terça-feira, setembro 11, 2018

Dudamel & Schultz

Gustavo Dudamel
[Foto: Mark Hanauer]
Mahler Chamber Orchestra
Gustavo Dudamel Maestro
Golda Schultz Soprano

Franz Schubert

Sinfonia n.º 3, em Ré maior, D. 200

Gustav Mahler
Sinfonia n.º 4, em Sol maior

* Sexta, 7 setembro 2018 (20h00)

Noite de glória musical, na sexta-feira, dia 7, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. Pelo reencontro com Gustavo Dudamel? Sem dúvida. O actual director da Los Angeles Philarmonic será uma star — e muito merecidamente. Mas não tem pose de vedeta, e não apenas no sentido mais imediato ou imediatista. Escutar a música que ele nos traz, neste caso com a Mahler Chamber Orchestra (fundada por Claudio Abbado em 1997), envolve sempre algo de primordial e revelador: estamos, de facto, a assistir a um singularíssimo processo de descoberta ou redescoberta das obras que nos apresenta.
E não deixa de ser curioso voltar a referir o facto de Dudamel dispensar a pauta enquanto maestro. Não porque se trate de uma qualquer ostentação de "virtuosismo"... Nada disso: ele coloca-se na posição do primeiro espectador, o primeiro a procurar escutar na orquestra algo que se enraíza numa paisagem única, algures entre a sua memória das notas e os desejos originais do compositor.
Golda Schultz
Neste caso, como Rui Cabral Lopes refere no programa de sala do concerto, tratava-se de apresentar duas obras, separadas por 85 anos, mas ligadas por um "elo inequívoco", através do "mesmo núcleo instrumental de madeiras, metais e cordas". Dir-se-ia que as ousadias de Schubert, como pioneiro do romantismo, são revistas, decompostas e recompostas, eventualmente pulverizadas, pelo labor de Mahler — hipótese a considerar: o belíssimo 3º andamento desta Sinfonia nº 4 de Mahler [Ruhevoll (Tranquilo)] talvez possa figurar entre as peças que, simbolicamente, desenham uma fronteira conceptual entre os séculos XIX e XX, no limite, anulando-a.
Seja como for, importa não esquecer a genuína revelação que foi (para os espectadores portugueses) a presença de Golda Schultz, soprano sul-africana: a sua interpretação de 'Das himmlische Leben', no 4º andamento [Sehr behaglich (Muito agradável)], foi um pequeno prodígio de subtileza e emoções, expondo o misto de carnalidade e abstracção que habita a pulsão transcendental do universo mahleriano.
Como exemplo dos requintados dotes de Schultz, ei-la, com a Münchner Rundfunkorchester, dirigida por Ivan Repušic, interpretando uma ária (Chi il bel sogno di Doretta), da ópera La Rondine, de Giacomo Puccini.