As comemorações dos 50 anos de “2001: Odisseia no Espaço” ainda não terminaram — agora, a obra-prima de Stanley Kubrick surge em edição Blu-ray, com três discos, incluindo uma versão com definição 4K.
Na lista de efemérides cinematográficas de 2018, o cinquentenário de 2001: Odisseia no Espaço terá sido um dos momentos mais emblemáticos. E não só porque a obra-prima de Stanley Kubrick (1928-1999) superou, e continua a superar, os padrões correntes da ficção científica. Na verdade, este é um filme que exponencia o valor espectacular do cinema, desafiando o seu espectador para além dos padrões correntes de percepção e pensamento.
Escusado será lembrar que 2001 foi concebido para ser visto num ecrã gigante (quem tem a memória da sua estreia, não poderá deixar de o associar à grandeza das salas com projecção de 70mm). Seja como for, isso não nos deve impedir de reconhecer que os formatos caseiros nos estão a oferecer edições cada vez mais sofisticadas para acedermos aos grandes clássicos. Pois bem, aí está a novíssima proposta com chancela Warner Bros.: 2001 passou a existir numa edição em Blu-ray, com três discos, um dos quais com o filme restaurado em versão com definição 4K.
A versão em 4K ficará para a história, por certo, como um objecto pioneiro na divulgação de um formato que, de acordo com os especialistas, não demorará muitos anos a generalizar-se nas (nossas) formas de consumo. Para além da transcrição normal do filme em Blu-ray (“restaurado e remisturado em 5.1”), o terceiro disco da edição contém várias curtas-metragens (cerca de três horas no total) de preciosos extras.
Em boa verdade, não são revelações, tendo integrado já outras edições em DVD ou Blu-ray. Ainda assim, a sua reunião permite compreender melhor a absoluta singularidade de 2001 quando surgiu no ano de 1968.
A invenção e ousadia dos efeitos especiais constituem, como é óbvio, os sinais mais imediatos dessa singularidade — por alguma razão, os profissionais reconhecem que, no campo da evolução técnica, os dois momentos marcantes da década de 60 são Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock (sobretudo pela integração de sons gerados por processos electrónicos), e 2001. Mas para além das proezas técnicas o filme de Kubrick acaba por ser um exercício de reflexão sobre a própria aliança entre o Homem e a Máquina — com a inesquecível e temível personagem do computador HAL 9000 —, tema que, na perspectiva de Kubrick, instala a hipótese de formulação de um conceito de divindade.
O destaque vai necessariamente para 2001: A Criação de um Mito, documentário do Channel 4 produzido, precisamente, no ano a que o título se refere. Nele encontramos ainda o escritor Arthur C. Clarke (falecido em 2008), comentando em tom de contagiante ironia a sua colaboração com Kubrick na elaboração do argumento, a par do actor Keir Dullea e várias personalidades fundamentais da ficha técnica do filme, incluindo Douglas Trumbull (efeitos especiais) e Ray Lovejoy (montagem). Atenção ainda a um filmezinho breve, mas muito sugestivo, sobre os primórdios de Kubrick como fotógrafo e a sua colaboração com a revista Look.
Stanley Kubrick como fotógrafo da Look |