segunda-feira, agosto 03, 2020

Na morte de Olivia De Havilland

[Trailer de E Tudo o Vento Levou]
A. Um pouco por todo o lado, a notícia da morte de Olivia De Havilland, a 26 de Julho, contava 104 anos [obituário: NYT], foi comentada como o desaparecimento da derradeira glória da idade de ouro de Hollywood. Assim é, de facto — a classificação é tanto mais respeitável quanto envolve uma admiração genuinamente cinéfila.

B. Em todo o caso, valerá a pena acrescentar que aquilo que desapareceu, mais do que as estrelas dessa época realmente dourada, foi Hollywood como comunidade, indústria e comércio em que a star ocupava um lugar central. O triunfo de uma nova iconografia da fama — simbolizada pelo imaginário dos "efeitos especiais" imposto pelos estúdios Marvel — relegou os actores e actrizes para a condição de figurantes humanos na feira dos heróis digitais.

C. Há excepções como Charlize Theron ou Tom Cruise, embora cada um deles "obrigado" a cumprir outros protocolos profissionais — o recente "blockbuster" de Theron, A Velha Guarda, produzido pela Netflix, é mesmo um objecto de embaraçosa mediocridade. São excepções que confirmam a regra: uma entidade (Hollywood) que cedeu as rédeas da sua criatividade aos tecnocratas do marketing para quem um filme não é uma narrativa, nem sequer uma forma específica de espectáculo, apenas um produto.