O Novo, diz ele. Entenda-se: um barco chamado 'Le Nouveau', comandado por Henri (1850-1930), bisavô do autor. Mas também o novo, não apenas como contraponto dialéctico do velho, antes equivocamente consagrado como bandeira desta nova idade digital em que a relação com a escrita é cada vez mais ténue, para não dizer repelida. Ou como resume o próprio Sollers: "O novo é, assim, o desaparecimento da leitura, logo do treino desse músculo que é a memória."
Breve e fascinante, imenso como um continente à espera de ser descoberto, Le Nouveau oscila entre os labirintos da memória familiar e a formulação de uma estratégia de (sobre)vivência que redescobre em Shakespeare o seu guia, porventura a nossa derradeira utopia. Começa a ler-se como um diário confessional, vai-se impondo como bíblia de uma nova religião que não abdica do labor ancestral da escrita.
>>> Deixo os meus mortos tranquilos e dedico-me inteiramente ao deus que alegra a minha juventude. O seu altar é uma folha de papel branco, o seu óleo sagrado a tinta azul, a sua cerimónia clandestina o sopro. Confio na minha mão direita, ela conhece a sua navegação.
[pág. 108]
>>> Philippe Sollers / Le Nouveau / roman, um film de G.K. Galabov e Sophie Zhang.