O novo filme do cineasta palestiniano Elia Suleiman, It Must Be Heaven, é, de uma só vez, o mais cristalino dos objectos e o mais difícil de descrever. Porquê? Porque a sua linearidade — Suleiman encena-se a si próprio como um realizador que tenta concretizar um projecto sobre o seu país — nos envolve através de uma narrativa desconcertante em que tanto pode caber a alegria burlesca como a parábola política. Apetece dizer (para usarmos as palavras do protagonista de um outro exílio, o iraniano Jafar Panahi) que "isto não é um país". Ou ainda: trata-se de filmar a energia simbólica de um não-lugar através do insólito poder de reprodução dos meios cinematográficos — ou como a ideia de um país é também uma arte narrativa. Infelizmente, creio que o júri presidido por Alejandro González Iñárritu se equivocou ao atribuir a It Must Be Heaven uma "menção especial". Porquê? Porque inventar, literalmente, uma distinção que o palmarés não prevê (aliás, favorecendo uma lógica pueril de "diversificação" que o próprio festival há muitos anos tenta contrariar) é o mesmo que dizer que só é possível reconhecer o objecto em causa através de um não-prémio.