domingo, dezembro 15, 2019

Anna Karina (1940 - 2019)

Símbolo modelar da Nova Vaga francesa, presença emblemática da obra de Jean-Luc Godard, intérprete de delicada subtileza e vulnerabilidade, a actriz dinamarquesa Anna Karina faleceu no dia 14 de Dezembro, em Paris, vitimada por um cancro — contava 79 anos.
Há qualquer coisa de fábula na história de Karina como figura nuclear da produção francesa (e, em boa verdade, europeia) da década de 60. Começou aos 18 anos, em Paris, como modelo. Um ano depois, era convidada por Godard para um papel na sua primeira longa-metragem, À Bout de Souffle/O Acossado (1959), recusando por não querer representar uma cena que envolvia nudez. Em 1961, acaba por rodar mesmo sob a direcção de Godard em Uma Mulher É uma Mulher, deliciosa evocação, de uma só vez romântica e paródica, da tradição dos musicais de Hollywood — no mesmo ano, celebram um casamento que duraria até 1967.
Dir-se-ia que os filmes em que ambos trabalharam juntos são também um eco afectivo, imponderável e indecifrável, da sua vida comum. Foram mais seis longas-metragens: Viver a sua Vida (1962), O Soldado das Sombras (1963), Bando à Parte (1964), Alphaville (1965), Pedro, o Louco (1965) e Made in USA (1966); e ainda a curta Antecipação, um dos episódios de A Mais Antiga Profissão do Mundo (1967).
Algures entre o imaginário romântico e uma arte teatral de metódica distanciação, Karina foi, sob o olhar de Godard, um ser cinematográfico sem equivalente, encarnando o misto de nostalgia e experimentação que a Nova Vaga conteve. O que, entenda-se, não diminui a importância de outros filmes também marcados pela sua presença luminosa, com inevitável destaque para A Religiosa (1966), de Jacques Rivette, adaptando a obra de Diderot sobre uma freira forçada a assumir votos religiosos contra sua vontade. Vimo-la ainda, por exemplo,  em A Ronda do Amor (1964), de Roger Vadim, O Estrangeiro (1967), de Luchino Visconti, Michael Kohlhaas, o Rebelde (1969), de Volker Schlöndorff, Encontro em Bray (1971), de André Delvaux, ou L'Assassin Musicien (1976),de Benoît Jacquot.
Por duas vezes, em Vivre Ensemble (1973) e Victoria (2008), experimentou as tarefas de realização, em ambos os casos assumindo também o papel principal. Curiosamente, para o público francês, era ainda muito conhecida pelas suas performances musicais, em particular os duetos com Serge Gainsbourg para o telefilme Anna (1967), de Pierre Koralnik.

>>> Cena de Alphaville, com Eddie Constantine.


>>> Trailer de Made in USA.


>>> Com Serge Gainsbourg, canção Ne Dis Rien, do telefilme Anna.


>>> Obituário no jornal Le Monde.