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1. Protagonistas da cena política e mensageiros do espaço mediático falam-nos do "espírito" de Abril. E com boas razões para o fazer — foi há 45 anos, a 25 de Abril de 1974, que o Movimento das Forças Armadas pôs fim a uma ditadura que estava a enviar os mais jovens (da minha geração) para a guerra.
2. Mas importa perceber em que contexto tal acontece. Os discursos daqueles protagonistas e mensageiros mantêm-se confinados a um voluntarismo de pueril utopismo, não revelando a mais simples disponibilidade para... olhar à sua volta.
3. Na verdade, mediaticamente e nos circuitos virtuais, a data surge polarizada em torno da estreia do filme Vingadores: Endgame, confirmando que a circulação de muitos valores dominantes no espaço cultural passou a ser gerida por entidades como a Marvel Pictures.
4. A nossa cultura democrática pode, e deve, exigir-nos que pensemos tal conjuntura a partir de toda uma complexa e, por vezes, perturbante dinâmica passado/presente (que, como é óbvio, nada tem a ver com a demonização de entidades como a Marvel).
5. Trata-se apenas de começar por reconhecer que o "espírito" de Abril não existe como uma espécie de milagroso "abre-te Sésamo", capaz de nos converter em emissários e agentes de uma pureza histórica que, como num filme de super-heróis, nos oferece as flores de um futuro radioso. De facto, neste tempo em que o "social" passou a ser uma questão de redes, a poesia não está na rua — e não creio que seja matéria dominante nos ecrãs de cinema.
MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA 1974 |