O Prémio Mundial das Artes Leonardo da Vinci consagrou o produtor português Paulo Branco, em reconhecimento do seu "envolvimento com novas visões da expressão cinematográfica", a par do empenho nas relações "entre os diferentes campos da cultura, tal como a literatura, as belas artes e a música". Trata-se de uma distinção atribuída pelo World Cultural Council, organização internacional fundada em 1981 que visa a promoção dos valores da cultura, da boa vontade e da filantropia.
O World Cultural Council atribui prémios nos domínios das Artes, Educação e Ciência. Nas Artes, a primeira entidade distinguida foi, em 1985, o Grupo Grego de Preservação da Acrópole de Atenas; o prémio tornou-se bienal a partir de 1995; em 2017, a personalidade consagrada foi o americano Russell Hartenberger pelo seu trabalho como investigador e professor nas áreas da etnomusicologia. As cerimónias relacionadas com os prémios de 2019 decorrerão nos dias 3 e 4 de Outubro na Universidade de Tsukuba, no Japão.
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A atribuição do Prémio Leonardo da Vinci a Paulo Branco começa por ser uma bela ilustração de um conceito hoje em dia corrente, embora, creio, poucas vezes considerado, em particular na cena política, em todas as suas dimensões, especificidades e implicações. A saber: a globalização em que vivemos não é um mero dispositivo legal de abertura de canais de comunicação, funcionando antes como um labirinto de circuitos e valores em que, em última instância, se está a questionar e reconfigurar o próprio factor humano.
Daí que seja necessário encararmos — e, a meu ver, valorizarmos com toda a alegria e veemência — esta distinção para além de qualquer lusitana fulanização. Através dos filmes que produziu e continua a produzir, e também dos modos de os dar a ver de que, metodicamente, não desiste, Paulo Branco distingue-se como um verdadeiro cinéfilo.
Mais do que nunca, creio que importa relançar a palavra cinefilia na tão complexa e, por vezes, tão inquietante conjuntura comercial & mediática, para o melhor e para o pior contaminada por muitos factores de raiz televisiva, em que somos espectadores. Aquilo que está em jogo não é, de modo algum, uma banal lamentação nostálgica sobre o que "perdemos". Nada disso: a cinefilia distingue-se pela obstinada crença — no sentido em que a crença se exprime numa prática — nas potencialidades actuais ou pressentidas do cinema como gesto e pensamento.
Nas suas muitas frentes, muito para além dos filmes "melhores" ou "piores", Paulo Branco é alguém que nos ajuda a lidar com essa máxima atribuída a Jean-Luc Godard segundo a qual podemos "aguardar a morte do cinema com optimismo." Aliás, a lenda pode até ser um logro, pertencendo tais palavras a um anónimo espectador capaz de pensar para além dos limites pueris do marketing — seja como for, a mensagem persiste em toda a sua energia vital.
>>> Biografia e curriculum de Paulo Branco no site da Leopardo Filmes.