Mais um video para figurar em lugar de destaque na história de Madonna — e, em boa verdade, na história iconográfica dos EUA em tempos de Donald Trump. Com God Control, Madonna assina aquele é que, seguramente, o seu mais contundente panfleto político desde o teledisco de American Life (lançado em 2003). Neste, a América de George W. Bush surgia encenada como uma paisagem de delirante e irresponsável proliferação de muitas formas de violência, tudo envolvendo uma interrogação radical da própria identidade pessoal:
I'd like to express my extreme point-of-view
I'm not a Christian and I'm not a Jew
I'm just living out the American dream
And I just realized that nothing is what it seems
Agora, o tema duplica-se e transfigura-se, tanto mais que "A nossa nação mentiu/Perdemos respeito":
O efeito é tanto mais perturbante quanto o crescendo de violência que o teledisco sugere (em momentos que, perversamente, não deixam de recordar encenações festivas como a de Deeper and Deeper, em 1992) se apresenta tratado através de uma sequência de situações cronologicamente invertida, protagonizada pela própria Madonna. De acordo com uma regra de ouro da sua iconografia de obstinada Material Girl, ela duplica-se numa personagem que escreve a letra da própria canção, numa pontuação de crescente desencanto e desespero. Coincidência nada acidental: American Life e God Control foram ambos realizados por um velho aliado, o sueco Jonas Åkerlund.
Everybody knows the damn truth
Our nation lied, we lost respect
When we wake up, what can we do?
Get the kids ready, take them to school
Everybody knows they don't have a chance
To get a decent job, to have a normal life
O efeito é tanto mais perturbante quanto o crescendo de violência que o teledisco sugere (em momentos que, perversamente, não deixam de recordar encenações festivas como a de Deeper and Deeper, em 1992) se apresenta tratado através de uma sequência de situações cronologicamente invertida, protagonizada pela própria Madonna. De acordo com uma regra de ouro da sua iconografia de obstinada Material Girl, ela duplica-se numa personagem que escreve a letra da própria canção, numa pontuação de crescente desencanto e desespero. Coincidência nada acidental: American Life e God Control foram ambos realizados por um velho aliado, o sueco Jonas Åkerlund.
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American Life existe em duas versões: a primeira, produzida antes do início da invasão do Iraque pela coligação liderada pelos EUA (20 Março 2003), surgiu já com essa invasão em marcha, de imediato suscitando acesas controvérsias. Poucos dias depois, a 1 de Abril, Madonna decidiu retirar o teledisco, divulgando uma declaração em que dizia, nomeadamente: "Decidi não difundir o meu video. Foi filmado antes da guerra começar e não creio que seja apropriado emiti-lo neste momento. Devido ao volátil estado do mundo, por manifestação de sensibilidade e respeito pelas forças armadas, que apoio e por quem rezo, não quero correr o risco de ofender quem quer que seja que possa interpretar erradamente o significado deste video."
A segunda montagem de American Life conserva a imagem introdutória de Madonna em uniforme militar, agora como "narradora" de todo o teledisco, apresentando como pano de fundo bandeiras de países de todo o mundo; começou a circular a 16 de Abril de 2003 — eis as duas versões.