quinta-feira, janeiro 31, 2019

Joana Gama ou o elogio do classicismo

[FOTO: Estelle Valente]
* FUNDAÇÃO GULBENKIAN / Grande Auditório, 28 Janeiro

19:00
Federico Mompou
Música Callada
Joana Gama - Piano


21:30
at the still point of the turning world
Joana Gama e Luís Fernandes - Composição
José Alberto Gomes - Orquestração e Arranjos
Orquestra Metropolitana de Lisboa

Em nome da mais simples lógica académica, diríamos que os dois concertos de Joana Gama, no mesmo dia, na Gulbenkian, podem ilustrar uma exemplar dicotomia criativa: primeiro, a solo, a espiritualidade de Música Callada, do catalão Federico Mompou (1893-1987), uma preciosidade que não terá o conhecimento e reconhecimento que merece (em qualquer caso, falo por mim, antes do mais, siderado pela descoberta); depois, as atribulações formais, surpreendentes e hiper-controladas, de uma peça de inusitada agilidade e inteligência, at the still point of the turning world, composta e interpretada por Joana Gama e Luís Fernandes (disponível em CD), combinando o piano com derivações electrónicas, tudo devidamente enquadrado pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por José Alberto Gomes.
Em qualquer caso, não será adequado reduzir o fascínio de tudo isto às regras de tal dicotomia. O "clássico" por oposição ao "moderno", ou por ele complementado? Sim, certamente. Mas lembremos apenas uma velha lição da vida das formas (e não apenas na música). A saber: não é possível conceber, nem sequer descrever o classicismo, seja ele qual for, sem termos em conta o gosto experimental que o habita e, não poucas vezes, o cristaliza em obras intemporais.
Daí a vibração destes dois concertos, por assim dizer em diálogo um com o outro — ou como a música é também a arte de desafiar as linhas rectas do calendário artístico, desenhando novos e surpreendentes ziguezagues. Gerando novas narrativas. E apelando a renovadas formas de escuta.

>>> Video de apresentação de at the still point of the turning world.


>>> Site oficial de Joana Gama.