Emma Corrin, The Crown |
Ao ganhar um Globo de Ouro pelo seu papel na série The Crown, Emma Corrin entrou na galeria de actrizes cuja carreira ficará para sempre marcada pela interpretação da Princesa Diana: a dimensão mítica da personagem envolve um desafio artístico e simbólico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 março).
Ao receber um Globo de Ouro, atribuído pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, consagrando a sua interpretação da Princesa Diana na quarta temporada da série The Crown, Emma Corrin agradeceu… à Princesa Diana. Segundo as palavras da actriz inglesa de 25 anos (tinha cerca de um ano e meio quando, em 1997, ocorreu o acidente fatal que vitimou Diana), a sua personagem ensinou-lhe “compaixão e empatia para lá de qualquer medida que pudesse imaginar.”
Corrin reconhecia, assim, que a herança de Diana, sendo histórica, é sobretudo de natureza mitológica. A partir de agora, para o melhor ou para o pior, a sua carreira de actriz vai existir marcada por essa componente “transcendental” que faz com que a personagem se aproprie da sua intérprete, sobretudo quando, como é o caso, ainda não possui uma filmografia (cinematográfica ou televisiva) que lhe confira uma identidade artística acima destas atribulações de “casting”.
Em paralelo com o seu trabalho em The Crown, Corrin compôs uma personagem também com curiosas ressonâncias simbólicas… mas as notícias quase não recordaram essa performance. Foi, aliás, a sua estreia em cinema, no filme Misbehaviour (2020) entre nós lançado como Mulheres ao Poder. O seu tema: o concurso de Miss Mundo de 1970, realizado em Londres. Combinando ironia e militância, o filme, realizado por Philippa Lowthorpe, evoca o modo como o evento ficou marcado pelos protestos organizados por um grupo de activistas do recém formado Movimento de Libertação das Mulheres; tentando atenuar as controvérsias que antecederam o espectáculo, envolvendo em particular a denúncia do apartheid na África do Sul, a organização promoveu mesmo a inscrição de duas representantes desse país, uma branca, outra negra… A concorrente branca era interpretada por Emma Corrin.