Ao ganhar um Globo de Ouro pelo seu papel na série The Crown, Emma Corrin entrou na galeria de actrizes cuja carreira ficará para sempre marcada pela interpretação da Princesa Diana: a dimensão mítica da personagem envolve um desafio artístico e simbólico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 março).
Dir-se-ia que, no domínio audiovisual, a personagem de Diana tem sido, sobretudo, a princesa do povo televisivo. Como se a sua repetida “reencarnação” no pequeno ecrã definisse e sustentasse uma espécie de ritual mediático, compulsivo e redentor. Em 2007, as teorias da conspiração em torno da morte de Diana encontraram mesmo expressão em The Murder of Princess Diana, produção de uma televisão por cabo dos EUA.
Em cinema podemos registar um filme menor, ainda que empenhado em escapar aos clichés mais simplistas: lançado em 2013, intitula-se apenas Diana. Trata-se, neste caso, de evocar a relação amorosa de Diana com Hasnat Khan, cirurgião paquistanês a trabalhar em Londres. Num registo de sereno intimismo, o filme dirigido pelo alemão Olivier Hirschbiegel distingue-se, pelo menos, pela sobriedade dos protagonistas: Naomi Watts interpreta Diana, estando o papel de Khan entregue a Naveen Andrews (na altura muito popular graças à sua participação na série Lost).
Entretanto, é caso para dizer que a saga continua. Assim, Diana vai reaparecer na quinta temporada de The Crown. Mantendo a estratégia de diversificação dos intérpretes principais, o elenco será renovado, com a personagem de Diana entregue à australiana Elizabeth Debicki — vimo-la, em 2020, em Tenet, de Christopher Nolan, o único “blockbuster” de verão que ainda passou nas salas; no papel da rainha, Imelda Staunton sucede a Olivia Colman.
Enfim, se o tratamento cinematográfico de Diana evoluir num sentido realmente original, talvez possamos dizer que as maiores expectativas apontam para um filme que terá como título o seu apelido de solteira: Spencer. A princesa será interpretada por Kristen Stewart, a talentosa actriz americana cuja carreira, incerta e irregular, continua assombrada pela imagem “juvenil” dos filmes da série Twilight. Sem esquecer, claro, que a realização pertence ao chileno Pablo Larraín, notável analista da ditadura de Augusto Pinochet (recordemos apenas o exemplo de Post Mortem, com data de 2010), cuja filmografia inclui esse filme prodigioso que é Jackie (2016), retrato de Jacqueline Kennedy, interpretada por Natalie Portman, outra figura feminina envolta numa mitologia muito peculiar.
A rodagem de Spencer iniciou-se em janeiro, sabendo-se apenas que o argumento, escrito por Steven Knight, se concentra num fim de semana, no início dos anos 90, em Sandringham House, residência particular de Isabel II — terá sido o momento em que Diana decidiu divorciar-se do Príncipe Carlos.