sábado, maio 23, 2020

Maria Velho da Costa (1938 - 2020)

Figura maior da literatura portuguesa das últimas seis décadas, Maria Velho da Costa faleceu no dia 23 de Maio, em sua casa, em Lisboa — contava 81 anos.
O nome da escritora ficou para sempre associado à publicação das Novas Cartas Portuguesas (1972), com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, obra que marca os tempos finais do Estado Novo, quer pela denúncia da moral pública e privada dominante, quer pela intransigente afirmação da identidade feminina. Em qualquer caso, nessa altura Maria Velho da Costa tinha já publicado O Lugar Comum (1966) e Maina Mendes (1969), afirmando-se como singularíssima voz de um romanesco em que a relação com as zonas mais secretas do comportamento humano surge indissociável de uma paciente reinvenção gramatical e simbólica da própria arte da escrita. Livros como Cravo (1976), Casas Pardas (1977), Lucialima (1983) ou Missa in Albis (1988) são outros exemplares modelares do seu labor.
Certamente não por acaso, a luminosidade "figurativa" da sua escrita fê-la gerar relações de cumplicidade com alguns cineastas. Encontramo-la, assim ligada a títulos dirigidos por João César Monteiro (Que Farei Eu com esta Espada?, Veredas e Silvestre, respectivamente de 1975, 1978 e 1981), Alberto Seixas Santos (A Rapariga da Mão Morta e E o Tempo Passa, de 2005 e 2011) e Margarida Gil (O Anjo da Guarda e Paixão, de 1998 e 2012).
Foi presidente da direcção da Associação Portuguesa de Escritores no período 1973-78; nesse cargo, a sua acção revelou-se decisiva na organização do primeiro Congresso de Escritores Portugueses, em Maio de 1975. Entre as distinções que recebeu, inclui-se, em 2002, o Prémio Camões.

>>> Os verbos são o que são e eu não sei ser morada pela linguagem e apenas o sabor e os sons dela passando aqui como comida variável por temperos de cada dia.

in Cravo

>>> Programa da RTPN (2011), sobre a reedição de Novas Cartas Portuguesas.


>>> Fragmento de Casas Pardas, por Lia Gama, no documentário Fátima de A a Z (2009), de Margarida Gil.


>>> Trailer de E o Tempo Passa.


>>> Obituário no Diário de Notícias.