Foto: JL |
1. Bem sabemos que um dos desportos culturais de maior sucesso em Portugal é o ódio aos intelectuais — estar contra os intelectuais é mesmo uma ideologia poderosíssima. Entenda-se: não é apenas uma questão fulanizada, já que através dos ataques pessoais aquilo que se visa é a própria existência de uma determinada vida intelectual.
2. Insisto: uma determinada vida intelectual. De facto, há uma outra vida intelectual que se tornou dominante. Chama-se futebol e surge todos os dias enquadrada por um avassalador aparato intelectual — desde os milhões que ganha Cristiano Ronaldo até ao sistema de dois ou três centrais, tudo é tratado como sendo imbuído de uma transcendência unilateral, unívoca e inquestionável.
3. Daí que não se possa considerar uma surpresa a exploração de um lema (?) como aquele que esta fotografia testemunha. Transformar o conceito de "rebeldia intelectual" em expressão de sustentação de uma hipótese de guarda-roupa não passa de um sintoma pontual de um estado de coisas muito mais geral — em boa verdade, reduz-se o trabalho intelectual a uma pose que, literal e simbolicamente, permite fazer montra.