Nascida no Japão, em 1990, filha de pai americano e mãe japonesa, a americana Mitski vive, por certo, no cruzamento de muitas influências e inspirações. Apesar disso, ou através disso, o seu trabalho exibe uma desconcertante transparência tecida de fascinantes paradoxos — nas suas canções, o gesto aparentemente mais simples pode ser também o mais experimental.
Depois de dois álbuns auto-produzidos, já nos tinha presenteado com os magníficos Bury Me at Makeout Creek (2014) e Puberty 2 (2016). Agora, com Be the Cowboy, dir-se-ia que Mitski consegue consumar a quadratura do círculo: organizar uma antologia coerente de 14 canções em que, através de um pudico confessionalismo, sentimos que cada tema constitui, em si mesmo, uma experiência singular de risco e consequência. No limite, desafiando o desejo de dizer "eu", como se prova pelo teledisco de Nobody — eis um belo cartão de apresentação para aquele que ficará, por certo, como um dos melhores discos do ano.