sexta-feira, novembro 11, 2022

The 1975 x 3


Eis a banda inglesa The 1975 ao vivo. Ou melhor, aquilo que designaram como 'Official Live Performance': são três canções — Looking For Somebody To Love, Part of The Band e Oh Caroline — do seu novo álbum, Being Funny in a Foreign Language, encenadas com sobriedade e panache por Jim Wilmot.
 

O Rei Leão, 25 anos na Broadway

O Rei Leão, dirigido por Roger Allers e Rob Minkoff, foi o grande sucesso do verão cinematográfico de 1994, ficou como um marco na evolução dos desenhos animados e transformou-se numa das referências mais universais dos estúdios Disney. De tal modo que, em 1997, chegou à Broadway... e lá continua! Para assinalar os 25 anos da vida teatral de O Rei Leão, dirigido por Julie Taymor, cantores e músicos do espectáculo estiveram nos estúdios da NPR, em Washington, interpretando temas clássicos do filme (e da peça), e outros criados especificamente para o palco — quase 20 minutos de puro e glorioso entertainment.

quinta-feira, novembro 10, 2022

4 filmes escolhidos por Frederick Wiseman

[ Zipporah Films ]

Regularmente, a Criterion Collection convida personalidades do cinema para, no seu escritório de Nova Iorque, visitarem a "arrecadação" dos respectivos DVD — e escolherem alguns filmes. Há dias, Frederick Wiseman passou por lá, acabando por levar consigo Ladrões de Bicicletas (De Sica, 1948), Horizontes de Glória (Kubrick, 1957), A Faca na Água (Polanski, 1962) e Vencidos pela Lei (Jarmusch, 1986) — em pouco mais de dois minutos, o cineasta de Near Death (1989) e National Gallery (2014) comenta as suas escolhas, explicando, afinal, como mesmo na ficção os elementos documentais podem ser determinantes. E também o contrário?...

De Fassbinder a Ozon [1/2]

Denis Ménochet e Isabelle Adjani filmados por François Ozon:
o cinema através do teatro

Através do magnífico Peter von Kant, o francês François Ozon reencontra a herança da obra do alemão Rainer Werner Fassbinder: este é um filme capaz de celebrar o artifício do cinema a partir de uma herança visceralmente teatral — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 outubro), com o título 'Recriando a herança das lágrimas amargas'.

Apesar do poder do marketing dos filmes de super-heróis e, em muitas salas, do afunilamento da oferta, não se pode dizer que o mercado português viva alheado do trabalho de alguns dos mais importantes cineastas contemporâneos, sobretudo europeus. É o caso do francês François Ozon (nascido em Paris, em 1967) que continua a ser uma presença regular no nosso circuito comercial — agora com o magnífico, insólito e sedutor Peter von Kant, filme que, em fevereiro, integrou a secção competitiva do Festival de Berlim.
O título remete para As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972), realizado pelo alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) a partir da sua peça homónima. Aí encontrávamos como figura central, interpretada por Margit Carstensen, uma criadora de moda a viver as convulsões de uma teia de paixões desencontradas em que todas as personagens são mulheres.
Ozon “transforma” Petra em Peter, não exactamente para fazer a versão “masculina” do drama de Fassbinder, antes para propor um jogo de revisão e reinvenção em que, para todos os efeitos, persistem duas fundamentais linhas de força: Peter experimenta também os movimentos passionais como um jogo (teatral, sem dúvida) que implica, transporta e desafia a verdade do amor; mais do que isso, as peripécias das suas “lágrimas amargas” levam-no a avaliar até que ponto o amor é (ou talvez não seja…) uma forma de possuir o ser amado.
A acção tem lugar em Colónia, em 1972, portanto no ano do filme de Fassbinder. Peter é também um artista, mas do mundo do cinema. Realizador de sucesso, vive no seu apartamento entre angústias existenciais e delírios de grandeza. Duas figuras paradoxais pontuam o seu quotidiano: o silencioso Karl, assistente que Peter trata de modo grosseiro e humilhante, mesmo se é ele que lhe escreve os argumentos dos filmes, e Sidonie, musa que protagonizou diversos momentos da sua obra e, agora, o visita regularmente. Numa dessas visitas, Sidonie apresenta-lhe o jovem Amir — Peter apaixona-se loucamente por Amir, com ele começando a viver uma relação que parece ser a realização de uma utopia tão carnal como romântica…
Se é possível superar o esquematismo da sinopse, talvez seja importante chamar a atenção do leitor para a ambivalência em que tudo isto acontece. Por um lado, Peter von Kant está longe de ser uma homenagem “copista” do filme de 1972; por outro lado, aquilo que em Fassbinder nos surgia como drama enredado em desejos enigmáticos e êxtases suspensos “renasce”, com Ozon, num registo de metódico distanciamento, dir-se-ia uma tragédia sempre evitada pelos sobressaltos de uma sofisticada comédia.

Gal Costa (1945 - 2022)

Nome fulcral da história da música popular brasileira, Gal Costa faleceu no dia 9 de novembro, em São Paulo — contava 77 anos.
Do álbum Domingo (1967), com Caetano Veloso, até Nenhuma Dor (2021), foi atravessando as décadas, sabendo integrar variações e transfigurações, mas sem nunca por em causa o misto de transparência, dramatismo e metódico confessionalismo que a sua voz transportava. Em 2011, foi distinguida com um Grammy Latino pelo conjunto da sua obra.

