Tal como nas derradeiras semanas de 2020, circula um discurso piedoso em torno do "Natal", em tudo e por tudo contrário às informações científicas que se vão divulgando — o direito das famílias se reunirem passou a ser proclamado como qualquer coisa de abstracto, exterior aos demónios que, todos os dias, o mundo mediático agita em torno do COVID-19...
... como se o vírus fizesse greve aos rituais impostos pelo calendário dos humanos. Ou seja: escolhe-se o "Natal" na esperança de que o vírus se comova com o carácter compulsivo desses rituais.
Podemos, por isso, supor, que "alguém" está a trabalhar para, nos primeiros dias de janeiro, nos vir dizer que devíamos ter sido mais prudentes e, sobretudo, mais rigorosos na definição do que, em termos familiares e sociais, era ou não do domínio do razoável.
Entretanto, apesar de tudo, há quem resista a tanta candura idealista. No Libération, por exemplo, a imagem não poderia ser mais elucidativa: o paternalismo pueril face aos perigos anunciados dá lugar, pelo menos, à contundência dos factos e àquilo que o jornal chama um "amargo Natal".