessoal na sua escrita. E confirma sobretudo um gosto peculiar pelo design de arranjos que fazem, de troncos de palavras e melodias potencialmente transformáveis em diálogo para voz e guitarra, pequenos monumentos de viço pop sob evidente contraste com a desolação e vastidão monótona da paisagem texana.
Gone não repete a excelência de um
King Of Sweeden (2005), mas revela um sentido de versatilidade e uma colecção de canções que não vontade de ouvir vezes sem conta.
Faris Nourallah
“Gone”Awful Bliss / Ananana
4/5Para ouvir:
MySpace 
Durante décadas, a música brasileira que conseguiu saltar das fronteiras do país foi aquela que claramente nascia de pressupostos enraizados em tradições musicais made in Brasil. As Cansei de Ser Sexy conseguiram, em 2006, dar ao mundo uma noção de outras paisagens musicais que, brasileiras no passaporte, não procuravam referências em casa, mas antes em genéticas pop/rock britânicas e norte-americanas. São ainda uma banda praticamente desconhecida no seu país, mas, a muitos ouvidos europeus e norte-americanos, através de uma edição global pela Sup Pop, o som mais excitante que hoje chega do Brasil... O Bonde do Role, que chegou a fazer primeiras partes das Cansei de Ser Sexy, são, juntamente com os paulistas Jumbo Elektro, a primeira vaga de
wannabes brasileiros a tentar aproveitar a fresta import/export sem tempero mpb nem bossa nova aberta pelas CSS. Contudo, se os Jumbo Elektro pecam pela extrema proximidade das CSS, o Bonde do Role (assinados pela distinta Domino Records), estatela-se perante ouvidos que esperam mais que uma diversão inconsequente em forma de pagode tralálá e já está. Se singles como
Solta o Frango ou
Office Boy chegaram a levantar curiosidade, sobretudo pela forma como temperos baile
funk e genéticas
hard rock eram aplicadas por dois DJs e uma cantora em favor de canções com sabor a festa,
With Lasers, o álbum, revela a verdade do vazio que mora nas fundações do projecto. As construções rítmicas e musicais são de constrangedor amadorismo, o corta e cola com “sabor a rua” não passa de rudimentar e as palavras que parecem ser crítica não são mais que tola brincadeira sem destino. Uma gracinha para dançar no Verão, e esquecer logo que o frio comece a apertar.
Bonde do Role
“With Lasers”Domino / Edel
2/5Para ouvir:
MySpaceTambém esta semana:Kalabresse, Suzanne Vega, Perry Farrell, Marvin Gaye (reedição), Bruce Springsteen (live), Nick Lowe, Keren Ann, Junior Boys (EP), Blanche, Sons da Fala, Marilyn Manson, Pet Shop Boys (DVD), RJD2, Trademark, Lisa Gerrard
Brevemente:
11 de Junho: Apparat, Nico Muhly, Dog Day, Calvin Harris, Digitalism, Van Morrisson (best of), Queens of The Stone Age, Orbital (live), Travelling Wilburys, Amina, Scissors For Lefty, Paul McCartney, Flunk, Mário Laginha, The Sounds (edição especial com CD extra),
18 de Junho: Montag, White Stripes, Mute Audiodocuments (de 10 CD), Nick Drake (best of), Amina, Simian Mobile Disco, BowieMania (tributo a Bowie)
25 de Junho: Editors, Philip Glass, Beastie Boys, Map of Africa, Marc Almond (ed local), Sebadoh
Junho: Bryan Ferry (DVD), Frank Black, Clinic, Ryan Adams, Komputer
Julho: Interpol, Blondie (reedição), Crowded House, Chemical Brothers, Jorge Palma, O. Golijov, David Bowie (DVD)Estas datas podem ser alteradas a todo o momento