>>> Importa desconfiar das ideologias que procuram modelos naturais. Na década de 1970, a sociobiologia quis encontrar na selecção natural uma moral de tipo competitivo que permitia justificar a ordem neo-liberal que então se estava a instalar. Hoje em dia, procura-se na natureza uma moral inversa que privilegia a empatia e a solidariedade. Mas é obrigar a natureza a dizer o que ela nunca disse. O natural não é forçosamente o desejável. Não é porque as mulheres dêem à luz na dor que isso é bom. Como dizia Hume, daquilo que "é" não podemos deduzir o que "deve ser". É importante conhecer o que há de natural em nós, mas a partir daí devemos construir-nos politicamente e institucionalmente. A especificidade do homem é de decidir o que quer ser — e ele nunca encontrará um modelo absoluto nos grandes macacos, nem tão pouco nas árvores. Os chimpanzés cooperam ou podem dar provas de empatia, eis uma constatação simpática, mas isso não é uma razão para pensar que as morais humanas se reduzem todas à empatia. Por isso, sem dúvida, é importante desconstruir as evidências que foram erradamente atribuídas à natureza. Mas não para as substituir por outras.
'La Nature a-t-elle toujours raison?', entrevista de Éric Aeschimann
in L'Obs (09-12-2017)