Actor de teatro, cinema e televisão, Pedro Lima faleceu no dia 20 de Junho: o seu corpo foi encontrado na praia do Abano, Guincho — contava 49 anos.
Por razões profissionais, guardo uma memória fortíssima e muito carinhosa de Pedro Lima, mesmo se enraizada num período de tempo relativamente curto. Foi em 2004. Correspondendo a um convite do nosso amigo João Lourenço, o Rui Pedro Tendinha e eu encenámos no Teatro Aberto, em Lisboa, uma trilogia de pequenas peças de Neil LaBute (Em Viagem, Desvio e Terra dos Mortos) — o espectáculo recebeu o título de "Paisagens americanas".
A estreia ocorreu no dia 19 de Março, com um elenco de cinco actores que se desdobravam pelos três segmentos do espectáculo. Também nunca esquecerei o seu rigor e entrega: Juana Pereira da Silva, Lígia Soares, Pedro Penim, Rui Morisson e Sofia Aparício. Logo após o primeiro fim de semana (creio que apenas com três representações), o Rui Morrison teve um acidente num pé, ficando impedido de continuar. Para o substituir, a alternativa em que todos rapidamente acordámos foi, justamente, o Pedro Lima. E o mínimo que posso dizer é que, ao longo de uma acelerada semana de novos ensaios, foi possível refazer o espectáculo com o novo actor.
Neste momento de luto, não quero ceder a esse vício mediático que faz com que, não poucas vezes, confundamos a memória dos que perdemos com a "obrigação" de os colocar no centro de tudo o que com eles, de uma maneira ou de outra, partilhámos. E não posso deixar de repetir que lembro as nossas "Paisagens americanas" como uma bela experiência criativa partilhada, antes do mais, com o Rui Pedro Tendinha, depois com o elenco e todas as pessoas do Teatro Aberto.
Do Pedro Lima, do seu trabalho, conservo, em particular, a memória de um misto de contenção e risco que, em cada situação, com ou sem sugestões explícitas dos encenadores, o levava a procurar a precisão austera de um minimalismo de inusitadas intensidades emocionais. Sem outro recurso que não seja encarar a tristeza do seu desaparecimento, permito-me recordar "Paisagens americanas" através do respectivo cartaz (com o elenco ainda com o Rui Morrison), duas fotografias e a canção Last Nite, de The Strokes, que se escutava na abertura de Terra dos Mortos.