terça-feira, agosto 06, 2019

Billie Eilish — elogio da estranheza

O álbum de estreia de Billie Eilish, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, já nos tinha alertado para a singularidade, fascínio e inquietação dos seus 17 anos. Estamos, afinal, perante uma pessoa cuja identificação poderá ser resumida assim: "Ela é tão Gen Z que faz com que os de vinte e poucos anos pareçam antigos. Nunca comprou um CD. Diz coisas como 'Nunca vou ter 27 anos — é demasiado velho.' É também, provavelmente, a única estrela pop que ainda consulta um pediatra."
As palavras são de Josh Eells e pertencem ao seu magnífico artigo publicado na edição de Agosto da Rolling Stone'Billie Eilish e o triunfo da estranheza' (ou do "estranho", já que a palavra utilizada é weird e não weirdness) —, dando conta do seu dia a dia, entre o espaço familiar e as performances públicas.
Assumindo a nobre tradição do jornalismo americano dedicado às convulsões da cultura popular (de que a Rolling Stone continua a ser uma referência incontornável), a escrits de Eells encontra uma correspondência essencial no portfolio assinado por Petra Collins. As imagens de Eilish expõe, assim, as ambivalências, porventura as contradições, de um modo de ser artista em que a intensidade da comunicação coexiste com a estranheza (a palavra regressa...) de uma nova arqueologia da adolescência e da idade adulta.
Que vemos, por exemplo, na espantosa fotografia da capa? A pose nonchalante da estrela ou o símbolo de uma juventude à procura de um sentido para a sua história mirabolante? A tristeza vulnerável do olhar vale mais, ou vale menos, que o marketing dos ténis? E as mãos? Escondem o sexo ou proclamam que já não há nada para descobrir? — a ler, sem dúvida, até porque sentimos no encontro de Eells e Eilish (incluindo a sua espantosa família) um raro fluxo de ternura.

>>> Dois videos da Rolling Stone: sobre a sessão fotográfica da capa e respondendo ao questionário 'The First Time'.




>>> You Should See Me in a Crown — performance ao vivo.


>>> Billie Eilish no arquivo da Rolling Stone.