>>> Meu Nome É Gal (1982).


>>> Desafinado (1999).


>>> Quando Você Olha Pra Ela (lyric video, 2015).


>>> Obituário: O Globo + NPR.
>>> Site oficial de Gal Costa.

terça-feira, novembro 08, 2022

Spoon em "reconstrução"

Eis uma curiosa "tendência" de alguma música contemporânea: criadores que revisitam e, com mais ou menos inspiração, reinventam gravações mais ou menos antigas... Ou mais ou menos próximas... É o caso, agora, dos Spoon, a banda de Austin, Texas, do vocalista Britt Daniel. O seu álbum mais recente, Lucifer on the Sofa, ainda não tem um ano — aliás, surgiu já em 2022, a 11 de fevereiro. O certo é que desde o dia 4 de novembro está disponível Lucifer on the Moon, não exactamente uma remistura, mas um genuína reinvenção, dir-se-ia discretamente sinfónica, dos temas originais. A responsabilidade é do produtor Adrian Sherwood, aliás identificada pelo curioso termo "reconstrução" — exemplo: On the Radio.

A IMAGEM: Mark Borthwick, 2022

MARK BORTHWICK
Harry Styles
Gucci (Ha Ha Ha), 2022

segunda-feira, novembro 07, 2022

Maggie Rogers em Coachella

That's Were I Am impôs-se como canção emblemática de Surrender, o segundo álbum de estúdio de Maggie Rogers. Serviu de encerramento da sua performance no Festival de Coachella (no passado mês de abril) — o respectivo registo é um magnífico tour de force audiovisual.
 

domingo, novembro 06, 2022

Louis Malle
— memórias de “outra” Nova Vaga

Louis Malle

Num ciclo a decorrer na Cinemateca, integrado na Festa do Cinema Francês, encontramos três dezenas de filmes de Louis Malle, cineasta fundamental, por vezes secundarizado, cujos trabalhos de ficção coexistiram com um obstinado gosto documental — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 outubro).

Dizia Jean-Luc Godard que ele e os seus companheiros da Nova Vaga francesa promoveram a “política dos autores” como um sistema de valorização do trabalho dos cineastas — os “autores”, precisamente —, menosprezando aquela que seria a dimensão mais importante. A saber: a “política”. Podemos perverter a lógica da sua afirmação, recordando que, por vezes, houve autores que, no imaginário cinéfilo, foram sendo “politicamente” secundarizados. Será, creio, o caso de Louis Malle (1932-1995), este ano em destaque na Festa do Cinema Francês através de um ciclo de três dezenas de títulos.
A projecção dos filmes de Malle, quase todos em duas sessões, terá lugar na Cinemateca (instituição que, uma vez mais, se associa à Festa). O ciclo começou no dia 2, com Le Feu Follet (1963), terminando no dia 30, com Vanya on 42nd. Street (1994). Estes dois títulos podem mesmo condensar a fascinante diversidade que caracteriza a trajectória de Malle: o primeiro, nunca estreado comercialmente em Portugal, com Maurice Ronet e Jeanne Moreau, ilustra a importância do drama intimista no universo de Malle; o segundo tem como ponto de partida uma singular experiência de encenação com O Tio Vânia, de Tchekov, num teatro de Nova Iorque, envolvendo actores como Wallace Shawn, Julianne Moore e Larry Pine (actualmente na série Succession) — foi o último título do período americano de Malle e também o seu filme final.
Vanya on 42nd. Street
é uma referência tanto mais sugestiva na trajectória do realizador quanto pode simbolizar a importância que as componentes documentais adquiriram em diversos momentos do seu trabalho. Nesta perspectiva, o ciclo permitirá descobrir ou redescobrir a visão de Malle documentarista e não apenas por causa de O Mundo do Silêncio (1956), co-realizado com Jacques-Yves Cousteau, sobre a exploração dos fundos marítimos, consagrado com a Palma de Ouro de Cannes (que, em qualquer caso, o próprio Malle nunca reconheceu como muito significativo na sua obra). Serão também projectados, por exemplo, L’Inde Fantôme (1969), série resultante de uma viagem pela Índia, e Calcutá (1969), longa-metragem gerada durante a mesma viagem e também um dos exemplos mais admiráveis de um olhar que, evitando “explicar” de modo automático, se entrega, mais que tudo, a um exercício de metódica contemplação dos lugares que vai descobrindo.
Estarão, obviamente, presentes vários dos títulos mais célebres da filmografia de Malle, incluindo Os Amantes (1958), com Jeanne Moreau e Jean-Marc Bory, Viva Maria (1965), uma “superprodução” rodada no México com Brigitte Bardot e Jeanne Moreau, ou Atlantic City (1980), referência nuclear do trabalho nos EUA, com Burt Lancaster e Susan Sarandon nos bastidores do mundo dos casinos, um drama romântico que não deixa de integrar inesperados elementos documentais. A não esquecer também Sopro no Coração (1971), com Léa Massari, melodrama familiar que, há meio século, agitou os mercados devido aos seus elementos incestuosos, e o belíssimo Adeus, Rapazes (1987), tragédia vivida num colégio interno francês em plena ocupação nazi, uma memória visceral e auto-biográfica.