Através da série Mosaic, de Steven Soderbergh, Sharon Stone reaparece na linha da frente do audiovisual — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Fevereiro), com o título 'Renasceu uma estrela'.
Sharon Stone é uma sobrevivente. Em Hollywood, entenda-se, no interior daquilo que, desde a idade de ouro do cinema clássico americano, nos habituámos a designar por “star system”. Tal como Tom Cruise entre os homens, ela continua a ser uma estrela que não simboliza mais nada a não ser o próprio cinema e o seu fascínio. E convenhamos que tais estrelas são uma raça em extinção.
Pensando em Gal Gadot, por exemplo, não será também uma estrela de cinema? Não conseguiu ela, em 2017, graças ao impacto de Wonder Woman, triunfar numa zona de espectáculo (as aventuras de super-heróis), tradicionalmente dominada pelo género masculino? Sim, sem dúvida, daí que Gadot seja, muito justamente, uma das estrelas do momento. Mas será que ainda é uma estrela... de cinema?
Ou apenas o símbolo de um combate que passa pelos filmes mas que, em boa verdade, os transcende?
Ou apenas o símbolo de um combate que passa pelos filmes mas que, em boa verdade, os transcende?
A trajectória de Stone está toda ela marcada pelo impacto de Instinto Fatal (1992), um objecto capaz de relançar a velha máxima de Hollywood: “Nasceu uma estrela”. E convenhamos que não é fácil sobreviver à pressão, de uma só vez industrial e mediática, para “reproduzir” a imagem aí definida.
Encontramos na filmografia de Stone de tudo ou pouco, desde os filmes banalmente “instrumentais” da sua fama até experiências de genuíno fulgor criativo, sendo inevitável destacar o prodigioso Casino (1995), de Martin Scorsese. A sua participação em Mosaico, de Steven Soderbergh, é mais uma dessas experiências, não por acaso sob o olhar de um cineasta que gosta de experimentar as novidades tecnológicas, mas que nunca secundarizou o trabalho dos (e com os) actores. Mais do que isso: Soderbergh é dos que, mesmo quando se move num contexto televisivo, não abdica de trabalhar o cinema como uma linguagem específica, enraizada num património de mais de cem anos. Aguarda-se, por isso, com especial expectativa a sua nova realização, protagonizada por Claire Foy: chama-se Unsane, anuncia-se como um “thriller” e foi rodado com um iPhone.