sexta-feira, dezembro 28, 2018

Amos Oz (1939 - 2018)

[FOTO: Micha Bar-Am / Magnum]
Autor fundamental na literatura de Israel, defensor de uma solução de dois estados para o conflito israelo-palestiniano, Amos Oz faleceu no dia 28 de Dezembro, em Tel Aviv, vítima de cancro — contava 79 anos.
De seu nome Amos Klausner, toda a sua existência foi profundamente marcada pelo suicídio da mãe, quando ele tinha 12 anos. Dois anos mais tarde, passou a viver num kibbutz, o Hulda, tendo tido duas experiências militares decisivas na consolidação da sua visão política: em 1967, na Guerra dos Seis Dias, e em 1973, na Guerra do Yom Kippur, em 1973. Foi um dos fundadores da ONG 'Peace Now'. O seu livro mais famoso será Uma História de Amor e Trevas, romance autobiográfico publicado em 2002, treze anos mais tarde adaptado ao cinema, com Natalie Portman na dupla função de realizadora e actriz principal (no papel de Fania Klausner, mãe do escritor).
Entre os seus títulos mais conhecidos incluem-se ainda Meu Michael (1968), A Caixa Negra (1987), Cenas da Vida de Aldeia (2009), Judas (2014) e Caros Fanáticos - Fé, Fanatismo e Convivência no Século XXI (2017), este a sua mais recente reflexão sobre as convulsões da sociedade israelita e os cruzamentos religião/política (há poucas semanas editado no mercado português).
Terá sido com Judas, romance centrado num jovem que trabalha numa tese de doutoramente sobre Jesus, que recebeu mais distinções, incluindo o Prémio Stig Dagerman e o Prémio Tolstoi, atribuídos na Suécia e na Rússia, respectivamente — Judas surgiu também entre os finalistas do Man Booker Prize. Já tinha sido agraciado com o Prémio Goethe (2005) e o Prémio Príncipe das Astúrias (2007).

>>> — Nada se perde — disse ele [professor Samuel Hugo Bergman, no começo dos anos 60] num daqueles serões, e eu recordo-me tão bem que me parece que posso reproduzir aqui as suas palavras uma por uma —, nada se perde. Nunca. A própria palavra "perda" implica um universo finito do qual se pode sair. Mas na-da — (e acentuou intencionalmente a palavra nada) —, nada pode sair do universo. E entrar também não. Não se pode acrescentar nem tirar um único grão de pó. A matéria transforma-se em energia e a energia em matéria, os átomos agrupam-se e dispersam-se, tudo muda e se transforma, mas não é possível passar do ser ao nada. Nem sequer o pêlo mais pequeno da cauda de um vírus. O conceito de infinito é, portanto, completamente aberto, até ao infinito, mas simultaneamente protegido e hermeticamente fechado : nada sai nem entra.

in UMA HISTÓRIA DE AMOR E TREVAS
tradução de Lúcia Liba Mucznik
(Edições Asa, 2007)


>>> 'As raízes do fanatismo': entrevista conduzida por Yves Bossart, para a SRF (rádio e televisão da Suíça).


>>> Entrevista conduzida por João Céu e Silva, em 2016, a propósito do romance Judas (Diário de Notícias).
>>> Trailer do filme Uma História de Amor e Trevas.