domingo, dezembro 16, 2018

Sondra Locke (1944 - 2018)

Talento subtil e enigmático do cinema americano dos anos 70, a actriz Sondra Locke faleceu em Los Angeles, no dia 4 de Novembro (o óbito só foi divulgado no dia 14), vítima de paragem cardíaca na sequência de um longo processo cancerígeno — contava 74 anos.
Sandra Louise Anderson adoptou o nome próprio Sondra por não gostar de ser conhecida pelo diminutivo 'Sandy'; os pais separaram-se antes do seu nascimento, sendo Locke o apelido do segundo marido da mãe. Estreou-se no cinema, de forma fulgurante, em The Heart Is a Lonely Hunter/Um Coração Solitário (1968), adaptação do romance de Carson McCullers com realização de Robert Ellis Miller — a sua interpretação valeu-lhe uma nomeação para o Oscar de melhor actriz secundária (nesse ano ganho por Ruth Gordon, em A Semente do Diabo).
Com o filme de terror Willard/A Mansão do Terror (1971), de Daniel Mann, obteve um grande sucesso comercial. Para o melhor e para o pior, a sua "imagem de marca" acabou por ficar associada à filmografia de Clint Eastwood, até porque a imprensa de escândalos de Hollywood explorou o facto de a sua ligação amorosa (1975-89) ter terminado de modo conflituoso. Com ele protagonizou vários títulos, incluindo o magnífico Bronco Billy (1980), momento de viragem na trajectória de Eastwood, assumindo uma visão cada vez mais crítica do imaginário do "western" que o tinha consagrado. Por quatro vezes (três em cinema, uma televisão) tentou a realização; nesse domínio, o seu trabalho mais conhecido é Ratboy - Perdido na Multidão (1986), história de um adolescente com severas deformações físicas em que assume também um dos papéis principais.
Em 1990, o facto de lhe ter sido detectado cancro da mama, tratado através de uma dupla mastectomia, passou a condicionar toda a sua vida privada e artística, surgindo em papéis secundários de apenas mais três filmes — o último foi Ray Meets Helen (2017), de Alan Rudolph. Em 1977, publicou a autobiografia The Good, the Bad, and the Very Ugly – A Hollywood Journey — a designação alude a The Good, the Bad and the Ugly (1966), título inglês de um dos "westerns" (entre nós: O Bom, o Mau e o Vilão) que Clint Eastwood interpretou sob a direcção de Sergio Leone.



>>> Obituário no New York Times.