sexta-feira, outubro 02, 2020

Trump + COVID-19


A. Um pouco por todo o mundo — entenda-se: no universo da Net, interligado através da alucinação de não existirem fronteiras —, multiplicam-se as vozes que, entre a boçalidade e a pura estupidez, celebram o facto de Donald Trump ter contraído o vírus COVID-19.

B. As celebrações podem ser interpretadas, antes do mais, como expressão de uma pulsão de vingança que se confunde com o infantilismo mais irresponsável. Mas o fenómeno é ainda mais inquietante, já que reflecte um menosprezo total pelo mais simples dos factos políticos: qualquer perturbação na existência de qualquer Presidente dos EUA envolve, automaticamente, todo o planeta.

C. Ignoram tais vozes que estamos "perante o momento mais perigoso jamais enfrentado pelo governo dos EUA" [CNN]; na verdade, "ninguém sabe o que vai acontecer agora" [Time]. Nas suas festividades obscenas, ilustram um pobre "pensamento" colectivo, ou melhor, de um colectivo gerado pela promiscuidade virtual e a futilidade mediática que nos dominam. A saber: bastaria lidar com Trump como anedota política para elaborar um ponto de vista político. Como se contrair o COVID-19 o impedisse de ganhar eleições. Como se, entre a frieza de alguns e a inconsciência de quase todos, o COVID-19 não estivesse a ser vivido, desde o primeiro momento, como a maior convulsão política do nosso século XXI.