PAUL KLEE Blick aus Rot 1937 |
1. De acordo com os mais recentes dados estatísticos, ao longo dos últimos (quase) dois anos, a pandemia de COVID-19 provocou em Portugal um total de 19.029 óbitos.
2. Se consultarmos alguns números também disponíveis sobre os óbitos antes da pandemia, encontramos exemplos como estes: em Portugal, no ano de 2019, faleceram 33.421 e 28.464 pessoas, respectivamente com doenças do aparelho respiratório e tumores malignos.
3. Evitemos o ruído mediático — já basta o que basta. Apesar disso (aliás, precisamente por causa da histeria quotidiana desse ruído), vale a pena colocar um serena pergunta: porque é que o relativismo destes dados não faz parte da nossa informação corrente?
4. Claro que, face à COVID-19, é fundamental não favorecer formas de futilidade e indiferença que, em última instância, contribuam para forçar o sistema hospitalar a enfrentar os seus limites humanos e técnicos. Em todo o caso, há uma parte de objectividade dos números que deveria ter algum peso nas dinâmicas da consciência colectiva.
5. Ou ainda: porque é que cada vez que um responsável político (do governo ou das oposições) tenta sublinhar a importância social da responsabilidade individual, o seu discurso acaba afogado numa histeria de números e alarmismo? Subitamente, a tragédia da pandemia (que ninguém nega) transformou-se também num drama cultural — como vivemos e como queremos viver?