quinta-feira, agosto 25, 2022

Redescobrindo A Dama do Lago

Robert Montgomery e Audrey Totter:
o cinema "noir" e o seu fascinante jogo de espelhos

Recentemente, numa das suas sessões na esplanada, a Cinemateca Portuguesa exibiu o clássico A Dama do Lago — esta nota sobre o filme foi publicada no Diário de Notícias (19 agosto).

The Lady in the Lake / A Dama do Lago (1946), de Robert Montgomery — eis uma verdadeira raridade. Pela sua escassa circulação nas várias frentes do mercado, mas também porque é uma excepção, não apenas no interior do cinema “noir” de Hollywood, mas em boa verdade na produção de qualquer época. Porquê? Porque a adaptação de 1947 do romance que Raymond Chandler publicara quatro anos antes aposta numa ousada e desconcertante arquitectura narrativa: trata-se de seguir a investigação do detective Philip Marlowe a partir de planos subjectivos, quer dizer, imagens que são o ponto de vista do próprio Marlowe. O trailer dizia: “1926 - o ecrã falava! 1947 – a câmara representa!”
Na prática, o espectador segue o olhar de Marlowe (interpretado pelo próprio Robert Montgomery): não o vemos a não ser quando algum espelho devolve a sua imagem. Em sentido literal ou metafórico, este é mesmo um fascinante jogo de espelhos que nos recorda que o classicismo de Hollywood foi também uma paisagem de muitas experimentações.