segunda-feira, março 29, 2021

Diana
— a princesa do povo televisivo [1/4]

Emma Corrin, The Crown

Ao ganhar um Globo de Ouro pelo seu papel na série The Crown, Emma Corrin entrou na galeria de actrizes cuja carreira ficará para sempre marcada pela interpretação da Princesa Diana: a dimensão mítica da personagem envolve um desafio artístico e simbólico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 março).

Ao receber um Globo de Ouro, atribuído pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, consagrando a sua interpretação da Princesa Diana na quarta temporada da série The Crown, Emma Corrin agradeceu… à Princesa Diana. Segundo as palavras da actriz inglesa de 25 anos (tinha cerca de um ano e meio quando, em 1997, ocorreu o acidente fatal que vitimou Diana), a sua personagem ensinou-lhe “compaixão e empatia para lá de qualquer medida que pudesse imaginar.”
Corrin reconhecia, assim, que a herança de Diana, sendo histórica, é sobretudo de natureza mitológica. A partir de agora, para o melhor ou para o pior, a sua carreira de actriz vai existir marcada por essa componente “transcendental” que faz com que a personagem se aproprie da sua intérprete, sobretudo quando, como é o caso, ainda não possui uma filmografia (cinematográfica ou televisiva) que lhe confira uma identidade artística acima destas atribulações de “casting”.
Em paralelo com o seu trabalho em The Crown, Corrin compôs uma personagem também com curiosas ressonâncias simbólicas… mas as notícias quase não recordaram essa performance. Foi, aliás, a sua estreia em cinema, no filme Misbehaviour (2020) entre nós lançado como Mulheres ao Poder. O seu tema: o concurso de Miss Mundo de 1970, realizado em Londres. Combinando ironia e militância, o filme, realizado por Philippa Lowthorpe, evoca o modo como o evento ficou marcado pelos protestos organizados por um grupo de activistas do recém formado Movimento de Libertação das Mulheres; tentando atenuar as controvérsias que antecederam o espectáculo, envolvendo em particular a denúncia do apartheid na África do Sul, a organização promoveu mesmo a inscrição de duas representantes desse país, uma branca, outra negra… A concorrente branca era interpretada por Emma Corrin.